Encontrar um boleto na rua acompanhado do dinheiro para o pagamento pode colocar o ser humano diante de um dilema: o que fazer com a conta e o valor perdidos pelo caminho? Bom, o mais óbvio e correto seria buscar o dono para devolver ou simplesmente pagar a pendência financeira. 

Para o taxista Valdinei Souza, mais conhecido como Nei, não houve dúvida: o aquidauanense de 35 anos passou por essa exata situação no dia 23 de agosto. Assim que avistou as notas de R$20 e R$50 e o talão no valor de R$58,22, imediatamente resgatou o boleto, foi até a lotérica de Anastácio, em , e quitou a conta em nome de João Vicente Alves Ferreira.

“Eu tava retornando de uma corrida num bairro aí eu avistei o dinheiro numa rua de terra e ao lado, praticamente, estava a conta. Peguei, desci até a lotérica e paguei”, conta ele ao Jornal Midiamax.

Antes de efetuar o pagamento, Nei decidiu compartilhar nas redes sociais o boleto encontrado para avisar e tranquilizar o dono de que ele seria pago com o dinheiro que estava enrolado junto. “Eu achei o talão por volta de 13h30, logo fui na lotérica e paguei. Daí eu fui na rua identificada na conta, só que não tinha número. Encontrei um senhor, pensei que era ele e perguntei se ele chamava João Vicente, mas ele disse que não era”, relata.

Valdinei então foi procurando, mas como o boleto só informava o nome da via sem constar o número da residência, o taxista passou do local e logo precisou fazer uma viagem sentido à Corumbá. Antes de sair, publicou a informação no Facebook para avisar.

“Olá, senhor João Vicente, eu encontrei essa mas não se preocupe, vou pagar ela. O senhor pode passar e pegar o restante do troco no ponto de táxi aqui na rodoviária de Anastácio”, escreveu na legenda. Nei deixou seus contatos e pediu para os amigos no Facebook darem “up”, tentando fazer a informação chegar até o dono.

Conta de energia foi paga e devolvida com o troco à família (Foto: Reprodução, Facebook)

Em poucas horas, a mulher que havia perdido o talão entrou em contato pelo número que ele disponibilizou no post. Nei, então, foi até a casa, entregou o troco de R$11,75 e o comprovante de pagamento. A família o agradeceu pela boa ação sem maiores interesses e ficou um tempo conversando com o taxista.

A repercussão da atitude rendeu a ele muitos elogios pela honestidade e pelo empenho em devolver o dinheiro do troco com o boleto quitado. “O mundo precisa de pessoas com esse exemplo”, “Deus vai te dar o dobro, continue assim”, “Linda atitude”, “Ainda existem pessoas assim” e “Moço, você é demais, o universo sempre o ajudará, acredite”, foram alguns dos comentários aclamando a ação.

O fato de nem todo mundo ser tão honesto a ponto de pagar um talão achado na rua com dinheiro e ainda buscar os donos para entregar o troco impressionou quem não está acostumado a lidar ou presenciar gente fazendo o bem. O ato de Nei foi parar até na televisão.

Trabalho de frete ajuda a complementar a renda (Foto: Arquivo Pessoal)

“Eu creio que a gente tem que fazer para o próximo o que a gente quer que façam para a gente, né? Se você perder um celular ou uma carteira, eu creio que você gostaria muito que alguém achasse e devolvesse pra você da mesma forma que você perdeu, né? A gente tem que fazer o bem para receber o bem”, acredita ele.

Nascido em Aquidauana, mas morador da cidade-irmã Anastácio, Valdinei vive com a esposa e um cachorro no bairro Cristo Rei. Para o casal, que não tem filhos, Thor, de 1 ano, é como se fosse um. “Graças a Deus eu sempre trabalhei para conquistar minhas coisas. Das coisas dos outros a gente não pode se beneficiar não. Fui criado com muita educação pelos meus pais, na humildade, sempre falando pra gente não pegar o que é do próximo”, diz o taxista ao MidiaMAIS.

Valdinei e sua esposa Larissa (Foto: Arquivo Pessoal)

Quanto à repercussão, Nei revela ter ficado muito feliz. “Teve um cara lá que, eu acho que ele tava de mau no dia, e comentou que eu tava fazendo aquilo pra me aparecer e aparecer na mídia. Em 35 anos eu nunca quis aparecer, por que eu vou aparecer agora? Só ele mesmo que fez um comentário que não me agradou muito”, conta.

Taxista desde 2016, Nei realiza viagens intermunicipais por Mato Grosso do Sul e nas cidades de Anastácio e Aquidauana. À reportagem, ele afirma que o trabalho é bom. “Só um pouco agora que, com essa pandemia, deu uma parada, e esses aplicativos deram uma atrapalhada na gente, mas Deus abre as portas pra todo mundo. A gente vai se virando, dá pra comer e pagar as contas”, finaliza.

Nei não reclama do trabalho e vive uma vida simples e modesta ao lado da esposa (Foto: Arquivo Pessoal)