Destaque no FIB 2017, cantor comentou polêmicas e revelou projetos

Ney Matogrosso é de uma franqueza que impressiona. O cantor nascido em Bela Vista, cidade fronteiriça a 344 km de Campo Grande, não disfarça o desinteresse em responder perguntas cansadas, ou seja, aquelas que respondeu várias vezes ao longo da vida. Todavia, um dos principais astros da MPB também revela profissionalismo até no esforço de dar o que os repórteres esperam de suas respostas, mas sem fugir da verdade.

'Não acho que artista seja obrigado a se envolver com política', fala Ney Matogrosso

As resposta, entretanto, eram reais e consistentes. Primeiro, TVs e rádios. Na sequência, veículos de imprensa nacionais conseguiram alguns privilégios, como entrevistas exclusivas. Por fim, uma coletiva com os repórteres locais. “Essa câmera precisa ficar aqui? Pode tirar ela aqui para vocês (repórteres) chegarem mais perto. Sentem, fiquem à vontade˜, comentou o cantor, fazendo sala aos jornalista.

A equipe do Jornal Midiamax acompanhou todos os depoimentos nos bastidores e também participou da coletiva. Confira os destaques:

Criação de MS (há 40 anos)

(Foto: Guilherme Cavalcante/Midiamax)“Eu era pequeno, não entendia o que era aquilo, não entendia porque queriam dividir. Só sabia que os debates acabava em tiroteio, então quando eu sabia que iam falar disso eu nem passava por aquela praça”.

Pertencimento a MS

“Francamente, esse sentimento veio à tona posteriormente. Eu estava no Festival América do Sul, em Corumbá, não lembro o ano. Mas naquele dia eu passei a me sentir parte daqui”.

Desafiar limites por meio da arte

“Sim, mas essa questão não é de gênero. É uma questão de direitos… Direitos humanos… Que eu defendo. Eu não respeitava os limites, mas eu gosto de ser do sexo masculino. Nunca pensei em copiar o universo feminino, mas eu não respeitava os limites. Gosto de ser do sexo masculino. Ao contrário de muitas pessoas hoje, que eu entendo e aceito. Acho que elas têm esse direito. Eu não tenho essa necessidade. A minha é outra”.

Apresentar-se em eventos gratuitos

“Claro, claro (que é diferente)! É um público que possivelmente não poderia assistir ao show num teatro – generalizando, claro – e o fato de poder estar mostrando isso em praça pública para mim é muito prazeroso, poder trazer para junto de mim essas pessoas e eu fazer o meu trabalho para elas”.

Sertanejo no FIB 2017

“Meu Deus! Ainda existe isso? Eu acho uma loucura isso causar ainda algum tipo de reação, porque faz parte de um espectro da música brasileira, né? Não é uma novidade, é uma música que faz parte do espectro. Qual é o problema dela estar aqui? Eu não entendo… Eu não entendo. Não sei nem como é que pode ter causado uma reação uma coisa dessas. (…) Mas, porque não? (…) Tudo é comercial. Tudo que é feito na música é para vender. Por isso eu não entendo essa coisa de sertanejo ser comercial e o resto não. Até música clássica é comercial. Eu não entendo… (…) Eles foram bem? Tocaram bem? Então?! Eu não entendo…”

Jhonny Hooker x Ney Mato Grosso

“Ah, isso não acontece regularmente, não (ser confrontado por declarações). Isso aí foi um caso isolado, tanto que eu nem reagi a ele, sabe? Ignorei. E te digo sinceramente, não fui tocado. Porque quando eu li que “do alto do meu apartamento no Leblon”, “da minha cobertura do Leblon”, eu disse: epa! Ih, tem inveja aí. E aí eu relaxei, porque vi que o problema não era eu, mas que o tem. Eu não tenho problema com ninguém. Pelo contrário, eu defendo o direito de todos. Então eu te digo, eu nem me senti… Nada. Não senti nada. Eu disse assim: vamos ver quanto tempo vai durar. Durou três dias. (…) Eu sei o que eu disse, ou ele não leu, ou pior, não entendeu. Tem um nome para isso, é… (pensativo) analfabetismo funcional”.

Presença de música fronteiriça na discografia

Já passou pela minha cabeça (registrar um disco com canções fronteiriças), tinha uma pessoa organizando isso, mas acabou passando, não foi pra frente e eu tomei outro rumo. Não me sinto obrigado a tocar esse repertório, mas gosto muito. Eu fiz recentemente com a Alzira e a Tetê e até ‘Índia’ eu cantei. Cantei ‘Chalana’. O repertório foi todo voltado a essa proposta, comecei com ‘Meu primeiro amor’, música que eu acho linda. Então, eu não tenho problema com isso, mas tem que caber dentro do momento que eu estou vivendo, né? Quem sabe lá na frente?”

Participação especial de Tetê e Alzira no show

“Não tem chance, porque meu trabalho está sem brecha, não dá para acoplar antes. E eu não vou subir antes porque já vou estar montado, então não dá para cantar com elas”.

Longevidade dos trabalhos e escolha do repertório

“Vou ouvindo, vou gostando, vou achando interessante. Se eu compusesse seria isso que eu faria. Então, são as letras que me fazer escolher por essas músicas. Mas sobre longevidade, o que está acontecendo hoje com esse trabalho nunca aconteceu antes. Eu nunca encerrei nada, a coisa acabava naturalmente, mas é diferente neste. Surgem convites o tempo inteiro e eu vou indo”

Homenagem no Prêmio da Música Brasileira

“Sim, é isso, estou aprendendo a receber homenagens. Nunca fui aberto para isso, tanto é que quando falavam em me homenagear eu me fechava, sabe? E estou aprendendo como é, a me abrir a receber isso. E nem dói, era coisa da minha cabeça (risos). Eu era maluco, eu que tinha problema, mas… Que bom que ainda tive oportunidade de aprender isso. Por que não? Não pedi isso, me ofereceram. E eu não vou aceitar? Não tô louco…”.

Ney Matogrosso durante coletiva (Foto - André Patroni e Eduardo Medeiros/Divulgação)

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Papel do artista na atualidade

“Eu não acho que artista seja obrigado a estar envolvido com política, não. Eu acho que se envolve quem quer, é direito de cada um. E não acho que a música vai fazer uma revolução. Ela já fez… De comportamento. Várias vezes. É nessa que eu acredito”

Novo trabalho

“Nesse momento eu pretendo, quer dizer, pode ser que isso mude para frente… Mas estou preparando um roteiro: eu quero abrir com ‘Bloco na Rua’, do Sérgio Sampaio e na sequência cantar ‘O que será’, a versão da Simone no Bye Bye Brasil, que é a que eu gosto mais. E aí eu vou levando o show, lá no final quero tocar ‘Coração Civil’, que eu já cantei em 84 e quero cantar de novo. Estou fazendo um repertório muito eclético, muito aberto. Não tem assim uma coisa que possa dizer que vai por aqui e por ali. Estou anotando tudo o que eu gosto de ouvir, que pode ser algo antigo, algo recente… Tem uma da Alice Caymmi que eu gostei tanto que já está na minha relação. Não sei nem o nome, não sei nada. Ouvi ela cantando, chamei o Zé (produtor) e disse, Zé, eu quero cantar essa música. Ele me falou qual é e eu anotei. Eu funciono dessa maneira, eu vou, eu vou e depois, no final eu entendo como vou organizar isso. O que estou fazendo agora é um grande rascunho, que mais para frente vou organizar”.

(O repórter é enviado especial do Jornal Midiamax para a cobertura do FIB 2017)