Quarta geração do circo, Wagner sonha em reabrir as tendas para o público de Campo Grande
Nascido e crescido em uma família de artistas circenses, agora Wagner passa o legado para os filhos na Capital
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Você já imaginou como seria crescer dentro do circo? Acordar cedo para ensaiar, viver ao lado de vários artistas que fazem coisas incríveis e inimagináveis todos os dias, morar em trailers, construir vínculos com as estradas e encantar várias pessoas com espetáculos dentro de um universo mágico criado por acrobacias, shows, palhaçadas e ilusionismos? Essa sempre foi a vida de Wagner Aparecido Perez, de 44 anos. Quarta geração da família que trabalha com circo, ele está há 40 anos levando alegria ao público.
No entanto, desde que a pandemia da Covid-19 chegou a Campo Grande e as apresentações foram suspensas, o que resta de consolo são as memórias guardadas no coração dos anos dourados em que o circo estava disponível para ser o refúgio da realidade de muitas pessoas. Longe dos palcos há mais de um ano, o maior sonho de Wagner é poder reabrir as tendas para voltar a deslumbrar o público na Capital.
Enquanto isso ainda não é possível, a gente traz a história dele aqui no Midiamax para continuar encantando as pessoas com a magia do circo, mas de uma maneira diferente.
Quarta geração do circo
Wagner recebeu a equipe de reportagem no local onde o circo está instalado, em um terreno no bairro Itamaracá. Com os toldos, materiais e equipamentos desmontados no chão, o espaço revelava uma esperança de retorno às atividades. Para conversar com a gente, o circense nos acolheu em seu trailer, onde ele mora com a esposa e os cinco filhos.
Com os olhos brilhantes e feições marcadas pelo trabalho debaixo do sol, ele contava orgulhosamente sobre a vida construída dentro do circo. Tudo começou pelo seu bisavô, que deu início aos trabalhos circenses como o Mágico Liochan. A tradição foi passada de geração em geração até chegar aos pais de Wagner, Paulo Vitor Perez e Sueli de Campos.
“Eles adquiriram o circo deles aqui em Campo Grande, na época no bairro Guanandi. Eles estrearam o circo lá no primeiro bairro deles. Eu nasci na Vila Margarida, numa barraca de circo. Desde então, nasci e me criei no circo, sempre aqui em Campo Grande ou no interior do Estado”, recorda Wagner, compondo a 4ª geração da família que trabalha com as apresentações circenses ao lado do irmão.
O pequeno circo da família se chamava ‘Real Pantanal’ e foi comandado pelos irmãos Perez por muitos anos, até que o pai deles faleceu. Os irmãos, então, decidiram criar os próprios circos separadamente. Assim nasceu o Top Circo e, posteriormente, New York Cirkus, de Wagner.
Infância no circo – uma eterna brincadeira
Como a gente falou lá em cima, Wagner nasceu em uma barraca de circo, logo seu destino foi traçado com a mesma missão. A sua primeira função foi de palhaço no circo dos pais.
“Um dia eles [os pais] estavam se apresentando, daí eu acordei, vi aquelas pinturas em cima da mesa e lambrequei toda a minha cara. Quando eles viram, eu estava lá dentro do circo com a cara toda lambuzada”. Foi então que ele deu vida ao Palhaço Caroço, com apenas 4 anos.
O personagem fez tanto sucesso que logo ganhou um número diário nas apresentações. Nessas horas, Wagner tinha a liberdade de fazer o que quisesse. Sem ensaios, regras ou limitações, era tudo muito espontâneo. O público, claro, adorava.
