“Todos os dias da minha vida eu escuto relatos de exclusão.” Quando Juliana Lobo recebeu no celular a notícia de que a mãe de uma criança autista, de Campo Grande, foi excluída de uma festinha de aniversário, já conhecia a dor que Sara Onori estava sentindo. Um dia antes, a mãe do pequeno Arthur, de 2 anos, recebeu uma mensagem de uma “amiga” informando que seu filho não seria convidado para uma comemoração por ser “meio problemático”.
O tom pejorativo da mensagem ganhou repercussão nacional. Do outro lado da cidade, Juliana se colocou no lugar de Sara e perguntou, em um dos seus grupos de Whatsapp, se alguém estava sabendo da história. Em poucos minutos, as mães participantes começaram a se manifestar e decidiram criar uma rede de apoio para amenizar a tristeza da, até então, desconhecida Sara.
“Eu fiquei arrasada pensando na mãe e nele, em tudo que ele ainda vai sofrer na vida por conta de exclusão e descriminação. E falei no grupo: E se a gente fizesse uma festa só para convida-lo? Vamos fazer uma para ele e convidar todo mundo que ama, que inclui,” contou Juliana.
A ideia imediatamente foi acatada pelas outras mães, que começaram a organizar a festa. A princípio, Juliana explica que a ideia era apenas uma reunião simples ou um piquenique. Com a adesão de mais pessoas, a fim de demonstrar amor ao próximo, surgiu a oportunidade de fazer em um buffet infantil, na próxima quarta-feira (14).
“A família de uma das mães do grupo, a Tati, é dona de um buffet. Em poucas horas já estava tudo organizado. O local, o cardápio e tudo o que precisava ter para ser um evento especial.”
A culinarista destaca que a organização da festa para o Arthur precisava ser rápida, já que a mãe da criança estava sofrendo naquele momento.
“Mandei mensagem para ela (Sara) falando que queríamos fazer uma festa pro filho dela. Ela ficou feliz, mas a princípio não acreditou. Disse que, como estava se sentindo triste, topava qualquer coisa e até um café só para conversar.”
A importância da festa, de acordo com a organizadora, não é para mostrar que a criança vai ter um evento para ela, mas sim ressaltar que o compartilhamento é para todos. A luta, conforme Juliana, é incutir na sociedade o pensamento de que os autistas existem, são muitos e “nós” precisamos promover um ambiente que seja favorável a eles.
“As festinhas não podem ser uma coisa só para quem se comporta assim ou assado. Você não tem que pensar como o outro vai se comportar ou comer, mas sim o que fazer para que ele se sinta acolhido.”