Jaime Lerner, ex-governador do Paraná, morreu nesta quinta-feira (27) aos 83 anos. Arquiteto de formação, ele foi três vezes prefeito de e ficou internacionalmente conhecido pela implementação do sistema integrado de transporte público da capital paranaense, na década de 1970. Além disso, ele também foi responsável por projetar a célebre rua Barão do Rio Branco, em Campo Grande.

De acordo com as informações oficiais, ele estava internado desde o dia 21 de maio no Hospital Universitário Evangélico Mackenzie, em Curitiba, após apresentar um quadro de febre. Segundo hospital, morte se deu por complicações de doença renal crônica. Jaime Lerner construiu um legado e tornou seu nome conhecido no Brasil pela ampla atuação em Curitiba, mas poucos sabem que ele tem um papel fundamental na história da capital sul-mato-grossense.

[Colocar ALT]
Barão do Rio Branco já recebeu intervenção aos moldes da (Foto: Arquivo do IHGMS)

O arquiteto assinou o projeto da rua Barão do Rio Branco em 1979 como parte de uma série de intervenções que dariam a Campo Grande a ‘cara de capital' que faltava na criação do estado de Mato Grosso do Sul, em 1977. O trecho acima da Afonso Pena foi pensado, inicialmente, para ser o primeiro corredor cultural e comercial de Campo Grande, título que foi destinado à 14 de Julho posteriormente. Não é à toa que local conta com calçadas mais largas e foi conhecido por muito tempo como ‘Calçadão'.

Diferentemente de suas vizinhas, a Barão é a única rua do perímetro central histórico que tem o mesmo nome desde sua projeção, em 1909, segundo apontou o escritor Paulo Coelho Machado no livro ‘Pelas Ruas de Campo Grande'.

“Nos anos 90, mesmo, ir ao Calçadão da Rua Barão era um passeio de família. Eu juntava as crianças e a gente ia para lá. Tinha dança, música, teatro, capoeira, tudo no calçadão”, contou a historiadora Maria Madalena Dib Mereb Greco, do IHGMS (Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul), durante entrevista do Midiamax em 2018.

A Barão do Rio Branco carrega tanto prestígio para a história da Capital, que três ex-governadores do Mato Grosso “uno” e um atual de MS tiveram moradia na via: Nicolau Fragelli, Fernando Correia da Costa, Arnaldo Estevão de Figueiredo e Wilson Barbosa Martins. Era um lugar chique de se morar, por assim dizer. Com o passar dos anos, o perfil residencial mudou muito na região.

Escadaria que existia na rua foi demolida em revitalização
ocorrida em 1999 (Acervo Arca)

 

Fatos históricos marcantes

Com muita simplicidade, o Bar do Zé era ponto de encontro de fazendeiros e políticos, justamente por estar nesse corredor. Foi em frente a esse bar, inclusive, que ocorreu um episódio tenso da história da rua quando, em novembro de 2005, o ambientalista Francisco Ancelmo de Barros, mais conhecido como Francelmo, ateou fogo no próprio corpo para denunciar crimes ambientais na região do Pantanal.

Em homenagem ao ambientalista, o local ganhou um pequeno memorial criado pelo arquiteto Gil Carlos de Camillo, com uma maquete do Pantana. Portanto, a Barão do Rio Branco foi e continua sendo palco para diversos momentos importantes da história campo-grandense.

Foto antiga do memorial em homenagem a Francelmo (Reprodução/PMCG)

 

Jaime Lerner

Jaime Lerner nasceu em 17 de dezembro de 1937, em Curitiba. Foi prefeito da cidade em três mandatos, de 1971 a 1974, de 1979 a 1983 e de 1989 a 1992, e governador do Paraná por duas vezes, de 1995 a 1998 e 1999 a 2002.

Lerner formou-se em arquitetura em 1964 pela Federal do Paraná (UFPR) e trabalhou no Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) desde a criação, em 1965.

Em 2002, foi eleito presidente da União Internacional de Arquitetos (UIA). Ele também foi fundador do Instituto Jaime Lerner, entidade sem fins lucrativos.

Durante a vida, o político casou-se com Fani Lerner e teve duas filhas: Andrea e Ilana. A esposa morreu em maio de 2009, aos 63 anos.

Em outubro de 2020, Jaime Lerner foi internado depois de passar por uma cirurgia de apendicite.

Em março deste ano, ele testou positivo para o novo coronavírus. À época, Lerner já havia tomado as duas doses da vacina, contudo ainda não estava no período de imunidade. Conforme as informações do G1 Paraná, Lerner fazia hemodiálise havia algum tempo e foi hospitalizado, de acordo com o ex-chefe de gabinete do político, Gerson Guelmann.

O velório vai ser na capela do Cemitério Israelita do Água Verde, em Curitiba. O sepultamento está previsto para 15h (14h em MS) desta quinta-feira no Cemitério Israelita do Santa Cândida. Velório e sepultamento serão restritos, pelas medidas de isolamento.

Jaime Lener é um dos grandes nomes da arquitetura brasileira e mundial (Foto: Reprodução/Gazeta do Povo)