Divergências em relação à condução da política econômica pelo governo francês levaram nesta segunda-feira a uma crise institucional no governo do premiê Manuel Valls.

Dois membros críticos ao que consideram austeridade excessiva da atual gestão – o ministro da Economia, Arnaud Montebourg, e da Educação, Benoit Hamon – deverão perder seus postos. Ambos defendem que a França enfrente o baixo crescimento resistindo às medidas de disciplina fiscal identificadas com a Alemanha.

No domingo, durante um encontro do Partido Socialista, do presidente François Hollande, Montebourg disse ser momento de se estabelecer uma “resistência justa e sensata” às “obsessões excessivas de conservadores alemães”.

Momentos após a renúncia, Hollande emitiu comunicado no qual pediu a formação de um novo gabinete “consistente com a direção (que o presidente) estabeleceu para o país”.

Uma fonte da Presidência francesa disse que a decisão do primeiro-ministro de promover uma reforma ministerial foi tomada “em consenso absoluto” com o presidente francês.

Ação contra os dissidentes

Segundo a correspondente da BBC Lucy Williamson, em Paris, a mensagem de Hollande foi clara: dissidentes dentro do Partido Socialista não serão tolerados. “A decisão de dissolver o governo é um sinal do quanto está em jogo para ele”, disse ela.

No início deste mês, o governo francês admitiu que o país não conseguirá atingir a previsão de crescimento de 1% neste ano. O desemprego está acima de 10% e menos de 20% do eleitorado acreditam que Hollande possa reverter a situação atual.

O plano de Hollande de reanimar a economia reduzindo gastos, de um lado, e impostos para as empresas, de outro, enfrenta oposição dentro da sua própria sigla, segundo a correspondente.

“(Os dissidentes) querem menos foco em austeridade e mais dinheiro repassado diretamente às famílias. Demitir os rebeldes é um gesto forte, pois com a popularidade no seu menor nível, Hollande não pode parecer fraco”, disse ela.

Uma pesquisa divulgada no domingo apontou a popularidade de Hollande em apenas 17%. A de Valls ficou em 36%, de acordo com a sondagem do instituto Ifop.

Montebourg, de 51 anos, pertence à ala mais à esquerda entre os socialistas franceses. Crítico da globalização, ele ficou em terceiro lugar nas prévias do partido à candidatura à Presidência em 2011.

No sábado, ele disse ao jornal Le Monde que a Alemanha se prendeu a políticas de austeridade que está impondo ao restante da Europa. Nesta segunda-feira, pouco antes do anúncio da renúncia do governo, ele disse à rádio francesa Europe 1 que não se arrependia de suas posições.

Os comentários receberam o apoio de Hamon e, aparentemente, da ministra da Cultura, Aurelie Filippetti. Todos os três deverão perder seus cargos na reforma ministerial, informou a revista Le Point. A ministra da Justiça, Christiane Taubira, também deverá ser substituída.

Valls foi alçado a primeiro-ministro em março, substituindo Jean-Marc Ayrault, após desempenho ruim do partido Socialista de Hollande nas eleições locais.