Pular para o conteúdo
Geral

O compositor que jogou luz sobre o incompreensível

O compositor americano Stephen Sondheim, que morreu nesta sexta-feira, 26, aos 91 anos, tinha uma obsessão: jogar alguma luz sobre algo incompreensível
Arquivo -
O compositor americano Stephen Sondheim, que morreu nesta sexta-feira, 26, aos 91 anos, tinha uma obsessão: jogar alguma luz sobre algo incompreensível para a cultura média americana. Assim, ao longo de mais de 60 anos, criou musicais que, se pareciam estranhos na reluzente Broadway, foram capazes de mostrar ao público imagens de si mesmo, especialmente de suas imperfeições e temores.

Foi assim em Folies, Sweeney Todd, Sunday in the Park with George, Passion e naquele que talvez seja seu maior trabalho, Company, certamente um dos cinco maiores musicais de todos os tempos. Mas Sondheim não facilitava: a parcela do público que buscava montagens mirabolantes e com efeitos, que assistisse a O Fantasma da Ópera ou Cats – o que ele oferecia era uma música elaborada, com letras e melodias sofisticadas, e que tratavam de algo complexo mas simples, ao mesmo tempo: o relacionamento humano.

Em Company (1970), por exemplo, que foi montado no Brasil, entre outros, pela dupla Charles Möeller e Claudio Botelho (versão conferida in loco e aprovada pelo próprio Sondheim), o personagem principal, Robert, é um rapaz solteiro que vive no centro de atenções de três casais de amigos. Amado pelas mulheres e idolatrado pelos homens, ele insiste em manter sua solteirice, o que provoca uma suspeita de ser homossexual.

DRAMATURGIA E CANÇÕES

Uma dica sobre quem era o discretíssimo Stephen Sondheim, que despertou paixões em seres de todos os sexos. A começar por uma amiga de infância, Mary Rodgers, filha do compositor Richard Rodgers, que formou uma clássica parceria com Hammerstein II – juntos, eles definiriam o que seria um musical da Broadway a partir dos anos 1940, ou seja, a perfeita união entre dramaturgia e canções.

Hammerstein foi mentor de Sondheim que, com ele, tomou lições preciosas como o de apostar em sentimentos verdadeiros – especialmente os próprios. E, se Rodgers e Hammerstein abriram as fronteiras do moderno musical, Sondheim pavimentou essa estrada, colocando ainda a sinalização correta. E, enquanto muitos (notadamente Andrew Lloyd Webber) buscaram o caminho do sucesso popular, Sondheim continuou nas importantes vias laterais, inspirando-se em diversos ramos da cultura (do ragtime ao kabuki) para contar histórias de difícil digestão, como a do barbeiro que corta o pescoço de seus clientes para vender sua carne em pastéis (Sweeney Todd) ou de sujeitos que tentaram matar presidentes dos EUA (Assassins).

SURPREENDENTE

Mas, se fosse necessário apenas um espetáculo para solidificar a importância do trabalho de Sondheim no cancioneiro mundial, bastaria West Side Story ou, como é chamado no Brasil, Amor, Sublime Amor.

Versão moderna de Romeu e Julieta, metáfora sobre a ameaça que os imigrantes significam a um país rico, a eterna briga pela conquista do território – West Side Story ainda provoca leituras diversas, mas em um detalhe todos são unânimes: trata-se do musical que revolucionou a Broadway. Quando foi montado, em 1957, surpreendeu não só pelos temas, mas por apresentar uma ação que passava para a dança de forma natural, como se a coreografia fosse extensão dos movimentos dos atores.

À época com apenas 28 anos, Sondheim trabalhou suas letras com craques como Jerome Robbins (coreógrafo-diretor) e Leonard Bernstein (autor das melodias). A parceria, que foi muito atribulada e várias vezes interrompida (o intempestivo Bernstein tratava Sondheim como aprendiz), resultou em canções hoje clássicas como Maria e Tonight. Em West Side Story, os números musicais ajudam a narrar a trama e definem o caráter dos personagens. Daí a comprovada importância dos papéis considerados secundários.

O musical ganhou uma versão para o em 1961 e conquistou 10 Oscars, inclusive de melhor filme do ano. Uma nova versão estreia mundialmente em dezembro, com direção de Steven Spielberg. Na semana passada, em uma entrevista para a TV, Sondheim elogiou o longa, especialmente o trabalho do dramaturgo e roteirista Tony Kushner para encaixar as canções em novas situações.

Entre os projetos inacabados do compositor, destaque para Buñuel, inspirado em dois filmes do diretor espanhol, O Anjo Exterminador e O Discreto Charme da Burguesia. O espetáculo chegou a ter leituras e oficinas, mas foi abandonado, sem uma razão específica.

Stephen Sondheim conquistou oito prêmios Tony e oito Grammy, além de um Pulitzer e um Oscar.

 

 

Compartilhe

Notícias mais buscadas agora

Saiba mais

Deixou para última hora? Inscrições para vagas com salário de R$ 13 mil no Corpo de Bombeiros encerram amanhã

acidente

Tragédia: mãe e filha morrem após carro cair de ponte próximo ao Rio Ivinhema

Mulher é encontrada morta em residência do Portal Caiobá

buscas

Motorista de carro que afundou no Rio Paraguai era cearense de 35 anos

Notícias mais lidas agora

operação turn off

Turn Off: Justiça cita prejuízo de R$ 12 milhões ao manter bens de ex-servidora bloqueados

Julgamento de PM que matou bioquímico em sala de cinema segue sem data marcada

Entregador

Jovem tem orelha dilacerada e artéria rompida após ataque de pit bulls no Jockey Club

Sinner vence revanche contra Alcaraz de virada e conquista o título de Wimbledon pela 1ª vez

Últimas Notícias

Transparência

Ministério Público Eleitoral investiga troca de esterco por voto em eleição extra do município de Bandeirantes

Denúncia é sustentada por um áudio que reproduziria diálogo do prefeito eleito

Esportes

Chelsea contraria a lógica, goleia o PSG e garante título do mundial

Ingleses deram um verdadeiro show de futebol, com três gols ainda no primeiro tempo

Polícia

Policias prendem dupla suspeita de tentativa de homicídio em casa noturna de Dourados

Vítima foi atingida por quatro tiros e encaminhada para o hospital em estado grave

Transparência

Vereador que integra Comissão de Segurança Pública em Campo Grande tem escritório político invadido e furtado

Flávio Cabo Almi, do PSDB, é defensor da internação compulsória de usuários de droga