RS: vizinhos do Beira-Rio reclamam de transtornos com obras
Para os amantes do futebol, trabalhar ou morar em frente ao estádio do time do coração é um sonho. Entretanto, quem convive há meses com as obras no entorno do estádio Beira-Rio, em Porto Alegre, não está satisfeito e coleciona reclamações. Congestionamentos, falta de água e de luz e o barulho das obras são alguns […]
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Para os amantes do futebol, trabalhar ou morar em frente ao estádio do time do coração é um sonho. Entretanto, quem convive há meses com as obras no entorno do estádio Beira-Rio, em Porto Alegre, não está satisfeito e coleciona reclamações. Congestionamentos, falta de água e de luz e o barulho das obras são alguns dos motivos que fazem desta Copa um transtorno para os moradores da região.
Há mais de um ano, as obras que bloquearam as avenidas Padre Cacique e Edvaldo Pereira Paiva prejudicam o trabalho de Lucas Severo, proprietário da Pet Shop e Clínica Veterinária Ponto do Cão. As dificuldades no acesso à loja devido aos buracos da via e às máquinas que perambulam pela região afastaram os clientes e afetaram a rotina do empresário.
Os transtornos atingem principalmente os funcionários, porque a empresa oferece serviço de busca e entrega dos animais que precisam de banho, tosa ou consulta veterinária. Devido às obras e ao maior deslocamento para chegar ao bairro, o gasto com gasolina também aumentou. De acordo com o proprietário, 70% a 80% dos problemas enfrentados na pet shop estão relacionados às obras.
Para facilitar a chegada dos clientes e fornecedores ao estabelecimento, Severo entrou em contato com a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC) solicitando permissão para colocar uma placa indicativa para a entrada da loja. O pedido foi aprovado, mas a placa ficou no local por poucos dias, porque foi quebrada e apareceu realocada. “A quantidade de clientes muda quase todo dia. Eu não queria ter prejuízo de novo uma placa que não ficaria no local combinado”, afirma.
O empresário não sabe dizer quem trocou o objeto de lugar ou o motivo de ter sido danificado. Ele pagou cerca de R$ 100 pela placa, que ficou intacta apenas três dias.
Imprevistos e improvisos
Antes de o estádio Beira-Rio ser reformado, Severo lembra que os imprevistos de locomoção surgiam apenas em dias de jogos, principalmente aqueles com maior público. “Tínhamos dificuldades para estacionar nos dias de jogos da Libertadores, era um caos. Pela manhã já havia movimentação de torcedores”, lembra.
Além das adversidades que o bloqueio das ruas gerou para o comércio, a Copa trouxe também falta de luz, água e telefone em determinados dias. Segundo o empresário, a maioria dos cortes não foi avisada e, por isso, quando havia falta de luz, os funcionários precisavam esperar o serviço voltar. “Nos dias sem água, não pudemos dar banho em cães maiores, mas eu tenho um reservatório e fiz o possível com o que tinha. Outros cães menores foram levados para a casa da minha mãe. Usei a água de lá e depois retornamos para a pet”, explica. Sem telefone durante um dia inteiro, Severo não tinha contato com os clientes e precisou utilizar as redes sociais para se comunicar.
Durante jogos do Brasil e de partidas realizadas no Beira-Rio, a clínica não abrirá, já que o local está na zona de circulação de torcedores e funcionários que trabalharão no evento.
Transtorno temporário, benefício permanente
Quando a pedagoga aposentada Leah Sofia Ziegler mudou-se para o edifício Morada da Encosta, em Porto Alegre, buscava a tranquilidade de uma rua sem saída que tem como vista o pôr do sol do Guaíba. O que ela não imaginava era que 12 anos depois o estádio Beira-Rio receberia uma Copa do Mundo. Por conta disso, os últimos seis meses de Leah são de rotina prejudicada devido às obras em frente à sua sacada.
A aposentada conta que em dias de jogos do Internacional o tumulto é grande, mas temporário. Porém, hoje, os transtornos estão presentes todos os dias. Ela fez as contas e percebeu que gasta um tanque de gasolina a mais por mês por causa da mudança constante de acessos, mais os retornos obrigatórios nas ruas próximas. “Em alguns momentos, ao invés de pensar ‘como meu estádio está lindo’, eu só queria que acabassem de uma vez a obra”, diz.
