Glauce Rocha: a grandeza pouco reconhecida tanto da atriz, como do teatro
Poucos contam suas histórias
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Poucos contam suas histórias
São escassas as informações sobre Glauce Eldé Ilgenfritz Corrêa de Araújo Rocha, a começar pela data de seu nascimento. Sua já falecida sobrinha Leonora Rocha afirmou que ela poderia ser dois anos mais nova do que os registros contam. “Há uma história de que minha avó teria modificado a data de nascimento para que Glauce pudesse entrar mais cedo na escola”, citam várias fontes. Se confirmado, Glauce teria nascido em 16 de agosto de 1933.
O próprio Guizzo, autor da biografia da atriz, levou 17 anos pesquisando sua vida e trabalho, tendo finalizado o livro em 1989, pouco antes de sua morte. A obra foi lançada por sua esposa em 1996 e não é encontrada à venda em Campo Grande. O ator, diretor e iluminador cênico Espedito Di Montebranco, de 50 anos, que está fazendo um levantamento para montar um espetáculo sobre a atriz, conseguiu o livro somente pela internet. “O exemplar veio do Pará”, conta.
Com 23 anos de experiência no teatro e a frente do grupo teatral Palco Sociedade Dramática, Espedito afirma que encontra dificuldades para encontrar dados. “Estou pesquisando, buscando o máximo que conseguir de material, para colocar a Glauce no palco. Mas é pouco o material existente. Naquela época havia dificuldade em se guardar imagens, vídeos. E os próprios artistas não tinham hábito de fazer isso”, afirma. Além de peças teatrais, novelas e filmes, Glauce participou de inúmeros programas de televisão, dos quais não há registro, pois foram produzidos antes do video-tape.
Mas é consenso que além de grande atriz, Glauce lutou com garra contra a ditadura e manteve o amor pela atuação mesmo quando a profissão era desvalorizada e atrizes eram vistas como prostitutas. “Ela lutou contra a ditadura, falou coisas que poderiam tê-la levado à morte. Não era uma profissão valorizada, somente quando chegavam à TV, mesmo assim, eram muito marginalizadas”, descreve Espedito.
Um dos grandes nomes do teatro sul-mato-grossense, Jair Damasceno, complementa dizendo que “o teatro sempre foi muito engajado politicamente, resistindo ao processo destrutivo e autoritário da ditadura. Glauce, junto com Fernanda Montenegro, Tônia Carrero, e Norma Bengell, é uma das grandes damas do teatro, com significado importante pela arte que fazia, por encarar personagens tão difíceis”, descreve.
Com a chegada da televisão, seu talento foi absorvido e mostrado na tela. “Cheguei assistir a Glauce, ela se distinguia na TV. A expressão, a autoridade que ela tinha como intérprete, independente de gênero, com força, fé criativa cênica, é inesquecível. Ela deve ser muito mais reverenciada do que está representada na história da arte sul-mato-grossense. Não poderia, um talento como o dela, ficar preso em Campo Grande. Precisamos nos dedicar mais à história dela, aos personagens que ela desenvolveu nos palcos e na TV”, exalta.
Glauce morreu aos 40, ou 38 anos, em 12 de outubro de 1971, pouco menos de um ano após a morte de sua mãe. Sempre preocupada com a saúde, a atriz ficou obcecada por artigos sobre infartos de coração, que foi a causa da morte de sua mãe. Não diferente de enredos teatrais, ela faleceu pelo mesmo motivo. Na época jornais noticiaram que a artista morrera de tanto trabalhar, sem concluir seu último trabalho na novela ‘Hospital’ da rede Tupy.
Elogios
Nomes como Paulo Autran e Tônia Carrero teceram diversos elogios e expressaram a qualidade técnica, confirmando a importância que o teatro Glauce Rocha representa não só para Campo Grande ou Mato Grosso do Sul, mas como para toda a região Centro-Oeste. O servidor público aposentado e ativista cultural Zito Ferrari é testemunha da singularidade desta edificação, que assim como a atriz, não recebe toda a atenção que merece.
“O Glauce é o único teatro do Centro-Oeste a ter uma caixa cênica”, informa Zito, explicando que trata-se do conjunto onde ficam os elementos mais importantes de um teatro, como palco, coxias, bambolinas, que são as varetas que sustentam itens como painéis, iluminação e cenários. “Todo bom teatro tem essa caixa cênica, assim como os teatros italianos”, completa.
Iniciado no teatro em 1971, Zito chegou à Campo Grande entre 1979 e 1980 quando tinha cerca de 20 anos. Trabalhava como desenhista técnico e reprografia na área impressa da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e prestou vestibular para a primeira turma do curso de Educação Artística da instituição. Segundo ele, ‘o Glauce’, como se refere ao teatro, não foi apenas uma estrutura que servia à população e onde os espetáculos eram apresentados, mas foi palco de aprendizado para os acadêmicos. “As nossas aulas de expressão dramática sempre foram dentro do teatro, os alunos aprenderam a trabalhar lá dentro, discutindo o espaço cênico”, relembra.
Em 1981 Paulo Autran, em Campo Grande para apresentação de espetáculo, falou aos estudantes do curso de Educação Artística, incluindo Zito, e na oportunidade ele teceu diversos elogios à estrutura do teatro. Zito também esteve com Tônia Carrero, quando também atuou na Capital.
“Ela elogiou muito o teatro, os integrantes da equipe gostaram demais, diziam que não precisavam forçar a voz, pois tem boa acústica. São pequenos detalhes técnicos que o teatro sempre apresentou. Por três dias tive o prazer de estar com ela enquanto eu estava montado a peça ‘O Santo Inquérito’, eles sempre utilizavam o Glauce como exemplo. Marcou muito pra gente ter um teatro bom.”
História
Antes chamado de Teatro Popular Universitário, o prédio que foi concluído por de 1969, recebeu o nome da atriz apenas em 1971, após o Movimento do Teatro Universitário criado na antiga Fucmat com a professora Maria da Glória Sá Rosa e contava com integrantes como Silvia Sesco, Paulo Simões e Cândido Alberto da Fonseca, conta Zito.
“Em 1971 o grupo criou um prêmio de teatro com o nome da Glauce, em homenagem a ela, que havia falecido em outubro. E o governador, na época era o José Fragelli, assinou um decreto em dezembro do mesmo ano, que dava o novo nome ao teatro”, conta.
Levou dois anos para ser construído e ficou por 7 anos fechado para reformas, entre 1986 e 1992, quando o fosso para orquestras sinfônicas foi removido e o palco aumentado. Com as mudanças o teatro perdeu também cerca de 50 assentos, que são ainda os originais, “passaram apenas por reforma”, detalha Zito.
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