Explosão de sensações, de imaginação e de sentimentos. Essa foi a impressão deixada pela apresentação contemporânea da turnê “Chão”, do cantor Lenine, na noite desta sexta-feira, 24 de agosto, no anfiteatro do Salomão Baruki.

O show ocorreu num espaço repleto de instrumentos e equipamentos eletrônicos, que reproduziram os ruídos orgânicos que permeiam nove das dez faixas do disco, como “Chão”, “Envergo mas não quebro” e “Isso é só o começo”. Lenine explicou ao Diário, as particularidades que moveram a composição e “Chão”.

“Meu trabalho, minhas composições são de entrega e cobro muito de mim mesmo. Sempre que me vejo na zona de conforto, exijo de mim mesmo e acabo me descobrindo, e isso estimula a criação. Acredito que neste último álbum, isso fique mais evidente. Mas tenho que ser honesto. Em cada projeto que fiz – esse é o décimo – fiz com paixão e entrega, porém, este último, a evidência de minha entrega é maior.”

O disco foi lançado em outubro de 2011, mas a turnê começou em março deste ano. O cantor já passou por boa parte do país, transpondo a arte sonora do cotidiano. “Faço músicas contemporâneas, acredito que tudo o que faço tem a ver com meu olhar, com minha percepção e ‘Chão’ é uma boa representação do meu trabalho. Para quem cria, é fundamental ter ‘orelhas de morcego’, é estar atento às coisas, porque isso pode ser elemento, símbolos e signos que eu uso para descrever minha realidade, assim como eu usei os elementos do cotidiano para compor o disco”, disse Lenine.

Da Europa para a América, a turnê “Chão” já atravessou continentes e a receptividade é a mesma, um público que compreende a linguagem sonora e expressiva. Lenine destacou que teve a oportunidade de viajar o mundo com a música e que isso é a tradução de um trabalho de entrega e de paixão. “Viajo o mundo todo com a música que eu faço, descobri cedo que o tipo de hibridagem que a minha música tem, dialoga com o mundo e isso foi bacana, não me senti sozinho. Hoje, eu tenho um lugar para cair em qualquer parte do mundo. Não tenho muita noção do que justifica meu show ser aceito em qualquer parte do mundo que eu vá. Acredito que seja contemporaneidade, por ser honesto e isso faz uma grande diferença, pois acredito que quando as pessoas veem similaridade com o autor, isso torna a obra um diálogo perfeito. Prefiro acreditar que as pessoas que curtem meu trabalho entendem que isso é minha vida e que me entrego totalmente ao trabalho”, pontuou.

Cantor, compositor e produtor, Lenine traz consigo a independência, a autonomia, que é traduzida em suas notas estudadas com esmero ao serem aplicadas em uma composição. Só pode ter esse prazer de reconhecimento, quem desfrutou da oportunidade de ouvir uma de suas composições.

“Um diferencial, é que meus discos, eu produzo, então o estilo foi meu. Nunca de uma gravadora. Eu tinha um desejo de criar um disco, eu criava e muitas vezes em meio à essa criação, encontrava uma parceria com uma gravadora que comprava o produto final, porém, foi essa autonomia que me trouxe aqui. Talvez eu não seja muito exemplo, mas entendo que isso seja um sinal pra muita gente, que pode me ver, observar que fui cabeça dura, o mundo sorriu amarelo pra mim, porém, eu tô aqui. O universo do entretenimento é difícil. É difícil achar o equilíbrio e não se ludibriar com o caminho, pois é tudo exposto. Eu só vou até a página oito, sabe, crio o meu trabalho, o apresento e depois vou pra minha casa, ficar com minha família, curtindo, aproveitando o meu íntimo preservado”, revelou Lenine.

Artista contemporâneo deve sempre estar atualizado às novidades, ao que é novo e usual. Criar uma música no facebook, foi mais uma ousadia do jeito livre e liberto Lenine de ser. “Compor não deve ter regra. Todas as redes sociais são uma ferramenta e eu convivo direto nessas redes e convivo com quem curte o que eu faço, tanto que acabei compondo ‘Tudo que falta, nada que me sobra’, durante um bate-papo no facebook com o meu parceiro Luck, e para criar a letra foi bem rápido, cerca de uma hora. Depois fui atrás da música”.

Atualidades

Além da turnê, Lenine já está envolvido em um novo desafio: criar um arranjo musical para um grupo de dança, conforme revelou ao Diário. “Estou mergulhado em um novo trabalho, pois fui convidado a fazer a trilha do espetáculo do grupo de dança ‘Corpo’. Estou feliz, pois trabalhar com dança no Brasil é um presente, afinal são poucos e eu estou nesse meio. A liberdade que tenho para criar é total. Eles me disseram ‘precisamos que 40 a 50 minutos de música inédita e você só mostra quando achar que deve’. Devo entregar, em outubro, pois o espetáculo é para 2013. É muita liberdade e adoro isso. Minha inspiração para essa composição é simplesmente a música.”

Sem pescaria, mas com orquídea

O cantor lamentou por não conseguir novamente praticar a atividades mais conhecida do Pantanal: pescar. Em contrapartida, ganhou mais um mimo para a sua coleção: uma orquídea nativa.

“Da outra vez também não consegui pescar. Mas, ao menos dessa vez eu saio feliz, pois consegui levar uma lembrança que muito me agrada, na verdade que é uma paixão, ganhei uma linda orquídea”, disse ao lembrar que em 2007, foi uma das atrações do Festival América do Sul.

Ele tem mais de seis mil orquídeas. As plantas guardam consigo bem mais que o verde das folhas e as belezas raras de suas flores, elas guardam recordações. “Toda vez que visito uma cidade e ganho uma orquídea, ela ganha uma etiqueta, onde eu anoto o lugar que eu ganhei e quando ganhei. Quando ela floresce, pego a etiqueta, vejo de que lugar do país eu trouxe aquela plantinha e me recordo, é uma bela lembrança. São muitas orquídeas, cerca de seis mil. Somente eu cuido delas. Ninguém mais cuida, então, toda segunda-feira eu tenho que estar em casa para cuidar delas, isso é alegria isso”, concluiu o cantor.