Ferido na ação policial para controlar uma manifestação contra a Copa em Porto Alegre, o repórter do Terra Daniel Favero foi atendido no Hospital de Pronto-Socorro (HPS) e passa bem. Em contato com a redação, Favero relatou o que considera “uma ação desproporcional e irresponsável” por parte da Brigada Militar (a Polícia Militar gaúcha), diante de um protesto com pouca adesão de manifestantes.

Daniel Favero foi um dos dois jornalistas atingidos por estilhaços de bombas de efeito moral arremessadas pelos policiais contra manifestantes que caminhavam pelo centro de Porto Alegre na tarde desta quarta-feira, durante a partida entre Holanda e Austrália, válida pela Copa do Mundo. Os estilhaços das bombas atingiram Daniel no braço e na barriga – um dos objetos perfurou a blusa e a camisa do jornalista, permanecendo alojado em seu braço direito. Já o repórter Cristiano Soares, da rádio Guaíba, foi atingido na mão e precisou 12 pontos de sutura.

“Já cobri manifestações muito mais violentas em junho do ano passado, mas nunca vi uma ação tão desproporcional da polícia”, afirmou Favero. “Parece que na Copa a orientação é outra”, lamentou. Veja a seguir o relato completo do repórter do Terra:

“A manifestação terminou com ao menos três pessoas feridas. Isso porque a Brigada Militar atirou granadas de efeito moral contra manifestantes, sem se preocupar com os jornalistas que estavam a poucos metros das tropas. Os estilhaços me feriram no braço, na barriga, além de ferir a mão do colega Cristiano Soares, da rádio Guaíba.

A ação foi desproporcional e desnecessária, dado o tamanho do protesto e a postura dos manifestantes, que no momento em que se aproximavam da polícia não davam sinais de que iriam agir de forma violenta com os policiais.

Quando os manifestantes estavam a cerca de 10 metros da barreira policial foram atiradas ao menos quatro granadas de efeito moral, sendo que entre a polícia e os manifestantes estava um grande número de jornalistas – todos identificados, incluindo eu. Isso pode ser visto no vídeo que registrou aquele momento.

As granadas soltam estilhaços quando usadas, por isso é recomendado que seja obedecida uma distância mínima, o que a polícia não fez.

Na nota divulgada após o protesto, a SSP (Secretaria de segurança Pública) afirmou que na avenida Salgado Filho, próximo à João Pessoa, no Centro, a Brigada Militar estendeu uma fita e posicionou-se atrás, a uma distância de 40 metros, para garantir a segurança dos manifestantes, de quem estava no trânsito e dos pedestres. Entretanto, nas imagens do vídeo feito por mim, é possível ver que a distância entre a tropa e a fita era muito inferior a 40 metros.

De fato, ao lançar as granadas, os policiais estavam a menos de 10 metros dos manifestantes – abaixo, portanto, da distância mínima de segurança -, assumindo os riscos de ferir alguém, uma vez que esse armamento é de baixa letalidade, mas pode causar ferimentos graves e até mesmo óbitos, caso não seja utilizado de forma correta.

A desproporção da ação da Brigada Militar é tão gritante que não foi apenas uma pessoa, mas ao menos três que ficaram feridas com os estilhaços. Os policiais estavam próximos da explosão, mas estavam protegidos por escudos.

Além disso, a ação dos manifestantes não foi nenhuma surpresa para a polícia, que monitorava toda a movimentação de manifestantes desde o começo da aglomeração. Os policiais – cuidadosamente treinados para a Copa, como a corporação costuma divulgar – sabiam o que ia acontecer.

Por isso a minha surpresa ao ver arremessadas granadas de efeito moral sobre as pessoas naquele momento – e àquela distância -, sem medo de que os estilhaços pudessem ferir alguém. Uma ação no mínimo irresponsável. A Brigada Militar alega que fez uma linha para limitar a aproximação dos manifestantes e que, ao atravessarem essa linha, os jornalistas foram feridos. Isso não é verdade, porque além de jogar bombas contra a manifestação, os policiais atiraram granadas também na rota de fuga dos jornalistas, que são as laterais.

Já cobri manifestações muito mais violentas em junho do ano passado, mas nunca vi uma ação tão desproporcional da polícia. Pelo contrário, sempre vi uma ação controlada da polícia gaúcha, preocupada com a segurança de quem quer que seja. Mas parece que na Copa a orientação é outra.”