Todos os dias, dezenas de gamers vão jogar Pokémon Go na praça

que é jornalista está em serviço 24h por dia. Como na madrugada do último domingo (14), por volta da meia noite, quando após sair de um compromisso, o repórter passou pela rua Dom Aquino, onde fica uma das entradas da Praça Esportiva . Caminho normalmente tranquilo e, muitas vezes, solitário. Entretanto, a aglomerações obrigaram-no a para o carro e saber do que se tratava. A resposta veio a galope: com tantas pessoas com os olhos vidrados nos celulares, está na cara que ali estão jogadores de Pokémon Go.

Assim comecei a semana, no Belmar Fidalgo. A caminho de casa, eu e me cachorro fomos atraídos pela movimentação de dezenas de almas que trocaram os bares pelas calçadas do Belmar. Também, pudera: duas pokéstops (pontos de interação que distribuem brindes de tempos em tempos) uma do lado da outra, ambas com o item ‘lure’ em atividade (iscas que atraem monstrinhos até à pokéstop). Em outras palavras, isso significa que àquela hora o Belmar Fidalgo havia se tornado o sonho de consumo de qualquer treinador Pokémon.

E a experiência deixou bem claro que não existe limite de idade para jogar. A maioria dos presentes, a propósito, eram adultos – de seus 20, 30 e 40 e poucos anos. Todos munidos do celular e, claro, da bateria extra.

Uma das turmas entre dezenas no Belmar fidalgo (Guilherme Cavalcante/Midiamax)

 

“A gente ta dando pelo menos uma passada por dia aqui, não é só o fim de semana. é que aqui tem um pokéstop do lado do outro, é só andar um pouquinho que pega os brindes. O pessoal fica de um lado pro outro”, comenta o estudante universitário Vagner Vicente, 19. Ele, que mora para os lados do Dhama, está acompanhado de uma turma. “Na verdade a gente tá é gastando muita gasolina vindo aqui todo dia, mas é o lugar mais cômodo de jogar, porque dá para ficar na calçada, e no Parque das Nações não tem o mesmo movimento à noite”, descreve.

Apesar de não haver postos policiais na praça – somente a delegacia de Pronto Atendimento Comunitário a cerca de duas quadras – a sensação da madrugada no Belmar é realmente de segurança. “São muitas pessoas, aqui é rota de carro. Pra roubar só se for um arrastão”, brinca a estudante Stéfany Miranda, 19. “Além disso de vez em quando passam policiais”, completa.

E passam, mesmo. Inclusive agentes de trânsito, que têm multado as dezenas de carros parados irregularmente no meio fio de cor amarela, onde é proibido estacionar. “Vim aqui na quarta e vi muita gente sendo multado, deu até pena. Jogar Pokémon pra eles saiu bem caro”, comenta o estudante de engenharia Carlos Gadelha, 18.

Cadeiras, toalhas e tereré

Jogar Pokémon no Belmar é o novo rolê do sábado à noite (Guilherme Cavalcante/Midiamax)

 

Os jogadores notívagos de Pokémon Go estão longe de parecerem os zumbis de ‘The Walking Dead’. Pelo contrário, a cena mais lembra uma espécie de pique-nique noturno, já que algumas turmas providenciaram cadeiras dobráveis, toalhas, almofadas, música ambiente, bebidinhas e, claro, o tereré, para a captura dos monstrinhos ficar mais aprazível.

“Estamos aqui desde as 21h. A gente trouxe até o Leozinho, que fez amizade com outros cachorros. Está tranquilo, não vimos pessoas mal encaradas. A gente fica aqui de boa, conversando com os amigos e esperando os Pokémon bacanas aparecerem”, conta o analista de sistemas Felipe Goulart, 25, que estava na praça com amigos. “Aqui é o novo rolê de sábado à noite. E é bom porque a gente não gasta muito”, comenta Raiana Melin, 27, psicóloga.

Com o vai e vem de pessoas, o número de presentes mantém-se quase o mesmo, porém, com um pico de 50 pessoas entre meia noite e uma hora da madrugada do domingo. Curiosamente, um grupo de quatro pessoas chegou com instrumentos musicais – percussão e violão. Um rapaz e uma moça soltavam o gogó numa clássica rodinha de violão. Enquanto isso, caçadores escutavam a ‘trilha sonora’, enquanto tentavam caçar um Pikachu.

Bullying

A reportagem provou e aprovou o Belmar como ponto de jogo (Reprodução/Pokémon Go)Ser adulto e recorrer ao conforto do Belmar para caçar Pokémon tem seus ônus. Um deles é suportar o bullying das pessoas que passam de carro pela Dom Aquino e que provocam os jogadores. “Deixa de Pokémon e vão transar!”, gritou um motorista em um HB20 branco. “Mané Pokémon Pikachu vamo beber!”, gritou o cara que conduzia um Corolla Cinza. “Bando de trouxas, vão pro bar catá muiéee!”, gritou o homem do Palio cinza.

“Ah, a gente não liga. Eles passam gritando, saem dirigindo bêbados, vão cair numa blitz que tem bem ali. Aqui a gente tá de boa, conheci novas pessoas, troquei dicas do jogo. Deixa eles falarem”, considera Rebeca Monteiro, estudante de direito, de 20 anos. “É um pouco engraçado, até, porque mais cedo um cara quase bate o carro porque colocou a cabeça pra fora pra poder provocar a gente”, diz Luana Stefanelli, nutricionista, 23.

Com a informação de que a praça concentra Pikachus, foi a minha vez de sacar o celular e procurar o Pokémon mais do jogo. Mesmo com a infinidade de ‘morcegos’ Zubat, um dos monstrinhos mais comuns e mais irritantes, consegui o meu primeiro. E vários outros raros, também. Inclusive, estou até pensando em voltar lá no próximo sábado, mais cedo, com meu cachorro. Quem sabe dou sorte e capturo um Dragonite?