Na entrada da sala Coletivo Urbanicidade, uma das mais nobres do Marco (Museu de Arte Contemporânea), em Campo Grande, duas telas de Ilton Silva, de 1982 e 1991, indicam que no recinto o pintor recebe as últimas homenagens. Artistas, familiares, amigos e, dada sua importância na cultura sul-mato-grossense, até políticos estiveram no espaço onde o artista é velado.
Falecido aos 75 anos no último dia 23, em Itapoá (SC), Ilton Silva era filho dos artistas plásticos Conceição dos Bugres e Abílio Antunes. Nascido em Ponta Porã, ele era um dos fundadores da AMA (Associação Mato-Grossense das Artes), em 1967. Ao longo da carreira, tornou-se uma das referências das artes plásticas sul-mato-grossenses. Dentre os grandes feitos, a série ‘Cores e Mitos’, uma explosão de cores com a retratação em personagens do cotidiano da fronteira entre Brasil e Paraguai.

Ilton Silva será sepultado ainda nesta terça-feira (26), às 16h, no Cemitério Santo Amaro. Seu corpo repousará no mesmo mausoléu que guarda os restos mortais de sua mãe e pai, também personagens memoráveis das artes sul-mato-grossenses.
Presente ao velório, o titular da Secc (Secretaria de Estado de Cultura e Cidadania), Atahyde Nery, fez questão de destacar que além de filho de grandes artistas, Ilton Silva também o era, assim como engajado na luta pela democracia.
“Ilton sempre pautou as minorias em seus trabalhos, mas também fora das telas lutou pela democracia durante a ditadura militar. Ele sempre deu voz a quem não tinha. Não é a toa que as telas que ele pintou sempre traziam mulheres, crianças e indígenas”, destaca o secretário, que adiantou que a Fundação de Cultura de MS deverá providenciar em breve exposição com o acervo do artista que dispõem.

“Será uma exposição especial para apresentar o valor da arte que ele produziu e também uma homenagem a esse pintor formidável”, declarou.
A produtora Cultural Tania Carretone destacou a generosidade do artista. “Ele era uma pessoa muito generosa, muito simples. Era impressionante isso, diante da grandiosidade do trabalho que ele desenvolveu. Ilton foi embora de Campo-Grande com muitas dívidas e um dos motivos para que não voltasse era porque tinha vergonha. Mas somos nós que devemos muito a ele, principalmente por essa obra incrível que ele deixou”, revela.
“Um pai-amigo”

Um dos filhos de Ilton Silva, Pablo Angelo Antunes, continua morando em Itapoá e falou com a reportagem. Ele revelou que esta foi a terceira vez que o pai havia sido internado em decorrência de pneumonia. “O cigarro foi um dos agravantes do quadro dele”, destaca.
Apesar do estado de saúde, Antunes destaca que o pai sempre se esforçou para estar presente na vida dos quatro filhos, de cinco, que criou. “Ele sempre foi um pai-amigo. Hoje, analisando tudo o que aconteceu com ele, não sei como ele conseguiu mexer com o trabalho e ainda ser tão presente na nossa vida. Ele sempre esteve presente. Na escola, no futebol… Foi um pai que nunca nos encostou um dedo, sempre nos educou com base na conversa. Havia muito diálogo”, conclui.