A pandemia do COVID-19 teve um impacto devastador e foram os  empreendedores sociais que intervieram para minimizar o impacto sobre os mais vulneráveis ​​do país.

Aqui, olhamos para a diferença que eles fizeram e continuam fazendo para os mais necessitados no Brasil.

A pandemia do COVID-19 foi um pesadelo para o país. Três de seus maiores desafios foram a fome, o desemprego e o colapso do sistema de saúde. 

Com os setores público e privado sobrecarregados, os empreendedores sociais se esforçaram para minimizar seus efeitos, especialmente entre as comunidades mais vulneráveis ​​do país.

Os empreendedores sociais se mostraram essenciais durante a pandemia

Eles se espalharam por um território de 8 milhões de quilômetros quadrados e se conectaram em redes, distribuindo alimentos, máscaras e equipamentos médico-hospitalares. 

Muitas vezes se mostraram mais ágeis e eficazes do que o Governo e até desenvolveram programas emergenciais de transferência de renda  a fim de permitir que as pessoas nas favelas comprassem comida, gás, remédios e suprimentos de emergência, sem burocracia e filas. Isso também foi crucial para apoiar os pequenos negócios, descentralizando o comércio e a distribuição de mercadorias.

Empresas sociais e ONGs de saúde digital tornaram-se importantes aliadas dos governos federal e estadual, oferecendo a telemedicina como alternativa em meio ao colapso do sistema público de saúde. 

Depois de lutar por anos para se tornar uma política pública e ser adotado pelo SUS, o modelo de telemedicina foi endossado pelo Ministério da Saúde em caráter emergencial em meio à crise, tornando-se um apoio permanente para garantir o acesso aos cuidados básicos de saúde

Transparência, ferramentas de gestão e logística foram necessárias para receber grandes doações (dinheiro, alimentos, etc.) durante a resposta à emergência. Foi um momento histórico para o investimento social privado no país. Em dois anos, mais de R$ 7 bilhões foram destinados pelo setor privado para ações e organizações sociais na linha de frente da pandemia.

A pandemia se afastou, mas os empreendedores sociais de todo o Brasil seguem inovando para soluções sustentáveis ​​e inclusivas. Eles fazem isso através de iniciativas como:

1. Empoderar empresas de propriedade de negros

Aproximadamente 56% dos brasileiros, uma população de 110 milhões, são afrodescendentes ou mestiços. Apesar disso, a população negra ainda é considerada um nicho de mercado e sua economia é gravemente sub-representada. 

O país tem aproximadamente 14 milhões de empreendedores negros, dos quais 82% não chegaram nem a abrir CNPJ e não estão registrados na economia formal, o que faz com que enfrentem muitos bloqueios estruturais no acesso à educação profissional, recursos financeiros como empréstimos ou acesso a maquininhas de cartões.

Adriana Barbosa iniciou sua jornada empreendedora em São Paulo em 2002 organizando uma feira para empreendedores negros. Desde então, isso se tornou um grande sucesso cultural e econômico, reunindo anualmente mais de 260 empreendedores, 40.000 visitantes e um fluxo de receita de cerca de R$6 Milhões. O Festival Feira Preta é o maior evento sobre cultura negra da América Latina e um espaço de igualdade de oportunidades para mostrar e celebrar as tendências afro-contemporâneas nas artes e na economia criativa.

A organização de Barbosa, PretaHub, atua como aceleradora e incubadora de iniciativas negras, mapeando seu ecossistema empresarial, promovendo a profissionalização por meio da cursos gratuitos, formação técnica e criativa de empreendedores, ensinando quem não tem acesso a uma boa agência de marketing digital a conseguir alcançar clientes e compradores, articulando esse segmento da economia e abrindo canais comerciais no país e na América Latina.

2. Dança e Esporte

Celso Athayde nasceu em uma das áreas mais violentas do Rio de Janeiro. Aos 16 anos, já havia morado nas ruas e em três favelas. Sua exposição à música hip-hop mudou drasticamente a maneira como ele via a sociedade. Isso o levou a criar a CUFA, com o objetivo de inspirar consciência política entre os moradores das favelas, principalmente pessoas de cor. Atualmente, a maior organização sem fins lucrativos focada em favelas do Brasil, a CUFA usa o hip-hop e o esporte como ferramentas para ajudar os jovens a formular opiniões sobre questões sociais e propor soluções.

3. Uma Panela e Um Fogão

Em 2013, Celso Athayde também fundou o Favela Holding, um consórcio de 24 empresas voltado para a inclusão social e o empoderamento econômico das favelas por meio da geração de empregos, oportunidades de negócios e empreendedorismo social.

