Piloto do acidente com Huck e Angélica não se considera herói e sonha formar os filhos

‘Fiz de tudo que estava ao meu alcance’, diz Osmar Frattini que agora teme o desemprego

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‘Fiz de tudo que estava ao meu alcance’, diz Osmar Frattini que agora teme o desemprego

O acidente com o avião que transportava a família de Luciano Huck e Angélica foi um fato que, sem dúvida, marcou a todos. Não apenas por eles serem celebridades e, além disso, uma família inteira dentro de um voo – crianças ainda com a esperança de viver toda uma vida, mas também por todos os profissionais que estavam no avião – as babás e os pilotos.

O fato é que, no dia seguinte, graças a Deus – como todos os tripulantes estão dizendo, o acidente não foi pior do que poderia ser. Todos eles estão vivos e agradecidos.

O piloto Osmar Frattini, de 52 anos, é o grande herói de toda essa situação. Afinal, foi ele quem conseguiu garantir, de maneira audaciosa, a vida de todos os tripulantes.

Nós do MidiaMAIS estivemos na casa do piloto em Campo Grande, para saber o que um herói faz no dia seguinte.

Emocionado, o piloto contou detalhes de como foi todo o procedimento do voo até o pouso de emergência. “Houve uma falha na bomba de combustível, entupiu o filtro e acendeu no painel, 10 segundos depois, acendeu a outra luz e o motor começou a perder potência o que, consequentemente, me faria perder altitude e velocidade e o tempo de voo que eu tinha até a pista do Aeroporto Internacional de Campo Grande passou de 15 para 10 minutos”, avalia.

Nesse meio tempo, Osmar disse que pensou em inúmeras possibilidades para tentar resolver o problema. “Primeiramente pensei em todas as alternativas de retorno da aeronave, como já tínhamos esgotado todas elas, comecei a sentir esperança e avaliar o que poderia acontecer lá na frente… começamos – eu e o copiloto, a procurar pistas para pousarmos”, conta Frattini.

Vale ressaltar que a todo tempo Osmar citava a competência de sua equipe, no caso, o copiloto José Flávio.

O acidente

O avião partiu da Estância Caimam em Miranda por volta das 10 horas – horário de Brasília. O comandante do voo explicou que a falha aconteceu quando sobrevoava a Serra de Maracaju, quando faltavam cerca de 10 minutos para chegar no destino final.

Às 10h52, Frattini avisou a Torre de Controle e o Esquadrão de Resgate da Força Aérea que iria fazer um pouso forçado. Ele encontrou uma área de pastagem em uma fazenda perto da MS-080, na saída para a cidade de Rochedo.

“Nesse momento, tive de manter o equilíbrio e fazer o que estava ao meu alcance e como o avião não estava correspondendo, preparamos o pouso, no fundo só ouvia os gritos, choro dela [Angélica] pelos filhos, pela família, mas não conseguia muito ficar focado lá, tinha que ficar ali, administrando aquela situação”, narra.

Pouso definido, o piloto diz que pediu ao copiloto para ‘reduzir e cortar’ – e desligar o motor, onde teve todo o sistema elétrico desligado, que é o que daria sustentação e velocidade para pousar. Até aí tudo bem. O que o comandante não esperava era avistar a boiada que estava há uns 15 metros do avião. “Tive tempo de puxar o avião pra cima e desviar do gado; poderia explodir com o impacto se o avião tivesse com os motores ligados, mas desviamos e conseguimos pousar com o motor desligado… ainda deslizamos uns 400 metros para a direita… parecia a mão de Deus segurando para que o avião não batesse de uma maneira pior”.

No momento em que pousava, Osmar disse que só pensava na família que estava a bordo e claro, em sua própria família. Ele contou também que a todo instante Luciano Huck acalmava toda sua família. “Ele foi um cara sagaz, a serenidade dele foi fundamental para aquele momento com a família dele”, diz.

Ao sair do avião, todos desceram. Angélica sentou ao chão e começou a chorar. O piloto, que teve um corte na cabeça, estava sangrando muito. “O filho deles, o Joaquim, assim que descemos disse: tio, você está todo ensanguentado”, lembra.

Depois que desceram, passou uma caminhonete no local e resgatou a todos. Osmar ficou esperando o resgate de helicóptero. “Fiquei ali pensando, agradecendo a vida e pela vida daquela família”.

Herói do dia seguinte

Osmar Frattini é casado e pai de dois filhos, Andreia Frattini, que completou 26 anos nesta segunda-feira (25) e Amaury Frattini, com 20 anos. Como ele mesmo nos disse, a vida do dia seguinte não é das melhores, porque como piloto, ele terá a carteira suspensa, o que é uma norma da Anac – Agência Nacional de Aviação Civil e até lá, não tem como prever, assim como o pouso emergencial, uma situação para com a sua vida.

“Na verdade a Anac não está preocupada se você tem que comer no dia seguinte, mas vai demorar uns 40 dias até eu poder voltar a trabalhar, só que minha família depende de mim, o aluguel da minha casa vence dia 10 e ai? Como que fica?”, explica.

Osmar e a família moravam em um bairro de classe média alta em Campo Grande. A filha, de 26 anos, estuda Medicina e o caçula Direito. Pensando em custear todo o futuro de seus filhos, Osmar e a esposa, Lucy Frattini, resolveram vender a casa que tinham pela metade do valor e investir na educação dos filhos.

“Eu tenho um gasto com a minha filha de, no mínimo, R$ 5 mil e com o meu outro filho, R$ 2 mil, fora a casa, aluguel e prestação do carro que estão atrasados, minha maior preocupação é estar desempregado, com o exame suspenso eu não posso voar e  não tenho como arcar com o sonho dos meus únicos filhos”, lamenta.

Sem nunca ter sofrido acidente aéreo, Osmar, que trabalha há 30 anos como piloto de avião e já pilotou aviões de grande porte, está há 14 como piloto da empresa de táxi aéreo e tem mais de 8 mil horas de voo no currículo.

 “A nossa classe não é bem amparada, agora eu dependo da minha profissão para viver e não tenho esperança de trabalho no próximo mês, essa é a vida de todos os pilotos… preciso tirar forças para, pelo menos, pagar a faculdade dos meus filhos, dar a eles, um futuro digno”.

Quanto a morte, ele diz: “Não tenho medo da morte, acredito nela como uma naturalidade, tenho medo de estar desempregado com uma filha prestes a se tornar médica e um advogado… eu tenho que garantir esse sonho a eles… quero estar lá, na formatura dela e viver isso com eles”, emociona-se.

Sobre ser considerado herói por toda a mídia, por conta de ser o responsável pelo voo dos globais, Osmar diz: “Não sou herói, fiz tudo aquilo que acredito dentro da minha profissão e fiz em parceria com meu copiloto, sem ele, que é a minha equipe, nada disso teria acontecido”, conta o piloto, que por muito tempo transportou famosos e autoridades como o ex-governador André Puccinelli e o atual, Reinaldo Azambuja.

Diferente das histórias de heróis de contos de fada, o piloto teme o desemprego e só quer ter condições de trabalhar para formar os filhos e ter uma tranquilidade digna, de ter novamente, uma casa para chamar de sua.

“Só sei que se me chamarem para voar em qualquer lugar do País eu vou, porque não está fácil”, conclui o piloto, que tirou seu primeiro brevê em 1984.

 

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