Os comprados em dólar tiveram nesta sexta-feira a “cereja do bolo”, ao fim de uma semana como há muito não se via no mercado cambial. O dólar disparou 4,24% ante o real deste segunda-feira, só hoje saltando 1,55%, na maior alta diária desde julho. O nível de fechamento desta sessão, de R$ 2,3342, é o mais forte desde março, quando a moeda estava próxima de R$ 2,35.

Na máxima do dia, a cotação chegou a marcar alta de 2,10%, a maior em oito meses. O real foi, de longe, a divisa que mais perdeu para o dólar hoje, no universo das principais moedas.

No mercado futuro, onde os negócios vão até as 18h, o dólar para outubro valorizava-se 1,71%, a R$ 2,3495, após bater R$ 2,3580. Quase 630 mil contratos foram negociados até o momento para esse vencimento, mais que o dobro do volume médio diário. Tal volume dá ideia da magnitude do ajuste e de como o mercado foi pego na contramão da trajetória do dólar. “O mercado estava simplesmente mal vendido”, diz o especialista em câmbio da ICAP Corretora, Italo Abucater.

O movimento do mercado sugere que muitos investidores estavam posicionados para um crescimento contínuo de Marina Silva (PSB) nas pesquisas eleitorais e um declínio de Dilma Rouseff (PT). Essa expectativa guiou o câmbio ao longo de todo o mês de agosto e ditou a baixa de 1,37% do dólar ante o real no mês passado.

O que se viu nesta semana, mas principalmente hoje, é um forte ajuste dessa expectativa, frustrada por uma série recentes de pesquisas eleitorais, sendo a última a do Ibope divulgada nesta sessão.

A sondagem mostrou uma melhora no desempenho da presidente Dilma, que avançou dois pontos percentuais nas intenções de voto para o primeiro turno. Enquanto isso, Marina caiu dois pontos. Para o segundo turno, as duas candidatas estão em empate técnico, algo também sugerido pela pesquisa Datafolha divulgada nesta semana.

“O mercado estava dando a Marina como algo certo. Agora está vendo que vai ter ‘game’ de novo”, diz o diretor de gestão de recursos da Ativa Corretora, Arnaldo Curvello.

A expectativa em torno do Banco Central é outro elemento que entra na conta do mercado. Alguns profissionais chegaram a cogitar a possibilidade de o BC reforçar as ofertas em operações de rolagem de swaps cambiais como forma de barrar a alta do dólar. Mas até o momento o BC não se pronunciou a respeito.

Diante disso, o cenário de crescente volatilidade reforça o debate sobre a possibilidade de o BC estender o programa de swaps cambiais para além de 2014.

Boa parte da alta do dólar aqui foi influenciada pelo exterior, onde as moedas de risco enfrentam mais uma sessão de perdas devido a mais uma rodada de alta nos rendimentos dos Treasuries. É grande a expectativa sobre a reunião do Federal Reserve na próxima semana, na qual o Fed pode sinalizar quando subirá os juros nos EUA.

O dólar australiano caía 0,69%, enquanto a lira turca recuava 0,83%, e o rand sul-africano perdia 0,36%.

O rendimento do Treasury de dez anos operou em franca alta e hoje superou os 2,6% pela primeira vez desde julho. A taxa de retorno (“yield”) do papel de dois anos, mais sensível às expectativas para a política monetária americana no curto prazo, subiu a 0,580%, não distante de máximas vistas pela última vez em 2011.