Na Zahran: enquanto carros passam, escultura é puro amor, com direito à mão boba

Em plena movimentada Avenida Zahran, esquina com a Rua Antônio da Silva Vendas, localizada estrategicamente na calçada de uma borracharia, uma escultura chama atenção… Enquanto o movimento da região é intenso, uma correria só, um casal (todo trabalhado em ferro e cimento), se beija apaixonadamente, com direito à nudez, pernas entrelaçadas e uma mãozinha boba, […]

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Em plena movimentada Avenida Zahran, esquina com a Rua Antônio da Silva Vendas, localizada estrategicamente na calçada de uma borracharia, uma escultura chama atenção… Enquanto o movimento da região é intenso, uma correria só, um casal (todo trabalhado em ferro e cimento), se beija apaixonadamente, com direito à nudez, pernas entrelaçadas e uma mãozinha boba, bem sapeca.

Toda essa liberdade contrasta com a correria que existe na região, a Zahran é uma das vias mais movimentadas da cidade e lá ao redor é cercado por lojas, galerias e uma rede de televisão. O divertido dessa obra é imaginar que, enquanto a maioria das pessoas passam de carro, às vezes nem prestando atenção, eles estão lá… com o amor nas alturas!

Na Zahran: enquanto carros passam, escultura é puro amor, com direito à mão boba
Mãozinha marota detectada (foto: Leandro Marques)

Lembrava que lá  por 2014, 2015, já existiam outras obras como esta naquele ponto. Existiu lá por alguns anos, uma ‘galeria’ a céu aberto com diversas esculturas. Por falta de oportunidade ou tempo, nunca desci pra prestigiar… Mas agora, com apenas esta única peça, não pude deixar de reparar na ‘volúpia’ destes personagens.

Curioso, fui em busca de saber mais sobre a obra e o artista que a produziu, mas na borracharia, não fui autorizado a perguntar sobre a opinião dos funcionários, nem consegui captar maiores informações.  Mas pelo menos ganhei um norte na minha apuração: descobri o primeiro nome do autor da obra!

Com essa informação, sentei em um Café e comecei a pesquisar… Coloquei no buscador “o nome dele + Zahran + Rua Antônio da Silva Vendas” e (tcha-rãm!) encontrei!! A sorte foi tão grande que até o telefone dele estava lá.

Na Zahran: enquanto carros passam, escultura é puro amor, com direito à mão boba
Lembrança de quando as peças foram expostas naquela esquina, em 2014 (fotos: acervo artista)

Sabe quem é? Vou te contar…

A revelação

Essa foi a parte mais interessante! Descobrir quem era o artista e conhecer melhor o seu trabalho. O legal era que eu já vi diversas vezes suas obras por aí, pelo Estado. Seu legado é muito maior que imaginei!

Quem passeia pelo Mato Grosso do Sul, lá por municípios como Três Lagoas, Coronel Sapucaia, Naviraí, Caarapó, Jateí e Tacuru já deve ter cruzado com algumas de suas esculturas. Ele é o autor dos portais de entrada de algumas destas cidades, onde podemos conferir os arcos onde pousam araras e tucanos, feitos em cimento, ferro e tela, como o de Três Lagoas, na via que dá acesso ao balneário local e também o carro de boi que ornamenta uma das principais praças da cidade. Em Jateí, também, o Cristo que recebe os visitantes de braços abertos também é dele, assim como o monumento das abelhas jataí, localizado em uma das principais vias do município.

Na Zahran: enquanto carros passam, escultura é puro amor, com direito à mão boba

Obras do artista Ivolin Ramos espalhadas pelo Estado (fotos: acervo)

O realizador destes trabalhos é Ivolin Ramos, 56 anos, artista desde os 18. Com um estilo rústico, que ele compara ao dos indígenas, ele imprime em suas obras, técnicas que ele aprendeu de forma autodidata. Vivendo em Três Lagoas, onde terminou recentemente outro ‘Portal do Pantanal’.

Nascido em Iguatemi – MS, ele cresceu em Amambaí e não mantêm moradia fixa em algum lugar específico. “Artista não mora, ele para” define sua situação. A temporada na cidade sul-mato-grossense da celulose, parece estar muito produtiva, pois além das obras já citadas, ele também está em produção de 100 esculturas, com cerca de 1,70m, com motivos pantaneiros, que já estão se espalhando pela cidade.

Sobre a escultura beijoqueira da Zahran

Voltando de onde começamos, a curiosidade era “como a estátua parou naquele lugar?”. Conta Ivolin que, lá por 2014, uma exposição com suas obras seria realizada no Centro Cultural José Octávio Guizzo. Em conversa com os representantes do lugar, à época, foi prometido que as portas seriam abertas pra ele… Fato que não ocorreu.

Na Zahran: enquanto carros passam, escultura é puro amor, com direito à mão boba
O artista Ivolin Ramos e uma de suas obras (foto: acervo)

Sem espaço, galeria ou algo parecido, ele levou cerca de 15 esculturas para calçada da borracharia, na esquina da Zahran com a  Antônio da Silva Vendas. Sua empreitada não foi vista com bons olhos por alguns artistas locais, segundo ele “disseram que o que estava fazendo era um desserviço às artes, que estava expondo a classe artística”, mas isso não o intimidou.

“As pessoas esperavam que eu fizesse a exposição em uma galeria, no shopping, mas só faz isso quem tem ‘cacife’”. Sua galeria ganhou um céu aberto e a possibilidade de levar a arte para mais perto das pessoas. “Coloquei as peças lá sim, ridículo é ser preguiçoso”, complementa.

Como um artista de obras out-door (forma chique de falar que fica em ‘lugar aberto’), as obras de Ivolin Ramos atingem, provavelmente, algumas pessoas que não tem o costume de frequentar museus, não vão à vernisages ou eventos de arte, mas estão acostumadas a conviver com suas obras, passar por elas, admirá-las e muitas vezes sem saber quem as fez. O legal é isso, a arte vai muito mais longe… Não são necessárias quatro paredes para ser reconhecida como arte, e sim, sensibilidade de nossa parte para poder enxergá-la onde ela estiver.

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