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Tecnologia na Sala de Aula: O Brasil Está Pronto para o Futuro da Educação?

O Brasil enfrenta um grande desafio na educação pública: a integração eficaz das tecnologias digitais no cotidiano escolar
Júlio Brandão -

O Brasil enfrenta um grande desafio na educação pública: a integração eficaz das tecnologias digitais no cotidiano escolar, especialmente nas regiões mais afastadas do país. Uma pesquisa conduzida por Gicelma Cláudia da Costa Xavier, em Educação e professora do Instituto Federal , revela um descompasso preocupante entre o currículo oficial e a prática real nas escolas estaduais de Rondônia, mesmo após os avanços propostos pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), implementada nacionalmente desde 2020.

A investigação, realizada em 2022 com 18 da rede pública estadual de Rondônia, demonstrou que mais da metade dos docentes ainda enfrenta sérias dificuldades para utilizar tecnologias digitais em sala de aula. As causas mais apontadas são a falta de infraestrutura adequada — como acesso à internet e equipamentos —, insuficiência na formação continuada e sobrecarga de trabalho. O estudo foi publicado no Boletim de Conjuntura (BOCA), volume 15, número 43.

A cultura digital é uma realidade indissociável da sociedade atual, mas não há como falar em inovação pedagógica sem infraestrutura mínima e apoio técnico adequado”, afirma Gicelma Claudia da Costa Xavier, coautora da pesquisa e especialista em formação docente e tecnologias educacionais. Segundo ela, a pandemia da Covid-19 expôs e agravou desigualdades já existentes, evidenciando que grande parte das escolas brasileiras não estava preparada para o ensino remoto ou híbrido.

A pesquisa seguiu abordagem qualitativa, utilizando revisão bibliográfica, análise documental do Referencial Curricular de Rondônia e questionários aplicados por meio do Forms. Entre os principais resultados, destaca-se que apenas 44,4% dos professores relataram uso rotineiro de recursos digitais. Outros 44,4% disseram utilizar esporadicamente (uma vez por mês) e 11,1% não utilizam de forma alguma.

Quando questionados sobre as razões para a baixa adesão, 66,7% dos participantes mencionaram ausência de infraestrutura adequada. Além disso, 38,9% apontaram a falta de capacitação específica e 22,2% relataram excesso de carga horária e número elevado de alunos por turma como fatores limitantes.

A pesquisa também destaca que o currículo oficial, alinhado à BNCC, prevê a utilização crítica e criativa das tecnologias digitais como parte da formação integral dos alunos. No entanto, essa diretriz se distancia da realidade prática em regiões como Rondônia, onde muitas escolas ainda enfrentam dificuldades básicas. “Sem investimentos concretos, continuaremos vendo um currículo oficial que não se materializa na sala de aula”, alerta Xavier.

Entre as propostas apresentadas para enfrentar esse cenário, o estudo sugere a adoção de ferramentas acessíveis como os aplicativos Flipgrid e Padlet, que possibilitam maior interação digital mesmo com poucos recursos. Ainda assim, os autores defendem que tais soluções só terão eficácia se acompanhadas por políticas públicas que assegurem conectividade, formação continuada e condições de trabalho adequadas aos professores.

O relatório também questiona a eficácia de programas de capacitação padronizados, que desconsideram contextos locais e necessidades específicas de cada escola e docente. “Planejar o uso de tecnologia na educação vai além de distribuir equipamentos ou aplicar treinamentos generalizados”, diz Xavier. “É preciso considerar a realidade socioeconômica, a formação dos professores e o perfil dos alunos.

A professora Gicelma Xavier, com experiência em projetos educacionais voltados à tecnologia desde o início dos anos 2000, foi também participante do programa norte-americano ILEP (International Leaders in Education Program), onde se   aprofundou em metodologias para uso de tecnologias digitais no ensino. No Brasil, ela coordenou projetos no IFRO e atualmente atua no Instituto Federal Fluminense, sendo reconhecida por sua atuação na formação docente e na pesquisa sobre educação digital.

A pesquisa conclui que o Brasil ainda está distante de garantir um futuro educacional verdadeiramente digital, inclusivo e equitativo. Rondônia serve como exemplo emblemático das desigualdades estruturais que desafiam a implementação da BNCC em sua plenitude. O estudo reforça que não basta atualizar os documentos oficiais: é necessário transformar as condições reais das escolas, começando por reconhecer que o acesso à tecnologia educacional é, hoje, um direito fundamental.

A transformação mais complexa é a do desenvolvimento integral de cada estudante e o avanço da consciência social inclusiva”, finaliza Xavier. “Tecnologia não é apenas ferramenta, é parte do direito à educação de qualidade no século XXI.

Com base nesse diagnóstico, a urgência recai sobre os gestores públicos, que precisam atuar de maneira mais incisiva para garantir não só equipamentos e conectividade, mas também a valorização e o suporte necessário aos professores. Apenas assim, a escola brasileira poderá finalmente se alinhar ao futuro da educação.

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