Inovador e inventivo
Jair Damasceno iniciou carreira na dança e até foi o primeiro bailarino de Campo Grande, mas se consagrou também como ator, diretor, professor de teatro, dramaturgo e pesquisador. O artista completa 45 anos nas artes cênicas tendo contribuído grandemente para a cena cultural de Mato Grosso do Sul.
A pesquisa aliada à experimentação são traços de Jair, inventivo por essência, desde a composição das músicas aos arranjos de vocalização que ele chama de entoação que cria para suas peças e mais recentemente a iluminação feita com lanternas e artefatos de LED que possibilita mostrar apenas o essencial das imagens, interpretações, figurino e cenário, cabendo ao olhar sensível do público a criação da sua própria dramaturgia, chamada de repercutiva.
Para a bacharel e licenciada em Artes Cênicas e especialista em Arte Educação e Dança e Expressão Corporal Gláucia Pires, falar sobre a importância do Jair Damasceno nas artes cênicas de Mato Grosso do Sul é falar de um artista que tem como princípio básico para o seu trabalho a ética, pesquisa, dedicação e ousadia para criar, experimentar, desconstruir e provocar.
Gláucia ainda destaca a coragem em inovar e a sede em pesquisar, que derivam do perfil inquieto, resultando em diferentes propostas de resoluções cênicas e estímulo à produção teatral. Além de fomentar a formação de público, o trabalho inovador também traz desafios aos atores, explica a especialista.
“É um grande desafio, primeiramente por conta da desconstrução psicofísica que o processo criativo nos leva e depois na etapa da estruturação cênica, na qual você se vê habitando um lugar totalmente desconhecido e que lhe suscita diversas sensações. É uma experiência única! Um processo precioso e marcante para o artista”. A preferência por trabalhar com pessoas sem experiência em cena é outro ponto destacada por Gláucia. “São novas plantações, é como arar a terra e plantar, muito importante porque abre o teatro e o democratiza”.
Sobre Jair Damasceno – Nascido em Tefé, interior do Amazonas, Jair Damasceno é autodidata e traz no DNA o gosto pelas artes. O pai recitava poesia, a mãe tocava violão e cantava. Em Manaus, onde estudava, teve o primeiro contato com o teatro frequentando programas infantis no Teatro Amazonas, depois em Belém, no Theatro da Paz e aos 14 foi morar em Fortaleza, onde passou a frequentar o Teatro José de Alencar. A próxima parada foi já em Campo Grande, onde estabeleceu alicerce há 52 anos. “ Hoje temos mais de 15 grupos profissionais e semiprofissionais em Campo Grande, na época que iniciei, eram 2 ou 3 e o principal o Gutac, dirigido pelo Américo Calheiros que me convidou para participar em 1973 de um espetáculo chamado ‘Apocalise Zero Hora’. Eu entrei, gostei, e não saí mais”.
Formado em Pedagogia, Jair atuou durante 35 anos em empresa da iniciativa privada e as artes cênicas sempre foram atividades paralela e fruto da curiosidade e interesse que lhe permitiu conhecer pelo país grandes nomes das artes brasileiras com quem aprendeu através de cursos e oficinas, além de ter assistido centenas de espetáculos, nacionais e estrangeiros. Com 43 anos de dança, foi o primeiro bailarino do Estado e inovou com o primeiro nu em cena em Campo Grande na peça “Sangue Eletrônico”, texto de Veríssimo, encenado pelo Grupo Alma de Circo da UFMS.