Mídia Ninja prepara portal para transmitir ‘outro lado’ da copa
Há um mês, a Mídia Ninja completou um ano no ar e suas imagens dos protestos de junho, que tornaram o coletivo conhecido, entraram para o acervo do MAM-SP (Museu de Arte Moderna de São Paulo). Mas a data que importa para o grupo é 3 de junho, quando estreia o portal que marca a […]
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Há um mês, a Mídia Ninja completou um ano no ar e suas imagens dos protestos de junho, que tornaram o coletivo conhecido, entraram para o acervo do MAM-SP (Museu de Arte Moderna de São Paulo).
Mas a data que importa para o grupo é 3 de junho, quando estreia o portal que marca a sua libertação do Facebook. “Estamos trabalhando loucamente para isso”, diz Rafael Vilela, que coordena os preparativos em São Paulo.
O site estará no Oximity, plataforma lançada há meio ano por programadores alemães e que já acolhe a rede midiativista Global Voices. Vai abrigar versões editadas dos vídeos, mais fotos e textos, além de incorporar as transmissões em streaming, características do grupo.
O bordão informal da Mídia Ninja, repetido por Vilela e Felipe Peçanha, que coordena os preparativos no Rio, é “baixa resolução e alta fidelidade”. Suas imagens de celular, sem qualidade, mas tomadas ao vivo doe meio das manifestações, tornaram-se referência online, de junho até a recente greve dos garis.
“Estamos organicamente inseridos, conectados com as pessoas que cobrimos”, diz Peçanha, o Carioca, cujas transmissões o levaram à prisão em junho e novamente há dois meses.
José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, que dirigiu a Globo por três décadas, vê a mudança como inevitável. Diz que já é possível transmitir em alta definição com três linhas de celular e que as novas tecnologias, baratas, tornam obsoletos os caminhões de externas.
“A TV tem que aceitar que o conteúdo é mais importante e que a qualidade tecnológica”, diz. “Tem que saber que, se não fizer cobertura, alguém fará. E tem que ficar no meio, não pode mais de longe”. m suma, deve “ir para o campo que a molecada aponta”.
Mas Boni alerta que agora “qualquer um pode usar [a tecnologia] para o bem e para ao mal, pacificar ou agitar”.
Sylvia Moretzohn, professora da Universidade Federal Fluminense, afirma que “o mais grave, quando se fala de Ninja e iniciativas parecidas, é que não contextualizam”.
Também como linguagem, “se enaltece essa ideia de cobertura ao vivo, sem cortes, que não é novidade”. Citando o cinema-verdade dos anos 1950, diz que “é uma linguagem conhecida e formalmente não acrescenta nada”.
Copa
O portal Ninja é aguardado com ansiedade por seus integrantes para servir de “hub”, ou entroncamento, da cobertura planejada para os protestos contra a Copa do Mundo.
“Ninguém sabe o que vai acontecer”, diz Vilela. “O planejamento está no portal, na estrutura, em ter equipes fortes de rua e de redes. Se de repente a coisa estoura em São Paulo, vem todo mundo. O lance é estar preparado para adaptar e dar conta de traduzir o que a rua fala”.
Carioca vem participando de reuniões semanais com outros coletivos, como Rio na Rua. “A gente se articula para, quando a coisa pegar fogo, produzir e difundir a consonância”.
A Mídia Ninja continua no Facebook, porque “não dá para fingir que não existe”, segundo Carioca, mas busca no Oximity – e em outras plataformas, como Medium – uma ferramenta que permitia mais liberdade de edição.
Busca também, diz Vilela, uma troca de serviço, sem envolver dinheiro, “numa lógica solidária, de fortalecimento mútuo”. No contrato de um ano, os brasileiros pagarão pela plataforma dando subsídios para o desenvolvimento da mesma pelos alemães.
Essa “economia colaborativa”, tanto com o Oximity como com os próprios “ninjas”, é um dos sustentáculos da Mídia Ninja, diz Pablo Capilé, fundador do Fora do Eixo, coletivo cultural em que nasceu o de mídia. Ele afirma que, passado um ano, “são duas redes já autônomas”.
Outras fontes de custeio estão sendo buscadas para a Mídia Ninja. “Acabamos de fechar parceria com a Fundação Ford, que já patrocina o coletivo Intervozes, a agência Pública”, diz Capilé. A fundação afirma estar “realmente conversando”, mas que é negociação “ainda em andamento”.
Um segunda fundação que costuma financiar mídia online no Brasil, Open Society, também foi contatada. Por fim, o coletivo também vai buscar recursos via colaboração direta, “crowdfunding”. O portal terá mecanismos para doação online semanal, mensal ou por cobertura.
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