Para idosos não há muito o que comemorar 

Nesta quinta-feira (1º) foi comemorado o Dia Nacional do Idoso, mas bastam alguns minutos de conversa para constatar um consenso complicado de ser aceito. Não há muito o que comemorar.

Roupa social, óculos escuros e um humor impagável. Os cabelos brancos segundo ele, “são marcas de quem muito já viveu”. Esse é Nazário Oliveira, de 75 anos, homem de pele negra, olhar e voz marcantes.

Bastou me apresentar e dizer o assunto a ser tratado para a conversa fluir. Depois de gentilmente me dar uma bala de doce de leite, Nazário logo disparou. “As pessoas discriminam muito a gente por causa da idade avançada, mas talvez muitos jovens nem cheguem à idade que eu cheguei”, desabafa.

Em uma de suas memórias, o idoso lembra que já foi chamado de ‘velhote’ por um estudante que se irritou por ser aconselhado por passageiros de um ônibus, a ceder o lugar para o aposentado. “É triste ver que existem pessoas assim, mas tenho apenas dó de quem tem esse comportamento”, afirma.

Outro ponto que o incomoda é o preconceito em cima de seus relacionamentos. Viúvo desde 2013, Nazário se incomoda com as imposições sociais de que tem que ser sozinho. “Me acho um cara bacana e ainda estou gostoso. Tenho o direito namorar”, diz aos risos.

Sobre o segredo da longevidade ele não hesita. “Quer um conselho meu filho? Não beba, não fume e você só terá vitória”, completa.

Continuando minha procura por personagens na Praça Ary Coelho me deparei com Ivone Moreira, 63 anos. Durante a conversa com a idosa, constatei que o maior cenário de desrespeito com os idosos é mesmo o transporte coletivo.

Em uma de suas lembranças, Ivone que anda com o auxílio de uma muleta por conta de uma operação nos joelhos, lembra do dia em que foi xingada por uma mulher que mesmo vendo sua limitação se recusou a ser gentil. “Isso me deixa muito chateada sabe, mas o que é que eu posso fazer?” questiona.

A resposta para dona Ivone vai muito além da gentileza. É Lei!

Sancionada em 1° de outubro de 2003, a Lei Nº 10,741 (Estatuto do Idoso) enumera uma série de obrigações que devem ser cumpridas quanto o assunto é a terceira idade. Entre as atribuições, está a garantia de prioridade.

Infelizmente quando o assunto é lei, Jurcelino do Carmo, 64 anos, acaba perdendo seus direitos por falta de conhecimento. “Eu já nem tento correr atrás do que tenho direito porque não sei como agir, nem onde procurar”, confessa.

Reclamações a parte, o que mais chateia Jurcelino está longe de ser a falta de respeito dos jovens, mas a impossibilidade fazer o que ama. Por causa de uma hérnia de disco, o idoso foi obrigado a deixar a carpintaria de lado. “Às vezes olho meus serrotes e me bate uma tristeza no coração. Não tenho preguiça de trabalhar, mas a coluna não deixa”, desabafa.

Pipoqueiro na praça, Jurcelino diz que tem uma vida tranquila e deixa sua receita. “A noite foi feita pra dormir, então eu não perco noites de sono, além disso me alimento bem, não bebo e não fumo”, relata.