Que coxinha que nada… na fronteira é o lambreado o queridinho dos murtinhenses. Servido do café da manhã ao jantar e acompanhado de mandioca, o salgado é uma baita refeição. Feito aos moldes de um bife à milanesa tradicional, porém, acrescido de leite na massa, as salgadeiras ainda falam que “o toque diferenciado é a maneira de fritar”. 

“Faço lambreado há 30 anos e criei os meus filhos fazendo esse salgado, principalmente quando o pai deles faleceu. Antes, levantava 2 horas da manhã aos finais de semana. Depois passou a 3, principalmente nos dias de pagamento em que eu comprava bastante coxão mole. Dava mais ou menos uns 120 salgados, fora os outros que tinha que ter na estufa, como enroladinho e o pastel, por exemplo”, comentou a empresária Ramona Benitez, de 59 anos.

Nas estufas das lanchonetes em Porto Murtinho, município que fica na fronteira do Brasil com o Paraguai, o lambreado tem uma prateleira só para ele. Alguns clientes pedem com mandioca, outros escolhem acompanhamentos como um ovo frito ou então vinagrete. 

“Nós trabalhávamos em uma feira aqui da cidade e o lambreado sempre teve destaque especial. É o que mais vende, não adianta, é tradição aqui. Quando os turistas provam, sempre falam que é um sabor diferente, que não encontra igual em outras cidades”, falou D. Ramona. 

É um lanchão ajeitado, diz doméstica

A empregada doméstica Gênesis Batista da Silva, de 43 anos, disse que “vira e mexe” compra um lambreado para saborear e é sempre muito bom. Natural de Campo Grande, ela disse que provou a iguaria ao chegar à cidade e ouvir muitos elogios. 

Gênesis diz que lambreado é um “lanchão ajeitado”
Crédito da foto: Marcos Ermínio

“A gente até brinca por aqui e fala que não é um salgado, mas, sim um lanchão ajeitado. O pessoal costuma muito comer depois de ir nas festas, já ao amanhecer. Meu pai quando vem aqui sempre pede para comer”, disse. 

O jornalista João Victor, de 22 anos, foi criado em Porto Murtinho, onde viveu toda a infância e a adolescência — nos moldes murtinhenses, abraçando toda a cultura.

“O lambreado não é uma comida. É uma experiência. Quem não conhece acha que vai provar simplesmente mais um bife encapado, só que não. A massa é especial, é diferente e muito própria da culinária da região. Não é todo mundo que sabe fazer, então, você tem que buscar o lugar certo ou a pessoa certa. Não conheço uma pessoa que tenha vindo de fora, que é de outro lugar, foi parar em Porto Murtinho de alguma forma, e não gostou de lambreado. É praticamente obrigatório ir pra lá e comer esse prato, não tem quem não faça isso”, garantiu.

A vendedora Evelinda Mendes, de 58 anos, ressalta que não é habituada a comer salgados, porém, abre exceções para o lambreado. “Eu gosto de vez em quando de comer. Moro ao lado de uma lanchonete também, vejo pessoas comprando ele o tempo todo e acho que por isso enjoei. Mas, tem horas que nem eu resisto e também saboreio um lambreado”, brincou. 

Sobre a culinária fronteiriça, o Jornal Midiamax apurou que os murtinhenses também gostam muito da sopa paraguaia, chipa, vori vori, prato tradicional da culinária do Paraguai, que é uma espécie de sopa com farinha de milho, carne de frango ou carne bovina, além do locro, um ensopado à base de abóbora, feijão e milho, muito consumido na região da Cordilheira dos Andes, da Argentina até o sul da Colombia, passando pelo Equador, Peru e Bolívia.

Lambreado possui lugar especial nas estufas e é o queridinho dos murtinhenses. Foto: Marcos Ermínio/Jornal Midiamax

 

Receita do lambreado:

Escolha uma quantidade de bife que queira, de preferência o coxão mole. Para temperar, pode usar limão, vinagre, cominho, sal e a pimenta-do-reino. Use os ingredientes ao seu gosto e vá misturando no bife em uma vasilha. Neste momento, uma dica de quem prepara o alimento há bastante tempo é temperar um dia antes. 

No caso da massa, é necessário usar três ovos, cerca de 800 gramas de trigo, leite e sal. Primeiro coloque os ovos, mexa para desmanchar e em seguida acrescente o leite. É bom despejar pitadas de sal somente após o trigo, quando ele estiver bem derretido e se tornar uma massa. 

Neste momento, mexa bastante. Quem quiser e achar mais prático, pode usar a batedeira. E como vou saber que a massa está boa? Uma dica é encostar um garfo e verificar se a massa escorre pelo vão. Os cozinheiros dizem sempre que a massa precisa ser leve por conta da fritura. 

Pegue o bife, passe rapidamente no trigo e depois na massa. Logo depois, leve para a fritadeira aderente. Monte o prato, com acompanhamentos como salada, mandioca. No caso do “murtinhense raiz”, sempre vai um coquito junto. Bom apetite!!!