A manhã deste primeiro dia de primavera amanheceu mais fria para os amantes da arte sul-mato-grossense. Aos 66 anos, faleceu às 6h desta segunda-feira (23) o artista plástico Isaac de Oliveira, após passar mal em decorrência de complicações de um câncer de pulmão.

Ícone do cenário da arte no Mato Grosso do Sul, o baiano há quase 40 anos radicado campo-grandense, deixa em seu legado uma infinidade de obras que colorem a cidade com ipês, araras, peixes, frutas e seu estilo próprio que encantou vários.

O também notório artista plástico de MS Humberto Espíndola prestou sua homenagem: “Isaac teve um grande trabalho de penetração da pintura na sociedade campo-grandense. Fez seu trabalho muito bem com uma pintura colorida, representativa das nossa entidades através dos temas da ecologia. Ele foi uma pessoa que batalhou a vida inteira em toda pintura dele sempre entorno da ecologia, assunto que por sinal está crescendo no planeta hoje”.

Amigos e fãs lamentam a morte do artista plástico Isaac de Oliveira
(Foto: Reprodução, Arquivo)

“Isaac fala dentro de uma perspectiva de melhora do meio ambiente, de conservação ecológica, dos animais, da fauna e da flora. Então, acho que isso tem um grande valor, e era ele que conseguia conseguia fazer esse tema sem cair no lúdico, no já visto. Lamento muito a saída precoce dele da cena. É uma tristeza”, disse o também artista em entrevista ao Jornal Midiamax.

“As pinturas, gravuras, intervenções e objetos de Isaac de Oliveira apelam tanto para nossa humanidade, nossa necessidade de embelezamento do cotidiano, quanto para nosso respeito à natureza, ao meio ambiente. A maneira como Isaac abraça a natureza, nos obriga a respeitá-la ainda mais. Conheço-o desde o inicio dos anos 1980, e tenho acompanhado seu trabalho, vendo sua transformação e aprimoramento. O grafismo, próprio do desenho de publicidade, foi cedendo lugar, aos poucos, a uma explosão cromática e redefinição de formas, criando um mundo paralelo ao qual não ficamos indiferentes. Construiu uma linguagem própria, que induz à contemplação e imediato reconhecimento, sem perder o aparato poético dado pelo gesto e pelas cores”, reiterou a crítica de arte Maria Adélia Menegazzo.

Amigos e fãs lamentam a morte do artista plástico Isaac de Oliveira
(Foto: Reprodução, Arquivo)

O (PSD) prestou condolências ao artista na manhã desta segunda-feira através das redes sociais. “Primavera é Deus sorrindo através das flores”, escreveu ilustrando com um ipê amarelo, marca de Isaac de Oliveira. “Nossa cidade amanheceu com menos cor nesta segunda-feira. Adeus Isaac de Oliveira”, completou.

“Meu pintor favorito do MS, Isaac de Oliveira, acaba de partir… virou imortal na Terra por meio de suas obras que dão alegria e vida no meu gabinete, no meu escritório e no mundo. Que Deus o receba em Seus braços, Mestre! Gratidão!”, lamentou a senadora Soraya Thronicke (PSL) em seu Twitter nesta manhã.

“Ficou explicado a tristeza do meu dia. Queria ilustrar esse texto com ipês coloridos e maravilhosos, tão maravilhosos quanto os reais…mas não consigo. Hoje meu ipê é negro simbolizando muita coisa. Meu amigo, meu compadre, meu ex-chefe. Te admiro pra caramba, tua tranquilidade, tua determinação, tua criatividade, tua arte. Mato Grosso do Sul perde um grande artista, eu perdi um grande amigo”, escreveu a assessora Malu Barros.

“No 1°dia da primavera meu amigo foi colorir o céu. O universo de Luz e cores agora em sua passagem. Obrigado pela caminhada aqui, um dia agente se encontra. Sentiremos saudade”, escreveu a amiga e empresária Rosana Bianchi.

Entre as cores da vida

Amigos e fãs lamentam a morte do artista plástico Isaac de Oliveira
(Foto: Reprodução, Arquivo)

O artista plástico José Isaac de Oliveira é natural de Itajuípe (BA) mas passou a infância, adolescência e juventude em Campinas (SP). Casou-se muito jovem com Claudete, com quem teve dois filhos, Paola Cardenas de Oliveira e Cauê Cardenas de Oliveira. Após sete anos de casamento ficou viúvo e em 1984 casou-se novamente, com Selma Rodrigues (Secéu). Isaac teve longa atuação na publicidade como ilustrador e a partir de 2016 passou a dedicar-se exclusivamente à pintura.

Amigos e fãs lamentam a morte do artista plástico Isaac de Oliveira
(Foto: Reprodução, Arquivo)

Estudou Belas Artes na Escola de Campinas de Belas Artes, sem finalizar o curso. Mudou-se para a capital São Paulo, atuou como publicitário e, paralelamente conheceu e conviveu com artistas do cenário paulista em ambientes culturais da época. A Arturo Molina atribui a aquisição de grande conhecimento artístico sobre o mundo das artes e suas técnicas, grandes murais, tapeçaria pintada, técnicas a óleo e História da Arte e cultura.

Veio para Campo Grande em 1978 a convite de Chico Lacerda, para fundar uma agência de publicidade. Aqui passou a se dedicar mais à pintura e comercializar seus quadros profissionalmente. Participou da efervescência artístico cultural do estado recém criado, com grupos e movimentos em busca da identidade cultural sul-mato-grossense e exposições e salões em diversas cidades.

A influência regional se torna evidente a partir da década de 80 quando o artista se volta a uma série de pinturas de índios e animais da região e posteriormente índios do Brasil. Na década de 90, Isaac começa a pintar pássaros do cerrado, quase abstratos. Utiliza-se de fotografias para registro, a partir das quais, por meio da observação da profundidade, cores e nuances das paisagens ao fundo das imagens, transfere à pintura por movimentos gestuais.

Amigos e fãs lamentam a morte do artista plástico Isaac de Oliveira
(Foto: Reprodução, Arquivo)

Por gostar muito de pescar no Pantanal, passa a pintar também peixes, em seguida fauna e flora e, posteriormente, frutas e verduras, tudo a partir da observação direta. O artista conta que este foi um período de intensas buscas por técnicas, formas e materiais de qualidade que dessem conta de expressar as cores e estilo próprio que procurava.

Entre outras homenagens, teve um quadro premiado como aquisição no III Salão de MS. Em 2013 abriu uma galeria e escritório de Arte, uma tendência dos artistas contemporâneos, advindo da necessidade de espaço para expor e vender suas obras.