Emblemática, casa na Calógeras completa 100 anos de história em Campo Grande
Residência foi construída em 1921 por Arnaldo Estevão de Figueiredo, prefeito de Campo Grande e depois governador do Estado
Arquivo –
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A avenida Calógeras é uma das principais vias de Campo Grande. Em meio a um cenário quase que caótico, cheio de comércio, pedestres e trânsito, um lugar muito especial se destaca no cenário urbano: a Casa de Arnaldo Estevão de Figueiredo. Construída em 1921, a emblemática construção completa 100 anos de história em 2021. Para celebrar esse momento tão importante para a Capital, o Midiamax conversou com a família de Arnaldo para reviver os melhores momentos da residência.
Antes da gente mostrar a história de cada um, vamos falar do local e qual a sua importância para a Capital. Trata-se de uma construção desenhada pelo engenheiro Camillo Boni e executada pelo pedreiro José Maria e sua mulher, um casal de portugueses. Outro detalhe importante é que foi a primeira residência que passou a ter banheiro dentro da casa em Campo Grande.
Além disso, imóvel pertenceu a Arnaldo Estevão Figueiredo (1892-1991), agrônomo que se tornou prefeito de Campo Grande e, depois Governador de Mato Grosso do Sul em 1947. Ele se mudou com a esposa Menodora, conhecida como Dorinha, e os filhos para a casa em 1922, sendo eles Afrânio, Agenor, Antônio João e Lélia Rita.
Muitos anos se passaram desde então, mas as memórias que se concretizaram no espaço são eternas no coração da família.
Dora Ribeiro
Dora Ribeiro, 60 anos, é poeta e filha de Lélia Rita de Figueiredo Ribeiro, filha de Arnaldo. Ela contou que a infância na casa dos avós foi muito especial, sempre cheia de pessoas, parentes, amigos e desconhecidos que passavam por ali. Tudo acontecia na varanda da frente ou no escritório de agronomia do avô, espaço agregado à casa que funcionou até o seu falecimento. Ela e os quatro irmãos moraram na residência até 1968.
“Nessa varanda aprendi que o amor faz mais sentido quando ele envolve também o trabalho, o respeito pelo diferente, a luta contra a pobreza. Não que eu vivesse entre gente dotada de um altruísmo excepcional, mas sim porque o ambiente que todos respirávamos ali era de intensa procura de sentido fora do nosso pequeno universo individual”, explicou a poeta.
Na opinião de Dora, a casa centenária deveria voltar a ser espaço público, igualmente quando funcionava o museu Casa da Memória de Arnaldo Estevão, criado por Lélia Rita e que funcionou de 1996 a 2006. “Torço para que o governo estadual ou o municipal chegue à mesma conclusão”.
Agenor de Figueiredo Jr.
Agenor de Figueiredo Jr., 70 anos, é o neto mais velho de Arnaldo e Dorinha e primo de Dora Ribeiro. Mesmo depois de muitos anos, ele ainda se recorda que o ambiente tinha um cheiro especial da água de colônia que sua vó usava, do pinheiro que hoje não existe mais e da brasa que saía do fogão à lenha. Para ele, a maior beleza da casa é refletida nos momentos de alegria que foram vividos lá.
O aposentado conta que sempre saía do Rio de Janeiro para Campo Grande passar férias na casa dos avós. Entre seus cinco e sete anos, vários momentos foram guardados em sua memória.
“Uma casa aberta para uma gama de pessoas. Um centro de amizade, afeto e de grande poder de aglutinação. Um tesouro. Nas férias, íamos a chácara, catar guavira na Lagoa Rica, visitava bisavó Ritinha. Grandes almoços, bifes de chapa acebolados, a Maria Fumaça que apitava nos fundos, e as conversas na varanda. Cadeiras de balanço e o ruído das charretes passando pela Calógeras”, recorda Agenor, que ainda afirma que foi na centenária residência onde viveu inesquecíveis lições da infância e juventude.
“Nāo posso deixar de mencionar uma pessoa importante, que compunha esse cenário: filha adotiva de meus avós, Déa Moraes D’Elia Ciancio. Māo firme na residência e no escritório colado na casa”.
Antônio João Figueiredo
Antônio João Figueiredo, 69 anos, é o 3º neto mais velho de Arnaldo e Dorinha, primo dos outros dois entrevistados. Ele morou nos fundos da casa junto com os pais Afrânio e Neli, que construíam a própria casa no quintal.
“Um dos fatos que mais marcou minha infância foi a morte do Clemente [índio que morava no local]. Ele dormia com o cachorro na cama. Certa noite o cachorro uivou a noite toda e pela manhã o acharam morto no quintal. Chamaram pelo Clemente e nada. Procurado no seu quarto o acharam morto também. Tinha morrido durante a noite e o cão de estimação uivo de sofrimento e depois morreu. A Casa traz muitas Memórias”, recorda Antônio.
O Homem e a Terra
A filha de Arnaldo e Dorinha, Lélia Rita, escreveu o livro “O Homem e a Terra”, retratando como foi a vida da família na época com vários resgates históricos, explicação da árvore genealógica, a vida na residência da Calógeras e eventos históricos que aconteceram em Campo Grande através do envolvimento familiar.
“Ao meu pai, Arnaldo Estevão de Figueiredo, espírito benéfico inspirador deste livro, e principal interveniente nestas páginas”, escreveu nos primeiros momentos da obra. A escritora contribuiu por muitos anos na produção cultural de Campo Grande, além de responsável pelo museu Casa da Memória de Arnaldo Estevão. Ela ocupava uma cadeira na Academia Sul-Mato-Grossense de Letras desde 1986, mas faleceu em agosto de 2020 vítima do Covid-19.
A casa em 2021
Atualmente, a casa histórica acabou sendo alugada por uma empresa de autoescola. Faixas com telefone e anúncios chamam a atenção na fachada da residência, o que divide opiniões pela cidade. Em contato com a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Sectur), foi explicado que a residência não está constada no processo administrativo de tombamento aberto na Prefeitura.
Contudo, desde 2010, com a Lei Complementar 161, que institui o plano de revitalização do centro, este imóvel foi inserido na relação de imóveis protegidos pelo município. Atualmente o imóvel está protegido pela Lei 341/2018 pelo Plano Diretor. Assim, o imóvel não pode ser alterado, destruído ou sofrer qualquer intervenção sem antes a aprovação da Prefeitura.
100 anos de história
É na casa centenária que também nasceu e se fortificou a história de uma família alegre, que encontrava em cada pessoa o amor a ser guardado nas paredes da residência. Um amor que foi eternizado e que o tempo não foi capaz de levar embora. Haviam festas e alegrias. Além de quatro casamentos, foi na residência que Dorinha criou os filhos e todos eles viveram os melhores momentos da sua vida.
“Mais importante que o corpo da casa, cal e tijolos que a construíam, é o espírito que dela emana”, constou no livro O Homem e Terra.
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