Com o fim da ditadura da chapinha, até o shampoo pode ser abolido dos ‘cabelos livres’
As técnicas prometem devolver os cachos aos cabelos
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As técnicas prometem devolver os cachos aos cabelos
Desde o fim da década de 80 quando o famoso “permanente” – técnica de cacheamento dos fios com produtos químicos – se tornou brega, o liso impera como padrão de beleza. Dos anos 90 para cá, milhares de técnicas e subtécnicas surgiram para tentar limar o menor indício de ondulação nos cabelos. Sacada milionária para a indústria de cosméticos e prato cheio para derrubar a autoestima de quem foge ao modelo.
Produtos fortíssimos, como o formol, expuseram milhares de mulheres aos riscos de intoxicações e alergias causadas pelos procedimentos de alisamento que lotaram e lotam os salões de beleza, dos mais caros aos mais populares. Acontece que, como é sempre dito, a tal moda é cíclica e o que foi brega volta ao posto de “tendência” ao estalar de dedos de algumas it girls mundo a fora.
E quer queiram, quer não queiram, os cachos estão de volta e com força. “Os cabelos lisos não estão mais no auge, pelo contrário, há algum tempo os ondulados e crespos têm ganhado muito espaço.”, explica a estilista Bruna Fonseca, 26 anos, que, aliás, é apaixonada pelos seus fios cacheados.
Diante do que ela chama de “fim da ditadura da chapinha”, milhares de mulheres se veem dentro de um novo dilema: como reaver os cachos perdidos para os anos de alisamento? É aí que ganha força o movimento que extingue ou reduz consideravelmente o uso do shampoo, parafinas e óleos minerais.
As técnicas conhecidas como no e low poo não são novas e se tornaram populares a partir da publicação do livro “Curly Girl’ da cabeleireira Lorraine Massey. Nele, Massey que se tornou a guru dos procedimentos, expõe uma série de técnicas e formas de lidar que são apropriadas para cabelos cacheados – e o fim do uso do shampoo é um destes itens.
Mas qual é o problema do shampoo se ele deixa o meu cabelo limpo e cheiroso? Pois bem, o principal vilão seria o sulfato. A palavra é pequena, mas segundo as defensoras da técnica o prejuízo é grande.
Ele age como detergente e, portanto, é mais forte e mais agressivo aos fios do cabelo. Com as sucessivas lavagens, especialmente em cabelos finos, com tendência a ressecamento, como os cacheados e crespos, o sulfato, presente na maioria dos shampoos, vai danificando a fibra capilar, retirando não só a sujeira dos cabelos, mas também toda a proteção natural fornecida pelo sebo e pelos óleos produzidos pela nossa pele e pelo couro cabeludo.
O ciclo vicioso
Depois da lavagem agressiva, a recompensa aos fios vem por meio dos condicionadores, certo? Na teoria, esses produtos repõem aquilo que é retirado com a espuma. Mas acontece que a maioria destes produtos são compostos por silicones, derivados do petróleo (óleo mineral) ou parafina líquida, ingredientes que se acumulam nos fios criando uma capa que impede a real hidratação do cabelo. O famoso “meu cabelo se acostuma com os produtos”.
No poo e low poo
As adeptas que decidem abolir totalmente o shampoo da rotina capilar praticam o no poo. Elas higienizam o couro e os fios de cabelo com condicionador, vinagre, bicarbonato de sódio ou ainda produtos que sejam específicos para limpeza dos cabelos, mas que não são shampoos.
Já quem não consegue se livrar do shampoo totalmente, pratica o low poo, onde não se utiliza os exemplares com sulfato. É o caso de Jean Charles,18, Débora Alcântara,20, e Edna Alissa Kovalski, 23 anos. Os três deixaram de usar sulfato, óleos minerais e parafinas há algum tempo e se dizem satisfeitos com o resultado.
“No começo as pessoas estranham um pouco, mas depois percebem que realmente dá resultado e passam a acreditar na técnica’, diz Edna que buscou o procedimento na tentativa de reconstruir o cabelo que estava deteriorado pelo uso de tinturas e alisantes.
“Os resultados foram incríveis para mim. Os meus cachos reapareceram e perderam o aspecto de estragado, quebradiço. Eu ia cortar bastante, mas por sorte descobri o low poo.” Para seguir o cronograma capilar – tabela com o ritual de cuidados que incluem as etapas: hidratação, nutrição e reconstrução -, Edna investiu bastante ao contrário da maioria dos adeptos. ‘Preferi comprar produtos de algumas marcas mais caras, mas é possível fazer com muito menos”, explica..
É o caso de Débora. Além de redescobrir o próprio cabelo, a vendedora tem gostado muito da economia que eles acarretaram. “Você consegue fazer muitas coisas com produtos que tem em casa. Com azeite, mel, amido de milho e outras coisas. Sem contar, que você passa a saber exatamente o que usa no seu cabelo”, explica.
Os shampoos de bebê são uma ótima pedida para quem quer começar na técnica. Alguns deles não possuem sulfato, mas para saber ter certeza é preciso aprender a ler a composição dos produtos. “No começo é meio difícil, Você não sabe todos os nomes e acaba sendo trabalhoso, mas com o tempo a rotina de cuidados se torna natural.”
Para Jean, a descoberta do low poo, que pode ser considerada uma transição para o no, foi libertadora. Eu sempre quis usar os meus cachos, mas por ser homem sempre ouvi em casa que era preciso ter o cabelo curtinho e liso. Por implicância do pai, o então adolescente passou a alisar os fios.
Certo dia decidiu que iria bancar a própria identidade e apostar no cabelo natural. “Meu pai reclamou muito e ainda reclama, mas eu amo o meu cabelo e foi muito importante para mim assumi-lo como é. Não adiante dizer nada, que não abro mão de ter ele assim”, diz o estudante que também segue o cronograma capilar à risca.
Para Bruna, o momento da moda é favorável para quem quer assumir seus cachos, no entanto a estilista alerta para o problema de se pautar pelo que é considerado tendência. “Agora é positivo assumir os cabelos, mas amanhã pode não ser. Por isso é muito importante que as pessoas se assumam e se valorizem como elas realmente são. Por mais difícil que seja, é uma questão de amor próprio e de representatividade”, diz ao contar que sofreu muitos anos com a tentativa de esconder o próprio cabelo. “Na escola diziam que meu cabelo era ensebado porque eu passava muito creme para deixar ele sem volume que fica realmente encharcado.”
Sucesso
Com um dicionário particular e várias substancias para identificar, as técnicas exigem muita pesquisa e troca de informações, nada que as redes sociais não resolvam. Além de grupos no Facebook e WathsApp, páginas e blogs com informações sobre o assunto pipocam na internet.
Na maioria deles, as pessoas são muito solicitas e gostam de colaborar com os testes e pesquisas dos colegas. Com quase 60 mil membros, o No e Low Poo para iniciantes é um dos maiores grupos. Nele é possível encontrar muita informação, apoio e incentivo dos outros membros.
Além disso, a YouTuber Mari Morena é outra referência no assunto aqui no Brasil.Seu canal possui quase 80 mil inscritos.
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