Pular para o conteúdo
Geral

Etiópia: Ocidente pede cessar-fogo, mas premiê eleva tom contra rebeldes

A volta do conflito entre o governo central e rebeldes da região do Tigré completa um ano neste mês
Arquivo -

Em meio a uma escalada de tensão evidenciada também na retórica beligerante do primeiro-ministro, Abiy Ahmed, que venceu o Prêmio Nobel da Paz de 2019, a Etiópia viu crescerem os pedidos internacionais por um cessar-fogo. A volta do conflito entre o governo central e rebeldes da região do Tigré completa um ano neste mês.

Na quarta-feira, 3, a ONU voltou a fazer alertas para violações de direitos humanos na guerra entre as forças do premiê Abiy Ahmed e a TPLF (Frente de Libertação do Povo do Tigré), partido que hoje controla essa região ao norte do país. Segundo relatório das Nações Unidas, o conflito é marcado por “brutalidade extrema” e todos os envolvidos podem ter cometido crimes contra a humanidade.

O documento aponta que os dois lados cometeram atos de tortura, estupraram homens e mulheres e mataram civis, além de fazerem prisões étnicas. O Departamento de Estado dos EUA disse que vai “analisar cuidadosamente” o relatório.

O enviado americano para a região conhecida como Chifre da África, Jeffrey Feltman, foi deslocado nesta quinta-feira, 4, para Adis Abeba com a missão de pressionar as autoridades pelo fim das operações militares e pelo início das negociações de cessar-fogo. O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que conversou com Ahmed e se ofereceu para ajudar a criar as condições para um diálogo.

A posição também foi adotada pela União Europeia, pela Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento (Igad) – bloco de oito nações da África Oriental que atua como mediador nos conflitos do Sudão do Sul – e pela alta comissária da ONU para os direitos humanos, Michelle Bachelet.

“Esta investigação é a oportunidade para que todas as partes reconheçam suas responsabilidades, comprometam-se a adotar medidas concretas em termos de responsabilidade e reparação às vítimas e encontrem uma solução sustentável para acabar com o sofrimento de milhões de pessoas”, afirmou a ex-presidente chilena na apresentação do relatório das Nações Unidas, em Genebra.

O texto tem como base 269 entrevistas confidenciais e reuniões com autoridades locais e federais, representantes de ONGs, profissionais da área da saúde e sobreviventes de episódios de abusos – metade das mulheres ouvidas foi vítima de estupros coletivos.

As entidades ainda acusam o governo central de novamente bloquear ajuda humanitária. Nenhum comboio humanitário entra no Tigré desde 18 de outubro, segundo a ONU.

Em resposta, Abiy Ahmed disse que o relatório “demonstra claramente que as acusações de genocídio são falsas e não têm nenhuma base”. Em comunicado do governo, ele rechaçou as alegações de que suas ações resultaram na morte de civis por .

Decepção

Ahmed recebeu o prêmio Nobel da Paz em 2019, por seus esforços na resolução do conflito entre a Etiópia e a Eritreia, e também por liberar presos políticos, autorizar o retorno de partidos políticos proscritos. A retórica do premiê, no entanto, tem indicado tudo menos um recuo. Em postagem nas nesta quinta-feira, confirmada por autoridades à agência Associated Press, o governo etíope voltou a atacar os rebeldes com comparações agressivas. “Como diz o ditado, ‘um rato que se afasta de sua toca está mais perto da morte'”, dizia o texto.

“A cova que está cavada será muito profunda. Será onde o inimigo será enterrado, não onde a Etiópia irá se desintegrar”, disse Ahmed em um discurso durante um evento no quartel-general dos militares em Adis Abeba. “Vamos enterrar esse inimigo com nosso sangue e ossos, e tornar a glória da Etiópia alta novamente.”

Outro pedido para “enterrar” o inimigo em uma publicação na página do premiê no no fim de semana foi removido pela plataforma por violar suas políticas contra incitação e apoio à violência, segundo a empresa.

