Dia do Índio: Mulheres terenas que conseguiram se reinventar e viver na urbanidade

Conheça a vivência de duas indígenas

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Sem a pretensão de discorrer sobre as causas e necessidades indígenas – que são importantes e devem ser debatidas com seriedade em busca de soluções -, o MidiaMAIS traz, neste Dia do Índio, dois exemplos de mulheres terenas que, em contato com os espaços urbanos, se reinventaram e buscam, cada uma de sua forma, ter harmonia e influenciar as pessoas a sua volta.

Vivendo total ou parcialmente nas cidades, muitos deles tornam-se referência em suas posições, mantendo a cultura como centro de suas vidas. Falamos com a chef de cozinha Kalymaracaya e a feirante Nilda Félix Antônio. Confira os relatos.

Referência no Brasil e no mundo

Kalymaracaya foi a primeira índia – e a única por enquanto – a conquistar a posição de chef de cozinha no Brasil. Do público em geral, a primeira reação é a surpresa e em seguida o reconhecimento. “Num primeiro momento as pessoas se assustam com uma chef de cozinha indígena, elas nunca viram ninguém igual a mim. Depois me parabenizam por er alcançado, de alguma forma, um posto muito alto, sou a única chef indígena do país”, disse ela em entrevista ao MidiaMAIS.

Kalymaracaya
Kalymaracaya (Foto: Reprodução)

A infância e juventude foram marcadas pelas dificuldades já conhecidas de tantos indígenas: as características e falta de condições financeiras. Através do Prouni ela conseguiu a formação em gastronomia e a batalha começou, mas não somente em benefício próprio. “A partir daí comecei a lutar para conseguir coisas melhores, tanto pra mim como para minha tribo”, conta.

“Atualmente estou tentando conseguir um curso que preserve a cultura e o idioma terena. Vai ser muito importante tanto pra mim, quanto para outros índios que vivem na cidade, para não se perder a cultura e o idioma”, declara.

“Procuro manter a cultura terena através do meu nome. Kalymaracaya é um resgate cultural. Somente os anciãos conhecem esse nome”, que significa gata pequena no idioma terena. “Sempre vou para aldeia, visito meus parentes, tenho um primo que é cacique, converso com os anciões, eles têm muito o que ensinar”, completa.

Em relação aos problemas, a chef explica o quanto é difícil para seu povo conseguir espaço nas cidades. “Tem que ser o melhor e se destacar para conseguir alguma coisa. Muitos patrícios não falam o Português direito, tem essa dificuldade de se comunicar com as pessoas. Existe o preconceito, algumas pessoas pensam que a gente não presta, mas nossa cultura é riquíssima e nossa gastronomia é linda. É este lado que tento mostrar. Tento mudar de alguma forma este preconceito”.

Uma vida na feira

Nilda Felix Antônio também é Terena e se divide entre a aldeia Cachoeirinha em Miranda, a 208 quilômetros da Capital, e a Feira Indígena em Campo Grande. À beira dos 70 anos de idade, ela passou mais da metade de sua vida nesta lida.

Nilda
Nilda (Foto: Marcos Ermínio)

“Meu filho, que eu criei na feira, tem 44 anos”, conta Nilda. Ela faz parte das tanta mulheres indígenas que vendem no espaço anexo ao Mercadão Municipal, diversos produtos cultivados e produzidos nas aldeias.

“A gente vende de tudo. Depende da época. Quando tem manga, a gente vende bastante manga. Quando tem pequi, a gente vende bastante pequi”, enumera.

Durante toda esta jornada, Nilda é uma das índias que trabalhou por muito tempo nas calçadas, antes que a estrutura fosse estabelecida em 1987 pelo então prefeito Juvêncio César da Fonseca.

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