Ator se apresentou durante a 

Ter um domínio do palco usando poucos elementos cênicos, e tendo seu corpo e voz apenas como principal atrativo do público, já é um desafio. Fazer isso em um palco noite adentro, em meio a uma praça principal de uma cidade, é algo totalmente arriscado e difícil. Mas o ator Paulo Betti, que apresentou o monólogo “Autobiografia Autorizada” durante o Flib (Festival de Literatura de ), consegue fazer tudo isso e muito mais, apenas com sua desenvoltura e bom humor.

Em entrevista ao Jornal Midiamax após a peça, Betti revelou que foi a primeira vez que ele encenou “Autobiografia” em um palco que não fosse em um espaço fechado. “Essa peça foi concebida para locais fechados, teatros, onde há mais conforto. Na época, eu cheguei a ser convidado para fazer o espetáculo na rua, mas falei ‘ah, melhor não'. Só que eu gostei muito de ter feito aqui em Bonito, achei que foi muito bom”, explicou o ator.

“Autobiografia Autorizada” é uma peça quase que visual, pois evoca as memórias do ator, hoje com 63 anos, em sua infância pobre, humilde, porém extremamente rica de lembranças interessantes. “Minha mãe era benzedeira, eu vi meu avô morrer e ser velado naquelas mesas enormes, de fórmica. Minha avó era uma figura. Achei que valia a pena contar essa história”, acrescenta Betti. Sendo ele “os olhos de leitura” de sua mãe em uma infância de poucas posses em Sorocaba (interior de São Paulo), desde muito cedo ele aprendeu a documentar as coisas. Anos mais tarde, todos esses documentos, cartas, fotografias e objetos virariam a base deste espetáculo.

Além dos momentos de humor latente, que é uma marca também do ator em sua extensa carreira, existem trechos do monólogo de pura emoção.        Quem teve uma família grande, onde uma avó benzia as crianças e havia uma roça para se plantar, como Betti, há de se identificar com o espetáculo. São tantos detalhes belos e cheios de vida de um tempo que já se foi, que é impossível ficar indiferente. Uma ótima escolha da organização da Flib, em trazer um ator tão rico de bagagens culturais.

Despojado e simples

Paulo Betti pode ser um dos maiores atores da atualidade, mas ele gosta de simplicidade. Durante sua estadia em Bonito, fez contato com fãs, autografou livros e sempre andou pela cidade conhecendo cada loja de artesanato pantaneiro, característica muito local. Após a peça, ele optou por atender fãs e jornalistas no meio da praça e não dentro do camarim. Sua simpatia ultrapassa o texto teatral e o alcança também na vida real.

Essa vida real contada em “Autobiografia Autorizada” – cujo título brinca com o fato de ser ele mesmo a contar sua própria história – irá ultrapassar a fronteira de uma primeira produção e virará livro, só que num formato de “continuação”. “Estou escrevendo um livro da peça só que ele avança um pouco no tempo, fala da minha carreira, dos meus estudos na escola de dramaturgia, dos meus primeiros trabalhos. E ficará nesse formato literário”, anuncia. Mais um capítulo da história de um artista fascinante, contado por ele mesmo.

(A repórter viajou a convite da assessoria de imprensa da Feira)