Crânios, artefatos e registros rupestres: Pré-história de MS tem vestígios de até 12 mil anos

Museu conta com mais de 250 mil peças da pré-história sul-mato-grossense

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Olhar para o passado é entender um pouco de nós. Isso serve tanto para a vida pessoal, quanto para a história de um povo e o nascimento de uma cultura. Em Campo Grande, o Museu de Arqueologia da UFMS (Muarq) preserva um pedaço extremamente importante do embrião sul-mato-grossense. No local, a pré-história do Estado é narrada através de artefatos, registros rupestres, crânios e cerâmicas em geral.

Material lítico (ferramentas de pedra lascada e polida) e cerâmica são os principais objetos. O acervo conta também com dois crânios muito danificados que não ficam na exposição. Um dos esqueletos tem aproximadamente 690 anos, e o outro aproximadamente 1.200 anos. Segundo a coordenadora técnica do Muarq, Lia Brambilla, ambos eram guaranis.

Um dos esqueletos foi encontrado no Sítio Arqueológico de Naviraí, e o outro no Sítio Arqueológico de Ladário. Ambos eram guaranis pelas urnas em que foram encontrados (Foto: Muarq)

A exposição no Museu conta ainda com algumas fotos de pinturas rupestres espalhadas pelos sítios arqueológicos do Estado. No Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), são 740 sítios cadastrados ao todo. Dentre os objetos expostos ao público, pontas de flechas de 7.600 anos a 8.000 mil anos são os artefatos mais antigos. Mas o Sítio Arqueológico Alto Sucuriú 12, em Chapadão do Sul, tem a data mais velha de todas nos registros pré-históricos: 12.400 anos.

Os crânios protegidos pelo acervo foram encontrados em urnas funerárias guaranis. “São urnas secundárias, onde faziam o processo de enterramento. As pessoas eram enterradas, depois retiradas da terra e enterradas novamente nessas urnas. São duas na exposição”

Urna funerária (Foto: Muarq)

Quanto aos povos antepassados, a coordenadora Lia explica: “Muitas dessas peças e, principalmente a cerâmica, nos remete a algumas culturas. Então, assim a gente pode fazer um mapeamento das pessoas que estiveram aqui no passado”.

“As tecnologias líticas mostram que tínhamos aqui a tecnologia [do povo] Umbu, vindo do sul do Brasil e [do grupo] Itaparica que era mesmo dessa região centro-oeste do país”, detalha Lia.

“Tem outras que nós não reconhecemos ainda e precisam de mais estudos, inclusive do lado dos países vizinhos para sabermos se vieram desses locais. Agora, a cerâmica já é mais clara. A gente consegue identificar melhor quem veio pra cá pelo tipo de desenho, pelo tipo de formato. Não em todos os casos, mas a gente consegue. Temos cerâmica chaqueña, cerâmica Pantanal, Una, Guarani…”

Cerâmicas expostas (Foto: Muarq)

Nas pinturas rupestres, predominam cenas de animais mortos, figuras geométricas, planalto, figuras zoomorfas (de cultuação aos animais como seres divinos)… Tuiuius, onças e patas de onças também são alguns desenhos frequentes. Ao todo, são 80 sítios arqueológicos registrados no Iphan, só de registros rupestres.

Se as imagens desenhadas contam alguma história? “A gente sabe que povos caçadores-coletores passaram por ali, de 12 mil anos a datação mais antiga. Geralmente, eles retratavam uma cena de caça, um animal que eles queriam caçar ou até mesmo a marca astronômica. Desenhavam muitos astros e estrelas. A gente tem em Rio Negro, por exemplo, estrelas desenhadas, e em Alcinópolis as três marias… ficou bem claro que eles retrataram nas rochas. Então, alguma coisa eles queriam dizer, mas não podemos inventar o quê”, argumenta a coordenadora técnica do Muarq.

Figuras no Alto Sucuriú 12

 

Ponta do iceberg

O que está exposto no Museu de Arqueologia da UFMS é apenas a ponta do iceberg do acervo. Das mais de 250 mil peças, pouquíssima coisa fica liberada para a visão geral. A exposição foi separada em duas partes: a dos caçadores-coletores, de 12.000 a 2.500 anos atrás, e a dos ceramistas-agricultores, a partir de 2.500 anos.

“Escolhemos o material que seria mais significativo para as pessoas verem e entenderem. Então, temos por volta de 90 peças expostas porque o que temos mais são fragmentos na reserva técnica que precisam de estudo, de gente para colar… a gente precisa desenvolver vários projetos pra poder resgatar o que tem na reserva técnica, vários doutourados e mestrados e coisas assim…”, finaliza Lia.

Muarq está há mais de um ano sem receber visitas (Foto: Museu da Arqueologia da UFMS)

Sem data

Fechado ao público desde o início da pandemia em 2020, o Muarq não tem previsão de quando vai abrir as portas para a população. Pessoas interessadas em conhecer os materiais podem entrar no site do Museu e agendar uma visita online.

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