“Pra mim, foi a melhor infância que existe porque você estando dentro do circo automaticamente você está trabalhando e se divertindo”, afirma Wagner, feliz recordando os velhos tempos em que ainda era o Palhaço Caroço. Agora que trabalha na gerência do negócio, ele deixa o legado para os cinco filhos:
1 – Arthur: 13 anos, é o Palhaço Bolachinha;
2 – Manuela: 9 anos, faz contorção e apresentação com bambolê;
3 – Isabel: 7 anos, assistente nos malabares, de artista e também faz a palhaça Moranguinho;
4 – Sofia: 3 anos, é livre e faz arte;
5 – Heitor: 1 ano e meio, é o palhaço Gostosinho.
Como não poderia ser diferente, Wagner também conheceu a esposa por causa do circo em uma das apresentações, há 14 anos. Ela estava lá como espectadora e ambos se apaixonaram. Depois do casamento, ela entrou para o negócio da família.
“Eu quero criar os meus filhos nesse ritmo porque está sempre com a família, pai e mãe nunca vão estar ausentes porque é uma profissão que 24h está junto. Então, essa alegria de ter sido criado dentro do circo eu tenho, porque eu cresci junto com meu pai e com a minha mãe, nunca me vi sozinho. Eu não queria que essa tradição acabasse”, afirma Wagner.
O pequeno trailer onde fizemos a entrevista também guarda várias histórias. Apesar deles terem uma casa na região, é no motorhome onde se sentem mais conectados com a rotina circense.
“A vida é essa: enjoou do trailer, vai para a casa. Enjoou de casa, vai para o trailer. O trailer eu acho até mais gostoso do que em casa. Fica a família toda, tem beliche, tem quarto, banheiro, cozinha. É muito bacana e gostoso”.
Dificuldades na pandemia
Desde o início da pandemia, os irmãos decidiram reunir os dois circos para pagar as despesas sem as apresentações. Agora, as 14 pessoas moram juntas no mesmo terreno.
“Devido à pandemia, a gente decidiu se juntar, ficar todo mundo num canto só e esperando agora essa loucura toda acabar pra gente voltar com o circo. Mas a volta do circo está muito difícil, já está liberado tudo, mas nós não temos condições de montar o circo. Nós tivemos que desfazer de muita coisa, muita coisa estragou, ressecou e muitas outras foram furtadas. Então, mesmo que a gente queira montar o circo, não dá”, lamentou Wagner.
Para conseguir pagar as contas, eles estão vendendo algodão-doce, pipoca doce e maçã do amor — comidas típicas de circo — todos os dias nas ruas. A renda das vendas foi o que conseguiu sustentar as famílias até hoje. Recentemente, ambos foram contratados para se apresentar no Domingo em Família, evento de Campo Grande.
Mesmo assim, Wagner anseia por um projeto para conseguir verba e ter condições de montar o circo e trazer público novamente. “Se a gente não conseguir aprovar, infelizmente vai ser uma tradição que vai se acabar”.
Expectativa da retomada do circo
Após os períodos turbulentos ocasionados pela pandemia, a família Perez está com dificuldades financeiras para retomar o circo por conta própria. A expectativa é que eles sejam contemplados por algum projeto para receber auxílio.
“Vontade a gente tem demais. Se fosse pela vontade, hoje mesmo a gente já estava montando o circo, mas que nem diz aquele ditado: ‘querer não é poder’. Então, a gente realmente depende de um projeto. Se a gente conseguir um projeto, a gente volta. Sem projeto não tem como voltar, daí a gente tem que procurar outra forma de viver”, disse Wagner.
Ao todo, o espetáculo tem uma hora e meia de duração e conta com: globo da morte, trapezista, malabarista, apresentação em tecido, liras, táxi maluco, palhaços e personagens, como Peppa Pig, Galinha Pintadinha, Baby Shark e Transformers.
Apesar dos ensaios terem continuado, Wagner Perez afirma que toda a família sente muita falta do ritmo de shows. Enquanto as tendas estão fechadas e os holofotes apagados, o que resta é ter esperança de encantar as pessoas novamente fazendo, acima de tudo, arte. “A maior mágica que o circo proporciona para as pessoas é aquela maravilha de luzes, sons e espetáculos”.
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