Fisioterapeuta atendeu atletas nos jogos

Acabaram no último domingo (21) as Olimpíadas do Rio, cuja cerimônia de encerramento tanto homenageou os voluntários que fizeram o evento acontecer. Porém, algumas dúvidas – mais para curiosidades – ainda pairam no ar quando se fala destas pessoas: afinal, o que se vê nos bastidores de um evento desse tamanho? Por que ser um voluntário? Quais as vantagens desta ocupação? E, principalmente, que histórias essas pessoas trazem na mala?

Encontramos algumas respostas. E o que dá para adiantar é que, apesar da exaustão decorrente do aprendizado intenso, as experiências de bastidores num evento como as Olimpíadas tornam-se recordações únicas para cada voluntário. Como para o fisioterapeuta Glauber Andrade Souza, 27, que há cerca de dois anos ficou sabendo do processo de seleção para os voluntários das Olimpíadas.

Interessado na troca de conhecimentos com profissionais de nível internacional, Glauber efetuou a inscrição. Passou por entrevistas e realizou cursos presenciais e online e há aproximadamente dois meses, recebeu a confirmação de que estava dentro. Comprou com o próprio dinheiro as passagens, conseguiu hospedagem e partiu rumo ao Rio de Janeiro, onde atuou por cerca de 17 dias no atendimento a atletas, na Arena Copacabana, onde ocorreram as disputas de vôlei de praia.

Entretanto, ele não sabia que o evento lhe proporcionaria muito mais que contatos profissionais. Conviver com os atletas mais famosos do mundo e estar imerso no clima das Olimpíadas deram um tempero especial à experiência do fisioterapeuta.

#PartiuRio

Com as malas prontas, Glauber viajou para o Rio de Janeiro e chegou na cidade ainda antes do evento, quando as delegações realizavam os primeiros treinos. Na Arena, ele foi designado a fazer atendimento especializado em fisioterapia para atletas, já que cada delegação só podia dispor de dois profissionais – a maioria concentrada no Parque Olímpico. Glauber atendeu atletas do vôlei de praia, cujas competições ficaram em Copacabana. E foi naquela arena que aconteceram as histórias que ele conta.

Glauber e Talita (Arquivo pessoal)“O atendimento funcionava em equipes escaladas em dois ou três turnos de 8 horas, cada, mas como a gente estava vidrado, bem compenetrado naquela experiência, acabava chegando 8h da manhã e saindo 2h da manhã. Lá tive uma vivência bem diferente da minha profissão. Aqui, quando você vai a um fisioterapeuta, é porque houve uma lesão, a pessoa já tomou remédio, etc… Com atletas é bem diferente, a abordagem ambulatorial atua muito na prevenção. E por isso mesmo a gente era muito requisitado. Se você identificava um mecanismo de lesão, você já trabalha com o técnico pra prevenir”, explica.

Segundo Glauber, havia também uma divisão de trabalho por especialidades, cerca de três, no caso dos fisioterapeutas: atendimento de atletas nos treinamentos, atendimento no ambulatório e a equipe FOP (Field of Player – Campo de Jogador, em português), que é quando o profissional se torna uma espécie de anjo da guarda para os atletas durante a disputa. Glauber atuou nas três, mas fala com entusiasmo da experiência como FOP.

“Imagina só, meu papel era garantir a integridade de uma atleta, e no meu caso foi a Talita, do vôlei de praia, que é aqui de Mato Grosso do Sul!”, narra Glauber. A partida em questão foi a que a dupla Talita e Larissa venceram as suíças. “Foi sem dúvidas o jogo mais emocionante pra gente. Os voluntários não podem comemorar. Mas eu e meu colega, o Tiago, a gente estava tão feliz com aquele jogo que a gente vibrava a cada ponto. Tinha umas dirigente da entidade que regulamenta o vôlei bem do nosso lado. Ela o tempo inteiro dizia pra gente parar, porque do contrário iam nos tirar da Arena. Mas a gente não tava nem aí”, conta.

Bastidores

Voluntários em atendimento (Arquivo pessoal)No evento internacional, não ser fluente em inglês não era exatamente um problema, segundo o fisioterapeuta. “Ah, eu arranho o inglês, não falo fluentemente, mas me viro. Por mais que a gente tivesse uma supervisão com um profissional que falasse outros idiomas, a gente se virava muito bem com as mímicas e na pior das hipóteses, com o Google Tradutor. Era só sacar o celular que estava resolvido”, relata.

Glauber também conta que havia uma grande preocupação em relação à segurança. Pra todo mundo entrar no complexo, havia uma revista, na qual todos passavam por detectores. Membros da Força Nacional revistavam as coisas. “Isso não foi mostrada, mas a segurança era impressionante, conta”.

Mas, o aspecto que mais marcou os bastidores da competição foram as diferenças culturais dos visitantes. “Cada pais tem uma cultura, uma forma de agir. Como a gente conheceu e atendeu muito atleta, pudemos entender diferenças culturais. As equipes que a gente tinha mais abertura eram as holandesas, argentinas e espanholas. Esse pessoal conversava bem com a gente, brincavam, até. Eles procuravam sempre a fisioterapia. Já os egípcios e chineses não davam abertura nenhuma, ficavam na deles”, explica.

Vantagens

Voluntário nas Olimpíadas, Glauber voltou para casa com a mala cheia de históriasNos quase 20 dias que passou no Rio, Glauber gastou – ou melhor, investiu – aproximadamente R$ 10 mil. Para ele, valeu muito à pena. “Eu quis ser voluntário porque já trabalho com atendimento esportivo, na área do muay thai e do jiu jitsu. A bagagem profissional que um evento internacional traz é muito grande. Imagina só, você está ali com oportunidade de aprender com os melhores profissionais da sua área. Toda essa experiência veio na bagagem e é algo que vou usar para profissionalizar o esporte sul-mato-grossense”, comenta.

Os primeiros frutos, a propósito, já estão prestes a serem colhidos. “Fui convidado pelo Jorge Santos, que era o chefe dos fisioterapeutas e que é um ícone da fisioterapia esportiva mundial, para acompanhar algumas etapas do circuito nacional de vôlei de praia. Dia 20 de setembro acontece uma aqui em Campo Grande e eu tô dentro”, conclui.