Santander quer investir 70 mi de euros em educação no Brasil

O presidente do banco Santander, Emilio Botín, anunciou que o banco investirá 700 milhões de euros em educação até 2018, distribuídos entre as 1.290 universidades de 23 países ibero-americanos credenciados ao projeto Universia. Destes, 70 milhões virão para o Brasil, que foi sede do III Encontro Internacional de Reitores, nos dias 28 e 29 de […]

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O presidente do banco Santander, Emilio Botín, anunciou que o banco investirá 700 milhões de euros em educação até 2018, distribuídos entre as 1.290 universidades de 23 países ibero-americanos credenciados ao projeto Universia. Destes, 70 milhões virão para o Brasil, que foi sede do III Encontro Internacional de Reitores, nos dias 28 e 29 de julho, no Rio de Janeiro. A Espanha receberá 240 milhões em investimentos. Os anúncios foram feitos no encerramento do Congresso, que contou com a presença de 1.103 reitores, de 33 países, que discutiram os rumos e desafios que a universidade ibero-americana enfrentará no século 21.

Do valor investido, 40% serão destinados a bolsas de mobilidade nacional e internacional a estudantes e docentes, 30% para pesquisas, inovação e empreendedorismo universitário e 30% para projetos e iniciativas acadêmicas destinadas à modernização e incorporação de novas tecnologias às universidades. Segundo Botín, desde 2010, o Santander já investiu 594 milhões de euros em projetos universitários pelo mundo, além de implementar o programa com 18 mil bolsas de mobilidade ibero-americana, anunciado em Guadalajara, sendo 15 mil delas para alunos e 3 mil para professores e pesquisadores.

Esta foi a terceira edição do evento, que teve a estreia em Sevilha, na Espanha, em 2008, e a segunda em Guadalajara, no México, em 2010. Foram discutidos temas como internacionalização acadêmica, empreendedorismo e inovação tecnológica na formação superior. Botín ressaltou que a universidade é uma alavanca para o desenvolvimento econômico e social de qualquer país e que a educação é o melhor investimento para governos, instituições e empresas privadas.

Ao final do evento, foi apresentada uma Carta Universitária que expõe compromissos de todas as instituições presentes para melhorar a educação superior ibero-americana até o próximo encontro, que acontecerá na cidade espanhola de Salamanca, em 2018. Entre eles estão o papel de liderança social, constituindo um papel ativo e protagonista na sociedade, participando de debates sobre questões como pobreza, criminalidade infantil, exclusão digital e social e deterioração do meio ambiente.

Renovar os modelos de formação e oferta educativa também é um objetivo presente na carta. Segundo Botín, as crescentes demandas sociais e inovações tecnológicas podem dobrar a população de universitários na Ibero-América nos próximos 10 anos. Os recursos públicos certamente não darão conta do aumento da oferta, portanto o documento recomenda que as universidades se associem mais com empresas privadas e renovem seus programas de financiamento.

Internacionalização

A internacionalização também está destacada na carta de compromisso para 2018, como condição indispensável para a universidade do século 21. A integração acadêmica entre universidades de várias partes do mundo contribui para o avanço do ensino superior, seja com projetos de mobilidade acadêmica, transferência de conhecimento em pesquisas ou professores mais internacionalizados.

Para o reitor da Universidade de Oxford, Andrew Hamilton, da Inglaterra, o uso da tecnologia para integrar instituições facilita a transferência de conhecimento – a pesquisa universitária não se encerra mais na publicação de um trabalho, mas vai além, ao trocar informações e até mesmo projetos com outros pesquisadores. “É nossa sorte haver à nossa disposição as tecnologias da informação. As instituições estão se conectando com outras universidades e pessoas de todo o planeta, e isso faz com que todos evoluam em suas pesquisas”. Hamilton também informou que cerca de 14% do corpo docente da universidade vem de outros países.

Para o especialista em política universitária e um dos criadores do programa Erasmus de mobilidade acadêmica na Europa, Guy Haug, a revalidação dos títulos universitários e equiparação de currículo é essencial para integrar cada vez mais as universidades.

No debate sobre a internacionalização, foi lembrada a importância de que para se atrair alunos estrangeiros, as universidades brasileiras precisam oferecer cursos não só em português, mas também em inglês e outras línguas.