Ao mesmo tempo, o primeiro-ministro rejeitou os pedidos de negociação e acusou as forças do Tigré de exagerarem sobre seus ganhos territoriais. “Este país não cede à propaganda estrangeira, estamos travando uma guerra existencial”, disse comunicado do governo. Um porta-voz ainda acusou a mídia internacional de ser “excessivamente alarmista” e de “perpetuar a propaganda terrorista como verdade”. Dias antes, o premiê havia pedido para que cidadãos pegassem em armas para se defender dos insurgentes.

Na terça, Ahmed declarou estado de emergência por seis meses em toda a Etiópia, depois que a TPLF anunciou ter avançado sobre outras regiões do país e considerou marchar até Adis Abeba. Desde então, a polícia prendeu dezenas de pessoas.

Um porta-voz dos rebeldes informou nesta quarta que suas tropas estavam na cidade de Kemise, na região de Amhara, a 325 km da capital, e haviam se juntado a combatentes de um grupo da etnia oromo, o Exército de Libertação Oromo. “Não temos a intenção de atirar em civis e não queremos derramamento de sangue. Se possível, gostaríamos que o processo fosse pacífico”, disse.

Analistas, porém, acreditam que uma possível tomada da capital só se daria após os rebeldes assumirem o controle da estrada que liga Adis Abeba ao Djibuti, evitando, assim, contra-ataques de possíveis aliados do governo central.

Nesse contexto, a comunidade internacional receia que a guerra se espalhe para além das fronteiras etíopes. A conselheira especial da ONU para a prevenção do genocídio, Alice Wairimu Nderitu, disse em um evento online nesta quinta que se isso acontecesse seria “algo completamente incontrolável”.

A embaixada dos EUA na Etiópia autorizou a saída voluntária de alguns funcionários e familiares. O conflito atual começou em novembro de 2020, quando grupos leais à TPLF tomaram bases militares no Tigré. Em resposta, Ahmed, enviou tropas para a região.

O hoje grupo insurgente dominou a política nacional por quase três décadas, mas perdeu influência depois de o atual primeiro-ministro assumir o cargo, em 2018, após anos de protestos contrários ao governo da época.

As relações com a frente do Tigré, por sua vez, azedaram depois que Ahmed foi acusado de centralizar o poder à custa das administrações regionais do país, acusação que o premiê nega. No último ano, o conflito matou milhares de pessoas, forçou mais de 2 milhões a fugirem de casa e deixou 400 mil etíopes em situação de fome no Tigre.

 

(Com agências internacionais)

Compartilhe

Notícias mais buscadas agora

Saiba mais

Filhotes de cachorro são resgatados após serem abandonados em cova de cemitério em MS

cepol

Homem é espancado por grupo com barra de ferro e socorrido com traumatismo craniano em Campo Grande 

Grêmio é dominado na etapa final, perde para Alianza Lima e se complica na Sul-Americana

Senadores aprovam MP que aumenta vencimento de militares

Notícias mais lidas agora

carne frigorifico

Após MS suspender exportação de carne para os EUA, sindicato prevê normalização do mercado em poucos dias

relatoria tereza nelsinho

Nelsinho e Tereza confirmam ida aos EUA para pedir novo prazo do tarifaço de Trump

Vanildo e Fabiana, transplante de rins

Dez anos após transplante de rim, Vanildo celebra a vida ao lado de doadora do órgão

Idoso tem Pampa amarela sem gasolina furtada de quintal em Coxim

Últimas Notícias

Polícia

Prisões ligadas a tiroteio na fronteira de MS revelam esquema de roubo de veículos

Na residência de uma mulher investigada, a polícia apreendeu dois utilitários esportivos

Polícia

Polícia investiga abuso contra menina após descoberta de caderno em casa de MS

Família se mudou de cidade e caderno foi deixado para trás

Leandro Mazzini - Coluna Esplanada

Kassab já articula lançar Tarcísio candidato a presidente pelo PSD, com Ciro Nogueira de vice

Próprio Kassab disputaria o Governo de São Paulo

Bastidores

[ BASTIDORES ] Tarifaço sobrou até para Napoleão Bonaparte

Parlamentar comparou situação com relação de Dom João VI e líder francês