Em 2004, quando Mark Zuckerberg criou o Facebook em seu alojamento na Universidade Harvard, não imaginava que um dia se tornaria um dos empresários mais importantes do mundo. Nos últimos dez anos, o então estudante de ciências da computação viu sua invenção se transformar em um negócio de US$ 7,87 bilhões, símbolo de um novo estilo de empreendedorismo baseado na informalidade e em um modelo de gestão mais libertário. Ao longo dessa trajetória, Zuckerberg colecionou acertos e erros que servem de lição para qualquer interessado em empreender na internet.

Ao se instalar no Vale do Silício e se profissionalizar, um dos grandes trunfos do Facebook foi saber lidar com uma nova geração de profissionais, afirma o consultor em marketing digital e professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), Conrado Adolpho. “A Microsoft começou com a cara da IBM, mais tradicional. A Apple veio quebrar um pouco isso e o Facebook, também. O modelo de gestão é mais libertário, o que pode ser uma vantagem e uma desvantagem ao mesmo tempo”, afirma Adolpho.

A vantagem do modelo libertário é que ele dissolve a hierarquia e estimula a participação dos funcionários no processo de decisão. O lado negativo é que o excesso de liberdade pode provocar uma falta de foco coletivo. “Uma liberdade muito grande faz com que o negócio não ande porque cada um vai para um lado”, acredita o consultor.

Outro acerto do Facebook foi criar uma interface capaz de se adaptar aos interesses do usuário e incorporar recursos de outras ferramentas em sua própria estrutura, afirma Adolpho. “A equipe do Facebook soube ouvir o que as pessoas estavam querendo. Se elas gostavam do Twitter ou do Foursquare, eles conseguiram incorporar as características deles. Não é uma ferramenta estática.”

O problema é que, ao se apropriar de funções de outros aplicativos, Zuckerberg e sua equipe arranjaram briga com muita gente. Por isso, hoje o Facebook faz como o Google e a Microsoft e simplesmente compra as empresas que desenvolvem ferramentas que podem interessar a seus usuários. “Por meio da compra de programas que podem ser futuros concorrentes, o Facebook investe em uma inovação que a equipe da empresa, sozinha, não é mais capaz de proporcionar. Foi o que aconteceu com o Instagram”, explica Adolpho.

O crescimento do Facebook como empresa levou à abertura de capital em 2012, que revelou todas as contradições de um serviço que precisa gerar lucros para seus investidores, mas não cobra de seus 1,23 bilhão de usuários. No primeiro mês após a oferta pública de ações, o valor destas caiu 21%. Adolpho acredita que o problema poderia até ser previsto, mas não remediado. “Quando você lida com a geração Y, tem que ser menos hierárquico. O Facebook cresceu porque era uma coisa legal, mas não tinha uma direção muito clara. Só se sabia que era uma rede social. Como você monetiza isso para deixar da maneira mais profissional possível? O Facebook não poderia remediar a queda na bolsa porque ela foi provocada pela venda de ações de especuladores, que confiavam na força da marca para lucrar. Mas a empresa não foi percebida como um modelo sólido de receitas naquela época. Hoje, ela é mais monetizada.”

Por fim, o maior acerto de Zuckerberg foi usar sua própria imagem como a personificação do Facebook, afirma Adolpho. “O Zuckerberg é uma celebridade, assim como o Steve Jobs. A partir do momento em que você mostra a empresa como uma coisa prosaica, como se o presidente pudesse ser seu vizinho, isso faz com que o empreendimento pareça menor e ganhe a simpatia do público”, diz o consultor.