Celebrando suas conquistas nas Paralimpíadas de Tóquio, o paratleta campo-grandense Yeltsin Jacques desembarcou na Capital de MS nesta terça-feira (7) e foi recebido calorosamente por fãs, amigos e familiares, além da apresentação da banda do Corpo de Bombeiros. Tudo em sua homenagem.

Em entrevista ao Jornal Midiamax, pouco antes do início da carreata no Horto Florestal, em comemoração às medalhas de ouro, o meio-fundista falou sobre sua volta a Campo Grande, terra onde nasceu, cresceu e vive até hoje. “Foi espetacular, a recepção desde ontem no aeroporto tem sido fantástica”, pontuou ele.

A esposa de Yeltsin, Janayna Yankha, o próprio paratleta, e um bombeiro na manhã desta quarta, antes do início da carreata (Foto: Marcos Ermínio)

“A sensação é de dever cumprido. Foram mais de 5 anos de trabalho intenso focado nessa prova, em específico. A gente manteve o foco, o nível de competição. Ganhamos a primeira prova, não deixamos a peteca cair. Duas das 22 medalhas de ouro do Brasil estão em MS. Eu quero somar para a juventude de ”, declarou Yeltsin ao MidiaMAIS.

Segundo o paratleta, o foco agora é o campeonato mundial. “Trazer mais dois ouros para o Brasil, quem sabe três. Campeonato mundial, Parapan-Americano em Santiago, em 2023, e as Paralimpíadas de Paris, né, em 2024. Quinze dias de descanso e três anos de trabalho. Vamos manter o mesmo foco, o mesmo padrão de treinamento”, contou.

Yeltsin, a esposa e o pai, José Roberto (Foto: Marcos Ermínio)

Orgulhoso, o pai de Yeltsin, José Roberto Jacques, revelou qual o momento mais emocionante na participação do filho em Tóquio. “Sentimento é de felicidade, ele lutou muito, sempre gostou de esporte. Já conquistou 31 vitórias ao longo da trajetória dele. O momento mais emocionante foi na prova, quando houve a narração da vitória. Sinceramente, eu posso dizer pra você que chorei nesse dia”, declarou.

Hoje, de acordo com José, Yeltsin só tem apoio do bolsa atleta em MS. “Nosso objetivo é trazer apoio para o esporte, não só para ele, mas para todos os outros atletas que necessitam disso. O estado de Mato Grosso do Sul é carente em apoio ao esporte. As grandes empresas, infelizmente, não investem como em outras cidades e estados”, lamentou.

Patrícia, a madrasta, e um irmão do paratleta (Foto: Marcos Ermínio)

A madrasta estava aguardando a chegada de Yeltsin no Horto e diz que o considera como filho. “Ele sempre teve muita fé, nunca desistiu. Desde sempre foi incentivado no esporte. Tinha preocupação, mas a limitação dele nunca o impediu de treinar e se dedicar”, comentou Patrícia Neves, esposa do pai do paratleta, ao Jornal Midiamax.

Responsável pela primeira lei para jornada especial de mães de filhos com deficiência, aqui em Campo Grande, Juliane Ortega, mãe de Yeltsin, foi pioneira e a lei acabou se tornando nacional. Com essa jornada especial, Juliane conseguiu trazer o filho para a atual condição física.

Juliane Ortega, mãe de Yeltsin (Foto: Marcos Ermínio)

“Orgulho, orgulho, orgulho, orgulho. Maravilhoso. Foi emocionante demais reencontrar ele. Ele tinha 9 anos quando começou, descobriu que gostou da corrida, aí ele chegou em casa e falou pra mim ‘Mãe, acho que eu vou começar a correr', aí eu falei pra ele ‘Se você gosta, meu filho, vamos tentar'. Eu acreditava muito nele. Acredito. Ele tem muita determinação e é muito sério nos treinos dele”, relembrou Juliane em depoimento ao MidiaMAIS.

Mas a admiração pelo atleta não se resume à família. Vera Lúcia Serra, de 65 anos, caminha pelo Horto, mora pela região, e soube que a recepção dele seria ali. Ela conta à reportagem que acompanhou e vibrou bastante com Yeltsin em Tóquio. Vera faz vôlei adaptado, participa dos jogos da melhor idade e realmente gosta de esporte. A idosa fez questão de estar no Horto esta manhã para vê-lo. “Foi emocionante, chega a arrepiar o corpo. Acredito que é muito importante porque tem que incentivar o esporte, principalmente para as pessoas com deficiência”, afirmou.

Com a bandeira do Brasil e a de Campo Grande ao fundo, Yeltsin mostra medalhas nas ruas

 

Carreata

Com início às 9h e saída no Horto Florestal, na Avenida Ernesto Geisel, o percurso seguiu a rua 26 de Agosto, travessa José Bacha, ruas Sete de Setembro, 14 de julho, Marechal Rondon, 13 de maio e avenida Afonso Pena.

A primeira parada acontece na Prefeitura, onde Yeltsin encontra o prefeito Marquinhos Trad, por volta das 10h. Posteriormente, a procissão de veículos chega até a Governadoria, no Parque dos Poderes, às 11h, para um almoço especial com o Governador Reinaldo Azambuja.

Conquistas

Yeltsin foi o primeiro sul-mato-grossense a colocar medalha no peito e fez história na capital japonesa, com dois recordes quebrados. O contemplado pelo Bolsa Atleta, programa do Governo do Estado, administrado pela Fundesporte, garantiu o primeiro ouro do Brasil no paratletismo e o seu primeiro em Jogos Paralímpicos.

Campo-grandense correndo em Tóquio (Foto: Wander Roberto/CPB)

O paratleta de Campo Grande venceu com larga vantagem os 5.000 metros rasos da classe T11 (atletas com deficiência visual, com baixa ou nenhuma visão — condição com a qual nasceu), ao bater o tempo de 15min13s12, melhor marca das Américas e a dois segundos do recorde mundial.

Ele foi o responsável por conquistar a 100ª medalha de ouro do Brasil nos Jogos. O memorável ouro, seu segundo na Tóquio-2020, veio nos 1.500 metros rasos T11 e com direito a novo recorde mundial estabelecido. O fundista terminou a prova em 3min57s60 — a melhor marca do planeta era de 3min58s37, atingida pelo queniano Samwel Kimani, na Paralimpíada de Londres-2012.

Guerreiro nas pistas, o campo-grandense de 29 anos ainda tentou a terceira medalha na Tóquio-2020, na maratona da classe T12. No entanto, devido ao cansaço, Yeltsin desistiu na metade da prova, quando completou 21 quilômetros pelas ruas da capital japonesa. Na competição, o corredor teve como atletas-guia Laurindo Nunes Neto e Carlos Antonio dos Santos (Bira).