“Justiça com as próprias mãos” vira febre; sociólogo cita discurso “bandido bom é bandido morto” e insegurança da população.

Em vinte dias foram registrados no Brasil quatro casos de “justiceiros”, que fizeram as vezes da polícia e amarraram e/ou agrediram criminosos ou acusados de cometerem crimes. Mato Grosso do Sul está entre eles, com o caso de Sidrolândia.

No último fim de semana, em Sidrolândia, a 70 km de Campo Grande, homem foi pego em flagrante roubando casa e foi detido, espancado e amarrado por moradores da cidade até a chegada da polícia. O homem foi preso e já tinha passagem por roubo de carro.

Primeiro caso

O primeiro caso aconteceu no dia 31 de janeiro, no Flamengo, zona sul do Rio de Janeiro. Um jovem negro de 15 anos foi espancado e preso nu, a um poste por trava de bicicleta por sob a alegação de que ele cometia pequenos furtos na região. Ele teria sido atacado por um grupo de três homens, a quem chamou de “os justiceiros do Flamengo”.

No dia 13 de fevereiro, em Itajaí, litoral norte de Santa Catarina, um homem que tinha acabado de assaltar lanchonete estava desarmado e foi detido por populares, amarrado a um poste e sofreu socos e pontapés até sangrar. Semelhante ao caso de Sidrolândia, aguardavam a chegada da polícia.

Na tarde de ontem (17), em Goiânia, jovem de 16 anos teve as mãos amarradas a uma grade de ferro após tentar roubar moto. Ele foi capturado por pessoas que passavam pelo local no momento em que ele tentava levar o veículo. O garoto, que também teve os pés atados um ao outro, foi agredido por cerca de 40 pessoas até que a Polícia chegasse ao local.

Em todos os casos, nenhum dos “justiceiros” foi encaminhado a qualquer delegacia policial.

“Bandido bom é bandido morto e sentimento de insegurança”

Além de citar o efeito demonstração, o sociólogo Paulo Cabral atribui a seqüência de caso de “justiceiros” a dois motivos, entre eles o discurso de que bandido bom é bandido morto. “Há este pensamento em nossa cultura, estimulado pela mídia sensacionalista, e que fica na esteira de quem é a favor da pena de morte e procura formas de higienização”.

Outra razão, segundo o sociólogo, seria o sentimento de insegurança da população. “Nem sempre o Estado dá conta de garantir segurança para a população, de forma que ela tenta fazer a justiça com as próprias mãos”, explica.

Preocupante

Paulo alerta que a recorrência dos fatos é preocupante e o tema deve ser tratado com cuidado. “Este tipo de manifestação é uma barbárie, que se contrapõe à civilização. Ainda que o sujeito seja criminoso, há um sistema judiciário que o julgará. Fora o grande risco de um inocente ser vítima desta fúria, por preconceitos e estereótipos já enraizados na sociedade”, ressalta.