Em uma tarde, a aposentada saiu de casa às 17h e, ao retornar após as 18h, deparou-se com um grande buraco na entrada de sua rua. Leah conta que um cano estava sendo trocado, mas os trabalhadores foram embora sem cobrir o asfalto. “Chamei o mestre de obras e expliquei que não tínhamos como chegar em casa . Ele pediu para eu passar por dentro do colégio e ir pela saída lateral, que tem acesso à rua”, conta.
O barulho das obras não chega na casa de Leah, mas a poeira sim. Sacada, janelas, cortinas e armários da residência aparecem empoeirados diariamente, como se a casa estivesse sem dono há anos. “Antes era uma poeira cinza, agora é um pó. Quando estavam demolindo partes do estádio, a quantidade de sujeira que vinha com o vento era inacreditável. Nada para limpo aqui”, afirma.
Vizinhos da Copa
Enquanto a maioria da população que circula ou mora próxima ao Beira-Rio quer ficar longe das obras, o aposentado Luis Felipe dos Santos, morador da capital há 19 anos, mudou-se para o bairro Santa Tereza, vizinho do estádio, há um ano e meio, exatamente no período em que a reforma começou. “Mudei porque o lugar onde eu morava era muito violento. Prefiro morar aqui”, afirma.
O aposentado conta que, quando fecha as portas e janelas do apartamento, não ouve os ruídos que as obras na rua e no estádio produzem. “Eu não fui incomodado pelo barulho porque eu fechava tudo e depois não ouvia mais nada, exceto pelos dias quentes em que eu precisava deixar a janela aberta”, lembra.
Santos recorda que moradores de outros condomínios reuniram-se para entrar com uma ação na Promotoria Pública de Porto Alegre solicitando que o expediente noturno dos operários que trabalhavam durante a madrugada no estádio fosse encerrado. “Quando estava próximo à reinauguração do Beira-Rio, em abril, eles trabalhavam direto dia e noite”, destaca.
Quanto ao trânsito caótico, o aposentado diz estar acostumado, já que trabalhou como caminhoneiro em São Paulo durante grande parte dos seus 70 anos. “Há até pouco tempo, o trânsito era normal em Porto Alegre. Saía às 15h e estava tudo tranquilo. Hoje não existe lugar ou horário para engarrafamentos”, diz.
Assim como chegou logo que as obras começaram, o aposentado sairá do bairro pouco depois da entrega das ruas e avenidas do entorno do estádio. “Vou ficar aqui mais um ano, até maio. Estou esperando para comprar um apartamento em um lugar mais calmo. Mas eu sempre fui de gostar de lugares movimentados”, conta.
Quanto mais distante, menos transtorno
A 1,5 quilômetro de distância do Beira-Rio, a assistente social Mariana Pires Borba não é tão afetada pelas obras quanto Luis e Leah. As maiores mudanças em sua rotina após o início das construções foram o barulho, aliado à falta de espaço para estacionar seu carro. “Nos últimos meses, o trabalho tem aumentado por aqui e agora já escuto ruídos sábado às 6h”, conta.
Devido aos bloqueios constantes por toda avenida Padre Cacique, Mariana não pode mais deixar o carro estacionado na frente do condomínio onde mora. “Deixo meu carro agora na garagem do condomínio da minha mãe na vaga de visitantes porque não tenho garagem no meu prédio”, explica.
A assistente social afirma ter tido pouco tempo de dificuldades comparado ao que pessoas que vivem mais próximas do estádio tiveram. “Em alguns dias separados tive transtornos de nível médio, nada que não pudesse ser resolvido”, diz. Não saber como acessar a sua rua e fazer uma caminhada maior com os dois filhos até onde o carro estava foram uma das adversidades que Mariana enfrentou com tranquilidade.
Afirmando não ter se incomodado com as obras, Mariana somente espera que as construções sejam concluídas a tempo para o primeiro jogo em Porto Alegre. “Se não concluírem, aí sim será um transtorno para quem virá aos jogos e para quem mora aqui”, pontua.
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