Índios e urbanos: o falso parodoxo da superconexão frente à perda de cultura

“Quem determina quem é o índio não é a gente”

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“Quem determina quem é o índio não é a gente”

               

Fotos: Luiz Alberto/Midiamax

Índios e urbanos: o falso parodoxo da superconexão frente à perda de culturaNa cidade grande, com o trânsito acelerado e diversos prédios, há um espaço reservado à população indígena. As casas de tijolo, sem pintura ou reboco, têm arquitetura que remete às ocas, afinal, a intenção era reproduzir uma aldeia em meio ao ambiente urbano no bairro Tiradentes, em Campo Grande. Hoje, 19 de abril, é comemorado o Dia do Índio, e no Estado do Mato Grosso do Sul, dono da segunda maior população indígena do país, a realidade comportamental dos nossos primeiros ancestrais, em especial dos jovens, revela um suposto paradoxo : a maioria se dá muito bem com a tecnologia e alguns desconhecem as tradições dos antepassados.

Andando pela Aldeia Urbana Marçal de Souza, onde a maioria é da etnia Terena, as caixas de som posicionadas nas ruas, quando as pessoas se juntam na tradicional roda de tereré, tocam o som do sertanejo, e com os celulares em mãos, percebemos que a tecnologia e os costumes do povo da metrópole fazem parte da vida dos índios que habitam Campo Grande. Maria Silva, 18, estudante contou que seus pais nasceram na aldeia, mas que há tempos moram na cidade, onde ela nasceu. “Não falo a língua terena e sei muito pouco sobre as tradições. Nasci e cresci na cidade, me sinto bem aqui, faço parte da cidade já”, afirmou. Outra ascendente indígena que estava no local batizou seu filho de ‘Anthony’, se pronuncia igual ao inglês, “Acho bonito, gosto de nomes diferentes”, explicou a jovem.

Índios e urbanos: o falso parodoxo da superconexão frente à perda de cultura

Fotos: Luiz Alberto/Midiamax

Na Aldeia Água Bonita, na saída para Cuiabá, a situação não é muito diferente. As 190 famílias que moram no lugar ainda aguardam a legalização efetiva das terras para o nome deles – desde 2001 o processo está em andamento de acordo com o Cacique Kaiowá Nito Nelson. Alder Romeiro, 35, responsável pela horta comunitária e nascido na Aldeia Brejão, no município de Nioaque, assegura que é muito difícil voltar a morar lá. “Sou filho de Terena com Guarani, eu não falo fluente o idioma, mas sei algumas danças. Valorizo muito a minha cultura indígena, porém nos adaptamos a viver fora das aldeias, e de certa forma isso é ruim também. Aqui na cidade grande tem coisas boas, mas existem drogas, maconha… Isso não tem no meu povo” opinou Alder que esclarece que a impossibilidade de voltar a morar nas aldeias ocorre devido à falta de trabalho.

Índios e urbanos: o falso parodoxo da superconexão frente à perda de cultura

Fotos: Luiz Alberto/Midiamax

Segundo o antropólogo Álvaro Banducci, a capacidade de adaptação numa outra sociedade que o indígena possui é igual a que todos possuem. “O brasileiro absorve a tecnologia que vem de fora e a toma como propriedade, mas não é, não vejo problema do índio usar isso. Esse não é o problema. A questão é como as pessoas enxergam esse índio. Não deixamos de ser brasileiro pelo fato de usufruir dos meios modernos e nem eles deixam de ser índios”, explicou.

Banducci atentou, também, para outro ponto: o movimento de expulsão (territorial) das aldeias. “Os índios mudam para cidade pois o local de origem deles não tem mais espaço para abrigar pessoas. A luta indígena é pela terra, que pertence, sim, a eles. De outro lado temos os índios que optam por estar nas cidades para estudar, casar, enfim. A cidade seduz, mas amedronta da mesma forma. Esses que moram na cidade não perdem o vínculo com seus familiares na aldeia. Quem determina quem é o índio não é a gente” esclareceu. 

Índios e urbanos: o falso parodoxo da superconexão frente à perda de cultura

Fotos: Luiz Alberto/Midiamax

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