Família não tem dinheiro para comprar lápis nem papel para Lucas

Existem muitos talentos escondidos por ai, hoje conheci um deles, seu nome é Lucas de Souza, 17 anos, nascido em Bodoquena, cidade conhecida por ser a cidade da onça pintada e que poderá ficar famosa também por ser o berço deste artista, ainda adolescente e anônimo, estudante do segundo ano do ensino médio e desenhista nato.

Fui até a casa onde mora o adolescente com a mãe, o pai e três irmãs. Dona Rosinei de Souza Vilhalva foi quem me recebeu com um tereré estupidamente gelado, acompanhada de seu marido Emerson Lopes Vilhalva. Mulher alegre, trabalhadora e determinada a ajudar o filho alcançar seu sonho, ser um grande desenhista. A mãe revela não ter dinheiro para comprar lápis e papel, materiais básicos e essenciais para o filho criar as suas obras.

Durante a conversa com dona Rosinei, Lucas chegou da escola empolgado, pois sabia que eu o aguardava. Prontamente, correu para o quarto e trouxe suas pastas de desenhos, mostrando seus feitos com orgulho de um verdadeiro artista. Encantei-me com seus desenhos que um a um desvendava ali, na minha frente, um desenhista de talento notável.

Com olhar tímido e de voz calma, Lucas garante que se tivesse um estojo completo de desenho profissional poderia levar sua técnica a um nível maior, aprimorando cada vez mais o que sabe fazer de melhor, desenhar.

Na conversa o estudante reitera que seu maior desejo na vida é se consagrar na profissão através da criação de obras seguindo a tendência estética do realismo, “serei um grande desenhista e poderei dar um futuro melhor para minha família”, assegura o estudante.

Lucas lembra que há dois anos, descobriu sem querer e de forma inusitada que tinha o dom de desenhar retratos e paisagens. Desde então sua técnica só foi se aperfeiçoando. Hoje consegue desenhar rostos com tanta riqueza de detalhes que mais parecem fotos. Mérito exclusivo de seu talento e de sua perseverança em passar pelas suas dificuldades com alegria rumo à realização pessoal e que segundo Lucas, ser um mestre desenhista é o maior objetivo de sua vida.

Mesmo sem lápis, estudante de Bodoquena sonha em ser um grande desenhista“Eu tento chegar à perfeição, o que eu mais gosto de desenhar são rostos”, afirma o estudante.

Sua mãe lembra que certo dia estava em casa com a família e “sem mais nem menos, Lucas começou desenhar em um papel a estampa da colcha que cobria a cama das minhas filhas mais novas, copiou certinho as figuras”, diz ela.

Foram os seus primeiros desenhos, naturalmente criados pelas mãos do filho que nunca fora de desenhar quando mais novo, pelo contrário, de acordo com Lucas, “quando criança fazia uns rabiscos”, bem longe dos desenhos artísticos que hoje produz.

“Ele foi cadastrado em um grupo de uma rede social na internet e seus desenhos foram reconhecidos e receberam muitos elogios de desenhistas profissionais”, conta orgulhosa Rosinei de Souza.

No bate papo agradável que estava tendo com eles, a mãe de Lucas comentou que no começo da descoberta sobre seu talento, os amigos não acreditaram muito no dom do filho, “Uma vez estávamos em um churrasco e pediram para ele desenhar, não tinha lápis e nem caneta, ele pegou um pedaço de carvão e desenhou o rosto de uma mulher em um papel, todos ficaram encantados com o desenho”, ressalta.

Percebo então que Lucas almeja ser um profissional e viver de sua arte, ser reconhecido pelos seus desenhos e suas pinturas. A mãe lembra que certa vez ele falou, “mãe, a única coisa que eu quero mesmo, de verdade, é desenhar o realismo, quero que as pessoas se confundam ao ver meus desenhos, quero que elas pensem que meus desenhos sejam fotos”.

Dona Rosinei diz emocionada que não tem condições financeiras para comprar lápis, pois a renda familiar é pouca e que ainda por cima Lucas faz tratamento de epilepsia em Campo Grande, 250 km de distância de Bodoquena, outra adversidade enfrentada pela família.

A mãe conta que Lucas serve de inspiração para muitas pessoas que querem seguir o mesmo caminho traçado pelo jovem desenhista. “tem uma mulher de São Paulo, ela é desenhista e disse em uma mensagem pelo Facebook que um dia quer desenhar igual o Lucas, eu sempre falo para ele incentivar as pessoas”.

Nos momentos finais de nosso encontro, Rosinei de Souza faz um apelo para ajudar a realizar o sonho de seu filho.Mesmo sem lápis, estudante de Bodoquena sonha em ser um grande desenhista

“Se alguém puder ajudar com uma caixa de lápis de cor, papel específico para desenho, qualquer ajuda será muito bem vinda”, pontua.

Sai de lá com a alma lavada da esperança e da vontade de vencer na vida que Lucas exala através de seu talento nato para criar rostos que nascem da ponta de um lápis para serem imortalizados no papel. Eu não sei se o Lucas será reconhecido por seu dom, mas sei que gostei de conhecer sua história e contar que apesar das dificuldades enfrentadas no cotidiano, esta família ainda tem tempo para sorrir e principalmente, sonhar com o possível.

Os interessados em ajudar o Lucas podem ligar para o número (67) 9648-3146 para falar com dona Rosinei.