Tecnologia e pesquisa

Não foi apenas no painel “Pesquisa, inovação e transferência” que o tema da tecnologia foi debatido. As inovações tecnológicas que cada vez mais fazem parte do mundo universitário foram tema recorrente em todos os debates. O presidente do Santander, Emilio Botín, lembrou que, desde o encontro em Guadalajara, o alcance estratégico das informações, por meio da internet e dispositivos móveis, acelerou a expansão da sociedade digital, citando como exemplo as plataformas de cursos online e massivos, chamados Moocs, lançadas nos Estados Unidos. “Para que incorpore de maneira efetiva as mudanças tecnológicas, a universidade deve repensar suas estruturas e metodologias docentes, gerar conhecimento científico de maneira colaborativa, transferindo-o para o mundo empresarial, além de desenvolver estratégias de cooperação com outros sistemas universitários, como o europeu, anglo-saxão, asiático ou africano”.

O reitor da Universidade Nacional de Singapura, Tan Chorh Chuan, salientou o foco da universidade em pesquisas e também no mercado de trabalho. “Muitos chineses se formam e não conseguem empregos porque têm uma habilidade média ruim. A diversificação do setor de educação entre pesquisas e projetos da área de empreendedorismo na educação é muito eficaz”.

A vice-presidente de plataformas e computação de nuvem da TOTVS Brasil, Marília Rocca, no painel “Qualidade e Renovação do Ensino”, destacou que, com a internet, o ritmo do aprendizado é muito mais rápido e depende do aluno, pois a fonte de informação passa a ser a rede, e não mais apenas o professor. “A tecnologia pode ser uma grande aliada, se for utilizada para interações mais ricas na sala de aula”. A pesquisadora também citou os Moocs, que têm como principal vantagem a colaboração, e lembrou de exemplos como os três estudantes indianos do MIT que criaram módulos adicionais de um curso de engenharia.

Para o reitor da Universidade de São Paulo, Marco Antonio Zago, falar de tecnologia na universidade é “colocar a mão nas feridas das instituições brasileiras”. Segundo ele, as universidades precisam rever a maneira como se relacionam com seus alunos, que deveriam ter uma vida universitária muito mais focada na descoberta de informações do que no conhecimento acumulado. “A USP está preocupada em oferecer oportunidade de avançar tecnicamente no ensino de graduação, colocando componentes digitais mais intensamente como parte dos cursos tradicionais, treinando as pessoas para utilizá-los. É preciso também criar condições para que os docentes se dediquem ao tema e sejam premiados e promovidos por isso”, afirmou.

Outros temas como a relação das universidades e professores com os estudantes, o papel social da instituição, a relação entre governo e educação, financiamento, meio ambiente também foram debatidos em painéis durante os dois dias.

Desconforto com o governo

Após o envio de um informe para os clientes do Santander da carteira Select, que possuem renda mensal superior a R$ 10 mil, alertando sobre a desvalorização do câmbio e da economia caso a presidente Dilma Rousseff subisse nas pesquisas, Botín comentou o assunto durante o congresso, dizendo que o relatório “não é do banco, mas de um analista”, enviado sem a autorização da instituição financeira. Além disso, o presidente informou que foram tomadas as providências contra os responsáveis, padrão em filiais de qualquer país em que o Santander esteja presente, mas não disse quais eram. Ele também acrescentou que, desde que o Santander iniciou suas atividades no Brasil, já investiu mais de US$ 27 bilhões no País e que a instituição considera a economia brasileira “importantíssima”.

No congresso, era esperada a presença do secretário Executivo do Ministério da Educação, Luiz Claudio Costa, que participaria do painel “Organização, governo e financiamento”, mas ele não compareceu. Em nova coletiva, Botín foi questionado se a ausência de representantes do governo federal no evento seria um boicote em resposta à carta do banco sobre Dilma. O executivo voltou a dizer que o relatório não expressa a opinião do banco e tentou amenizar a ausência do MEC. “Não fizemos uma reunião de governo, mas sim de universidades. Estão aqui cerca de 1.200 reitores. Isso sim é importante”. A assessoria do MEC informou que a presença do secretário havia sido cancelada ainda na semana passada, mas até o fechamento da reportagem, não informou os motivos.

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