Mato Grosso do Sul é conhecido nacionalmente, dentre outras coisas, por exportar grandes nomes da música sertaneja. João Bosco e Vinicius, Michel Teló, Maria Cecília e Rodolfo, Jads e Jadson, Thiago e Graciano e Luan Santana são alguns artistas que fazem parte do currículo do Estado. Há 26 anos, Marcus Barão escolheu as terras campo-grandenses para viver, mas apesar dos projetos com Pixinguinha, na época, o carioca sentia falta dos shows do bom e velho rock’n’roll.

Cerca de um ano depois de chegar em MS, o produtor musical percebeu a escassez de entretenimento para os roqueiros da cidade e decidiu criar o “Projeto Segunda”. Todas as segunda-feiras do mês ele trazia artistas de renome nacional para apresentações acústicas com abertura de músicos regionais.

“As passagens eram mais baratas e os artistas vinham sozinhos. O diferencial de um cantor da terra abrir o show criava um intercâmbio musical e surgia boas parcerias. Além disso, começou a criar o hábito de shows de abertura, que eu não via isso aqui.”

O projeto foi crescendo e, aos poucos, o rock’n’roll foi fazendo parte da noite campo-grandense. Foi pelas “mãos” da Abbapai Produções, empresa de eventos criada por Barão, que pisaram no Estado pela primeira vez alguns artistas como Lenine, Nando Reis (solo), Zeca Baleiro, Serguei, Legião Urbana, Jota Quest e Ângela Rôro.

Mas, o tempo passou e, segundo o produtor musical, o mercado fonográfico acabou. Marcus Barão afirma que artistas de pop rock, MPB e rock começaram a perder espaço e investimentos em veículos de rádio e TV. “Como aqui sempre importou tudo de música, que vinha dos grandes centros, isso foi se tornando escasso e a queda foi grande.”

Mudança de hábitos

Nos últimos 10 anos, surgiram as violadas universitárias que acabaram se transformando em estilo musical. “O consumo local refletiu fora do Estado”, pontua. As opções de casas e bares noturnos para quem curte rock em Mato Grosso do Sul existem, ainda que em menor quantidade para os amantes de tabacarias e afins. “O público aqui é muito cruel com a valorização das atrações.”

Para não se perder em meio à mudança de gerações, o empresário precisa se desdobrar. Um dos maiores empecilhos da produtora é a própria cultura criada por alguns bares de não cobrarem entrada dos clientes ou de colocarem nome na lista de descontos.

“A população mais jovem não valoriza, não paga para ir em um show de rock. O adulto que conhece, que gosta, esse se vê com problemas como com quem deixar os filhos. Ou ele está de plantão, ou no mestrado e aí as dificuldades são gigantes”, explica o produtor.

Apaixonado pelo trabalho e ainda na esperança de ver a era de ouro do rock nacional voltar a brilhar na Capital, Barão já levou alguns prejuízos por arriscar. A Abappai trouxe aquela que classifica como “a banda mais forte do cenário nacional” e atingiu um público de 870 pessoas.

“Capital Inicial foi só prejuízo, não atingimos nem a marca dos 1000 pagantes. Já fiz Humberto Gessinger, que lota por onde passa, e deu 500 pessoas – enquanto cidades menores colocam de 3 a 4 mil de público.”

A falta das músicas de outros estilos, sem ser o sertanejo universitário, tocando nas rádios é o grande vilão dos produtores musicais. Sem o hit na cabeça, a vontade de comparecer ao show e conhecer o ídolo fica cada vez mais distante.

“O jovem daquela época hoje está na casa dos 40, 50 anos. Esse consome e ama o rock’n’roll. Os artistas que trago são para essas pessoas, saudosas e órfãs, se assim podemos dizer.” O produtor explica que nos anos 80 e 90 não tinham os atuais vícios de open bar, listas de todos os tipos e entradas free. O público da antiga geração sabia que teria que pagar caso quisesse ir no evento.

“Campo Grande abre loja de colchão e farmácias na mesma proporção que fecha bares e cancela shows. Infelizmente a cidade está com a vida noturna doente, é muita dificuldade. A maioria prefere ficar em casa do que ir a um show.”