Com concurso cultural, revitalização da Orla Ferroviária sai do papel

Obras de requalificação do passeio já tiveram início

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Obras de requalificação do passeio já tiveram início

Quando a Prefeitura de Campo Grande começou as obras da Orla Ferroviária, que liga o trecho por onde passava a linha férrea, da Avenida Afonso Pena até à Avenida Mato Grosso, a expectativa era de que o local se tornasse mais um atrativo cultural e turístico de Campo Grande, uma espécie de corredor cultural que reunisse todas as tribos, usufruindo das belezas que a cidade pode oferecer.

Entretanto, após três anos e meio de sua inauguração, o local que fica no coração da Zeic (Zona Especial de Interesse Cultural) permaneceu no esquecimento. Não oferece segurança e acabou tornando-se reduto de traficantes e usuários de drogas. Nos vagões que deveriam fazer as vezes de quiosques, vandalismo, seringas e preservativos largados em meio à sujeira indicam que o destino da Orla Ferroviária é triste, caso a inércia continue a operar.

Todavia, esta realidade deverá mudar em breve, conforme adianta o diretor-presidente do Planurb (Instituto Municipal de Planejamento Urbano), o arquiteto e urbanista Dirceu Peters. O gestor afirma que desde que assumiu a pasta, uma força-tarefa entre várias secretarias elabora um projeto de revitalização para o espaço, que inclui desde a requalificação física do espaço e implementação de projetos que proporcionem a ocupação do local. As obras de requalificação, a propósito, tiveram início neste semana: quem passar pelo local perceberá trabalhadores consertando o piso, inicialmente.

Ao Jornal Midiamax, Peters afirmou que a força-tarefa elaborou um plano de revitalização constante, que reúne diversas secretarias, como a Funesp (Fundação Municipal de Esporte), Fundac (Fundação Municipal de Cultura), Semadur (Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente), assim como a Semsp (Secretaria Municipal de Segurança Pública), Sedesc (Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Turismo, Ciência e Tecnologia e Agronegócio), Semju (Secretaria Municipal da Juventude), além do Planurb e a Unidade de Projetos Especiais. “Estamos todos envolvidos e comprometidos com ação que vão devolver aquele espaço aos campo-grandenses”, destacou.

Segurança

A Orla na época de sua inauguração, com mesas e cadeiras ao longo do passeio (Eder Andrade/PMCG)

 

O pontapé inicial para a ocupação da Orla ocorrer passa, de acordo com Peters, pela questão da segurança pública. Já em 2015, portanto, as câmaras de segurança de largo alcance já ajudam a frustrar práticas criminosas na via. Segundo relatos de moradores da região, rondas frequentes da GCM (Guarda Civil Municipal) começaram a ser implantadas. A verba para tal vem de contrapartidas financeiras de grande empreendimentos na cidade.

Mesmo assim, a pasta se prepara para enfrentar algumas dificuldades burocráticas: o imbróglio envolvendo os vagões distribuídos ao longo do espaço precisarão de estudo jurídico aprofundado. É que o projeto inicial previa a concessão dos espaços para comerciantes e como o projeto não foi para frente, muitos abandonaram os quiosques. “É uma questão basicamente jurídica, que estamos averiguando junto à Semadur e à PGM (Procuradoria Geral do Município) qual é o procedimento acertado. Mas isso não impede que os trabalhos tenham início”, afirma o arquiteto.

Esporte, cultura e lazer

Prefeitura deve lançar concurso de grafites (Guilherme Cavalcante/Midiamax)

 

 

Existe uma espécie de ciclo vicioso que explica os fatores determinantes para que a Orla Ferroviária esteja do jeito que está. Trata-se de uma equação complexa, porém, fácil de entender: sem ocupação, o local não desenvolve e cai no esquecimento. Mas, para a ocupação acontecer, é preciso criar atrativos. “A gente entende que aquele é um espaço muito nobre, onde foi investido muito recurso público. Enquanto Prefeitura, precisamos fazer com que as pessoas se sintam convidadas a ocupar aquele espaço, mas isso só acontece quando o Poder Publico fizer a parte dele. Isso vai desde a segurança do local a criar atrativos”.

Com isso, o Planurb destaca que as atividades desportivas e culturais em planejamento deverão funcionar como os ‘imãs’ da Orla. “Todos os dias, ao longo do espaço, teremos aeróbica, alongamento e outras atividades esportivas adequadas para o local. Além disso, planejamos feiras, de vários tipo, além de eventos culturais. Teremos também cursos de jardinagem e estamos vendo a possibilidade de trazer uma feira gastronômica. Até tabela de basquete haverá ali”, adianta Dirceu. As atividades serão intensificadas aos sábados.

A novidade, mesmo, é um concurso cultural que segundo Peters está na iminência de ser publicado. “Queremos também decorar a via, homenagear os entes históricos da cidade. Por isso, nossa ideia é realizar um concurso de grafites, a serem espalhados pela Orla, que ajudem a contar, de uma maneira mais lúdica, quais são as referências culturais e identitárias de Campo Grande”, detalha. O edital do concurso, que prevê prêmio em dinheiro, ainda não está finalizado, mas já tem até um pré-regulamento e a previsão é que o edital do concurso seja lançado ainda neste mês, em meio as atividades de comemoração dos 117 anos de Campo Grande.

Expectativa de quem está lá

Com concurso cultural, revitalização da Orla Ferroviária sai do papel“Passar por aqui de noite é tenso. Eu só arrisco enquanto ainda tem sol” relata o engenheiro Frabrizio Valino, 39. Desde janeiro, ele criou o hábito de pedalar de casa, na Vila Nasser, até o trabalho. A Orla Ferroviária está na rota. “Se mais pessoas se sentirem seguras de transitar por aqui, vai haver um benefício muito grande para a cidade”, conta Valino, que emagreceu mais de 30 kg depois que começou a pedalar.

Da mesma forma, o alfaiate Isael Almeida, 61, torce para que a ocupação da Orla aconteça, de fato. “Eu não posso reclamar, antes isso aqui era bem pior. Mas, depois que o policiamento melhorou, a região ficou mais segura. Eu acho que pode melhorar para todo mundo aqui da região que tem comércio”, considera.

Já o comerciante Clevison Damasceno, 42, que mantém uma lanchonete na esquina da Orla com a Rua Maracaju. “fecho aqui às 18h. Mas, se o movimento acontecer, conforme eles prometem, vou poder fechar mais tarde, faturar mais. Só que ninguém anda aqui, todo mundo tem medo. A Prefeitura vai ter que se virar pra mudar a fama desse lugar”, conclui.

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