A batalha no mercado de telecomunicações do Brasil se intensificou nesta quinta-feira com as concorrentes europeias Telecom Italia e Telefónica fazendo ofertas rivais pela GVT, unidade de banda larga brasileira da Vivendi.

A Vivendi, que irá analisar as propostas em uma reunião do conselho nesta quinta-feira, deve agora escolher se quer sair do seu último negócio de telecomunicações remanescente após a venda de suas operações móveis franceses e marroquinas e se concentrar mais em mídia.

O magnata francês Vincent Bolloré, que é presidente do Conselho da Vivendi e seu maior acionista, conduziu as negociações com a Telefónica e com a Telecom Italia nas últimas semanas, e sua visão vai pesar muito no resultado.

A espanhola Telefónica disse que elevou uma oferta inicial de 6,7 bilhões de euros para 7,45 bilhões de euros pela GVT, aumentando a parte a ser paga em dinheiro da oferta inicial feita no início de agosto.

A Telefónica, que é indiretamente a maior acionista da Telecom Italia, também daria à Vivendi uma participação de 12 por cento na empresa brasileira combinada com a GVT, da qual cerca de um terço pode ser trocado por uma participação de 5,7 por cento na Telecom Italia se a Vivendi assim quiser.

A Telefónica informou que sua oferta expira na sexta-feira, a menos que mantenha negociações exclusivas, caso em que a validade da proposta duraria três meses.

A Telecom Italia disse que fez uma oferta em dinheiro e ações que avalia a GVT em 7 bilhões de euros (21 bilhões de reais), incluindo 1,7 bilhão de euros em dinheiro, uma participação de 15 por cento na nova empresa brasileira e de cerca de 20 por cento do capital ordinário da Telecom Italia, ou 16 por cento de seu capital social.

A companhia precisa da GVT para fortalecer sua operadora de telefonia móvel brasileira TIM Participações, que não tem rede fixa, e também para evitar uma potencial oferta da rival local Oi, que quer dividir a TIM entre si, a América Móvil, do , e a Telefónica.

A desaceleração no mercado de telefonia móvel no Brasil está forçando os principais competidores na região a perseguir clientes que gerem maior valor à companhia através de serviços de televisão por assinatura e de banda larga, setores nos quais a GVT foi pioneira no Brasil, mercado que é um grande gerador de receita para a Telefónica e Telecom Italia.

O movimento da Oi também pretende reduzir o número de operadoras de telefonia móvel a três, ante quatro atualmente, o que poderia enfraquecer a concorrência.

Decisão deve ser rápida

A Vivendi, que controla a Universal Music Group e operadora de TV por assinatura francesa Canal Plus, deverá avaliar não apenas o preço e dinheiro na oferta dos concorrentes, mas também a força da futura empresa brasileira em que possuiria uma participação minoritária.

A empresa também deve decidir se quer uma participação na Telecom Italia, ex-monopólio fortemente endividado que ganha altas margens de lucro em seu mercado doméstico, mas precisa de um investimento enorme na rede para voltar a crescer.

Uma pessoa familiarizada com a estratégia da Vivendi disse na noite de quarta-feira que a empresa francesa poderia tomar uma decisão rapidamente.

“O conselho pode decidir levar algum tempo para examinar as ofertas ou poderia decidir negociar como uma prioridade com um dos lados”, disse a pessoa.

As ações da Vivendi caíam 0,62 por cento às 8h48 no horário de Brasília.

A ideia de que a Vivendi consideraria tomar uma participação na Telecom Italia, depois de passar tanto tempo tentando focar em mídia, deixou alguns investidores questionando as motivações de Bolloré.

“No papel, é claro que a oferta da Telefónica parece mais atraente, uma vez que tem um valor mais alto e elevou o componente de caixa”, disse o analista da Kepler Securities Conor O’Shea.

“Mas o fator Bolloré é um curinga – ele tem interesses comerciais na , por isso, alguns se perguntam se há uma razão pela qual ele e Vivendi querem possuir uma grande participação na Telecom Italia.”

Bolloré detém 7 por cento do banco italiano Mediobanca, o banco de investimento que tem sido por muito tempo o coração das altas finanças da Itália, e costumava fazer parte do conselho da seguradora Generali.

Ambas as ofertas de Telecom Italia e da Telefónica fundiriam a GVT, que oferece banda larga e TV para clientes no Brasil, com seus respectivos negócios móveis locais.

A Telefónica detém a maior operadora móvel do Brasil, a Vivo, enquanto a Telecom Italia detém a número dois TIM.

Conseguir a GVT é crucial para ambas as empresas, uma vez que seus mercados domésticos europeus vêm encolhendo nos últimos anos em meio à feroz concorrência de preços. O Brasil é responsável por um quinto da receita da Telefónica e um terço das vendas da Telecom Italia.