Bruna Bozano, especialista em negócios digitais, comenta o assunto: “O brasileiro sempre foi titular de uma criatividade e uma força de vontade indescritíveis. Uma panela de ferro e um fogão e a Dona Maria começa a fazer marmitas para vender pelo bairro. Com muito pouco, sempre se fez muito. Durante a pandemia, as plataformas digitais – especialmente os aplicativos – ajudaram esse perfil de empreendedor a continuar trabalhando, mas foi a capacitação e o incentivo de grupos como o Favela Holding que ajudaram (e ajudam) moradores das comunidades  a verem oportunidades onde a maioria das pessoas só conseguiria ver dificuldade.”

4. Revolucionando o conceito de resíduo

Em 2010, o Brasil produziu cerca de 12 milhões de toneladas de plástico . É o quarto maior produtor do mundo atrás da China, Estados Unidos e Alemanha. Ao mesmo tempo, um estudo descobriu que 7,2% dos resíduos plásticos na América Latina e no Caribe eram “mal administrados” – sendo jogados fora ou descartados de forma inadequada, o que significa que era mais provável que acabassem no oceano.

O engenheiro de materiais brasileiro , Guilherme Brammer, ficou tão frustrado com a falta de reciclagem adequada que viu em sua cidade natal, São Paulo, que em 2011 criou o Boomera para encontrar novas maneiras de reviver o valor e reutilizar o material difícil de reciclar produtos residuais que geralmente acabam em aterros sanitários, como fraldas descartáveis, bitucas de cigarro e cápsulas de café. O resultado é material reciclado pós-consumo (PCR).

Trata-se de um negócio revolucionário de economia circular que reúne indústria, academia e agentes ambientais, envolvendo pesquisa e desenvolvimento, design de produtos e logística reversa. Até o momento, encontrou soluções para muitas grandes empresas, incluindo Procter & Gamble, Adidas e Nestlé.

5. Saúde em Todo Lugar

Em um país onde 65 milhões vivem em cidades com menos de um médico para cada mil habitantes, o SAS Brasil leva o acesso à saúde especializada a 320 cidades em 21 estados, com profissionais voluntários e tecnologia de ponta. Fundada por Adriana Mallet, a ONG foi pioneira no uso da telemedicina para pacientes com câncer em 2019 e, com a autorização do modelo pelo Ministério da Saúde na pandemia, aperfeiçoou a plataforma e a levou para as periferias, do Jardim Colombo ao Complexo do Alemão, oferecendo monitoramento remoto contra a COVID-19. Mais de 40.000 pessoas atendidas.

Para isso, em dez dias estruturou uma plataforma de atendimento médico e psicológico online, com triagem e agendamento por WhatsApp. Também instalou cabines de teleatendimento auto esterilizantes nas comunidades, com sistema de desinfecção, aparelhos para medir sinais vitais, prontuário eletrônico e impressora de receitas. E, criou a Unidade Avançada de Telemedicina, um espaço móvel de apoio ginecológico, dermatológico, oftalmológico e dentário. Com propósito e inovação como ferramenta, o SAS Brasil deixa o legado pós-pandemia de uma trilha completa de inclusão digital na saúde.

6. Prisão Sem Grades

A população carcerária do Brasil está próxima de 700 mil , uma das mais altas do mundo , superada apenas pelos Estados Unidos e China. Ele está sob a pressão de uma taxa de ocupação cerca de 165% maior do que sua estrutura permite. Além disso, a taxa de reincidência de presos brasileiros também é altíssima – cerca de 70% .

Valdeci Ferreira faz parte de uma missão de longa data para mudar isso. É diretor da Fraternidade Brasileira de Assistência ao Condenado (FBAC) , organização não governamental, sem fins lucrativos, que administra um sistema prisional privado religioso e de propriedade privada: a Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (APAC).

As prisões da APAC são tão radicalmente diferentes do sistema tradicional, que os presos recebem as chaves de suas próprias celas. Concluindo que o sistema estadual havia mais ou menos abandonado seus presos, Ferreira decidiu fazer algo a respeito. Enquanto pesquisava o que poderia fazer para efetuar uma mudança útil, Ferreira se deparou com a APAC, uma forma de encarceramento que conseguiu colocar os presos de volta em pé.

Em seu cerne, está a ideia de que todos são capazes de mudar – com as oportunidades certas. Os resultados falam por si – a reincidência varia entre 7% e 20% e o custo para o erário público é um terço do gasto nas prisões estaduais.

*Esta é uma página de autoria de MARCO JEAN DE OLIVEIRA TEIXEIRA e não faz parte do conteúdo jornalístico do MIDIAMAX.