Por lá o quintal abriga plantas, animais e muitas cores

 

Em uma zona considerada rural, na entrada de Campo Grande, próximo da UCDB (Universidade Católica Dom Bosco), o Condomínio Portal da Lagoa permanece esquecido há 15 anos. Por lá, durante anos não houve serviço de água encanada. Até hoje as correspondências não chegam até as casas e é preciso ir à sede da associação dos moradores para buscar a conta de luz e de água. Considerado clandestino por conta de um “golpe” da imobiliária – como explicam os que ali vivem – a escritura dos terrenos nunca foi obtida e o bairro segue em expansão, mas apagado dos registros do município.

Foi ali que o artista plástico e educador social, Pablo Oliveira, 44 anos, construiu sua casa, a casa que ele espera que um dia seja o ponto irradiador de arte em sua comunidade. Logo de cara, a fachada colorida, com peixes coloridos por todos os lados e azul nas paredes, destoam da vizinhança sóbria. 

Uma placa discreta talhada em um pequeno pedaço de madeira deixa claro que estamos diante de um ponto de referência. A “Mandala Saberarte” como a intitulou Pablo será no futuro um espaço de arte e integração. “Meu sonho é tornar essa casa um pequeno centro de convivência para a comunidade. Um espaço de arte”, conta.

Construída sob a lógica dos quatro elementos, a casa pequenininha disputa espaço com a imensidão do quintal que por aqui é o mais importante. “Essa questão da integração com o quintal é muito importante para mim. Dou muita atenção e quero que o meu quintal seja vivo”, e certamente é.

Galinhas, gatos, cachorro e peixes o habitam num sinal claro de que harmonia é necessidade básica por lá. No chão, Pablo construiu suas famosas mandalas. Elas dividem o espaço e definem os cantos regidos pelo ar, água e fogo. “Cada mandala tem um significado. A da água tem um tanque de peixes; na do ar eu construí meu mirante para olhar para o céu e assim vai. Cada uma especial do seu jeito”, explica empolgado.

Na mandala da terra, a mais escondida, o “artista da natureza”, como é conhecido, fez sua pequena horta. “Aqui eu plantei as coisas básicas que comemos. É bom produzir algo que você consome”, diz.

O quintal de Pablo também serve de depósito, provisório, de materiais recicláveis. Como educador social ele atua com um grupo de catadores. Com eles, as lições são baseadas na autogestão. “Só os auxílio na questão da autogestão e produção coletiva. É um ótimo trabalho”, conta entusiasmado certo de que este é um assunto para outra matéria. Voltemos a casa!

Lá já funcionou um varal de poesia e algumas oficinas de artesanato. “Usávamos o espaço do terreno baldio do vizinho, mas ele construiu ali e agora reduzimos nosso espaço apenas o meu quintal. Mesmo assim, a ideia é fazer muita coisa aqui”.

Antes que nos despedíssemos, Pablo que nasceu em Aquidauana, mas vive em Campo Grande há muitos anos, nos convida a uma visita ao seu mirante construído sob os galhos de uma árvore. “É aqui que eu venho para pensar. Coloco minha rede aqui e fico olhando tudo isso. É uma sensação totalmente diferente”, traduz. Dali, além de sua vizinhança, Pablo olha para o futuro e enxerga nele a sua casinha colorida repleta de arte e gente por todos os lados.