Produção deve ser lançada em junho
A produção está em fase de finalização e deve ser lançada em junho, mas os trabalhos se iniciaram em 2011. Diversas intervenções foram realizadas pelo coletivo T’amo na Rodoviária, que também serviram de material para o documentário e que leva o mesmo nome.
“‘T’amo na Rodoviária’, com apóstrofo. É uma brincadeira com estar e amar”, explica Givago, que é o idealizador do projeto e dirige o documentário. “Sou morador do bairro e sempre tive ligação muito forte com a rodoviária. Morei em São Paulo por 10 anos, fiz cinema lá. Quando voltei, vi o prédio com os tapumes. Me dá uma dor de ver. Foi lá que aprendi a gostar de música, comprei primeiros LPs. Foi lá a primeira vez que fui ao cinema. Meus primeiros registros afetivos estão lá”, relembra.
Cátia Santos, integrante da equipe e responsável pela edição e montagem, detalha o conteúdo do vídeo. “Conta um pouco da história da construção, da origem do prédio, entremeado com a história dos personagens, das intervenções que ocorreram lá. Mariana Sena, Helton Perez, Carlota Philippsen e Fabiola Brandão também fazem parte da produção do documentário, que conta com o apoio do FIC (Fundo de Investimentos Culturais) do Governo do Estado.
‘Inúmeras histórias de vida’
O objetivo do T’amo Na Rodoviária é mostrar a transformação do local, através da imersão da equipe durante um longo espaço de tempo. “São inúmeras histórias de vida que ao serem costuradas com depoimentos encenados e mosaicos de vídeo arte, vão ganhando tons épicos para citações ordinárias, sempre se pautando na importância histórica do indivíduo e do contexto social dos não lugares e da premissa que o anônimo é o mais verdadeiro dos personagens”, informa o site da produção audiovisual.
No espaço de 7 anos em que as cenas foram captadas, o olhar de Givago se transformou. “Pensava que era um lugar perigoso. Mas lá tem muitas famílias e mesmo os usuários também são uma ‘comuna’, que tem leis, que se respeitam, são humanos e descobri essa humanidade que existe lá. As pessoas têm um preconceito tão grande e vão descaracterizando o local e acham que é um local inabitável, com pessoa que não são seres humanos. Agora estamos montando uma OSC [organização da sociedade civil] para desenvolver trabalho de redução de danos com as pessoas”.
Termo encontrado na fanpage e no site do documentário, Givago, se refere à antiga rodoviária como um ‘não-lugar’, “É um conceito antropológico e significa lugares onde as pessoas não ficam, só passam”, se referindo à população que teme o prédio, devido aos ocupantes em situação de rua.
Mudança de opiniões
O processo criativo do documentário já trouxe benefícios para os moradores do bairro e os comerciantes que ocupam 58 das 236 salas existentes no centro comercial. Segundo Givago, Rosane Nely Lima, a síndica do condomínio, foi sensibilizada. “A Rosane se tornou uma grande parceira. Vários condôminos mudaram de opinião. Sempre que há algum evento, é de sucesso. Aos poucos as pessoas estão perdendo preconceito, se desafiando. Recentemente teve o carnaval e com o pessoal do Imaginário Maracangalha. Estamos conseguindo mudar as opiniões”, relata Givago.
“Espero que faça muito sucesso. É um trabalho longo e muito Bonito, envolve muita gente, muitos parceiros e teve uma participação bem legal dos condôminos, inclusive de um dos fundadores do prédio. Mostra o lado de todo mundo, dos vários comerciantes. A maioria deles está aqui há 20, 30 anos. Ter a história [do prédio] contada num documentário vai trazer vantagens”, espera Rosane.
Advogado e pecuarista, Milton Belo esteve envolvido desde a aquisição do terreno, em 1967 e tem algumas salas do centro comercial, uma das quais é utilizada por ele. “Vai ser muito bom para que a população passa a acompanhar e saber como foi edificada a obra do centro comercial. Vai ser mais uma filmagem para estudo futuro, para a nossa juventude ter conhecimento do que aconteceu há 40 anos atrás. Hoje a cidade está muito diferente”, descreve.
A síndica conta que nos últimos 8 anos, após o terminal rodoviário ter deixado o centro comercial, muitas vitórias foram alcançadas. “As pessoas passam a ver com mais seriedade. Existiam muitas contradições. Acreditavam que não podia fazer nada, que o prédio era particular. Agora eles sabem que é público e privado. A Prefeitura também tem responsabilidade”, acrescenta.