A tomada de Fallujah e parte de Ramadi por milicianos ligados à Al-Qaeda demonstra o ressurgimento da rede islamita e lembra os dias mais sangrentos da insurgência imediatamente posterior à invasão do Iraque pelos Estados Unidos em 2003.

As forças afiliadas à Al-Qaeda no Iraque tinham perdido boa parte de sua influência a partir do fim de 2006 quando milhares de sunitas horrorizados pela brutalidade da rede decidiram tomar as armas contra esta organização, dando, assim, um valioso apoio aos Estados Unidos.

Contudo, a rede criada pelo saudita Osama Bin Laden voltou com energia renovada nas mãos do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL), incendiando o conflito na vizinha Síria desde 2011.

A organização se transforma em uma importante força na guerra civil síria e, no Iraque, demonstrou do que é capaz, perpetrando atentados com bomba contra civis e tomando prisões.

“O Estado Islâmico do Iraque e do Levante soube aproveitar suas redes e sua capacidade no Iraque para cimentar uma forte presença na Síria. Ao mesmo tempo se serviu de sua presença na Síria para melhorar sua posição no Iraque”, explica Daniel Byman, do Brookings Institution, um think tank com sede em Washington.

O grupo islamita “recuperou a capacidade de realizar um combate de guerrilhas limitado e uma campanha terrorista sustentada”, afirma.

O EIIL subiu de nível com a tomada de parte de Ramadi e da totalidade de Fallujah, duas importantes cidades da província iraquiana de Al Anbar, no oeste do país. As duas foram o epicentro da insurgência que se seguiu à invasão norte-americana do Iraque em 2003.

Os insurgentes declararam na sexta-feira que agora “Fallujah é um Estado islâmico”.

Objetivos além do Iraque “A força, o controle territorial e a influência do EIIL têm crescido em Al Anbar há um tempo”, lembra Charles Lister, do Brookings Doha Center.

“Seus objetivos vão muito mais além do Iraque, mas o objetivo transnacional de estabelecer um Estado islâmico do Levante só pode ser conseguido uma vez que sejam criados miniestados” como o proclamado em Fallujah, acrescenta Lister.

“No contexto iraquiano, Al Anbar e a província de Nínive são de importância crucial, dado seu contato direto com o leste da Síria”, acrescenta o especialista.

O porta-voz do Ministério Iraquiano de Defesa, Mohamed al Askari, também destaca a importância da conexão com a Síria.

Segundo ele, as fotografias aéreas e outras informações coletadas apontam para “a chegada de armas e equipamentos avançados da Síria ao deserto de Al Anbar e a fronteira da província de Nínive”, o que ajudaria os islamitas a restabelecer seus acampamentos de treinamento, eliminados recentemente pelas forças de segurança.

John Drake, especialista em segurança na companhia de gestão de riscos AKE Group, afirma que a situação na província de Al Anbar “é comparável aos dias ruins do apogeu da insurgência”.

Contudo, embora a tomada de Fallujah possa dar credibilidade a EIIL, manter o controle sobre os territórios pode ser muito complicado.

“Dará mais credibilidade ao grupo, mas, a longo prazo, terá que andar com muito cuidado para não despertar outra vez a cólera da população local”, aponta Drake, se referindo à brutalidade que indignou os sunitas de Al Anbar e os levou a se mobilizar contra a Al-Qaeda em 2006.

“O EIIL demonstrou que pode atacar com rapidez e dureza”, disse Michael Knights, do Washington Institute for Near East Policy.

Mas, paradoxalmente, “a força crescente do EIIL poderia prejudicar a organização, porque as batalhas abertas por terrenos urbanos favorecem o governo”, acrescenta Knights.