Um grupo de aproximadamente 200 índios terena das aldeias Olha D’água e Água Azul, em Dois Irmãos do Buriti – 84 quilômetros de Campo Grande, diante do boato de que o indígena Arcênio Duarte teria sido seqüestrado por capangas contratados por proprietários rurais, “retomaram” ontem à noite a Fazenda Santa Clara e deixaram um rastro de destruição, ateando fogo em todas as casas da sede da propriedade.

Nesta quinta-feira, representantes da Funai conseguiram convencer o grupo a deixar a propriedade e voltar à Fazenda Cambará, ocupada por eles há mais de um ano. As lideranças indígenas que estiveram na delegacia de Polícia acompanhando Arcênio explicaram toda a situação.

O indígena acabou sendo preso por porte ilegal de arma por policiais militares a paisana. Ao presenciar a detenção do terena por homens em roupas civis, os índios deduziram que se tratava de pistoleiros. Arcênio foi colocado em liberdade ainda na noite de quarta-feira, depois de pagar fiança, arbitrada em dois salários mínimos.

Os PMS do Batalhão de Choque estiveram na propriedade onde fizeram o planejamento da reintegração de posse determinada pela Justiça em favor da procuradora de uma das herdeiras, Glória Alcunha Ortiz mãe de Maria do Carmo, a herdeira. Ela conseguiu assumir o comando do inventário do espólio, substituindo Afrânio Celso Pereira Martins Filho.

Foram presos na propriedade quatro funcionários do fazendeiro (sendo dois menores). Com os funcionários, Olívio Franco e Idiomar Natalício dos Santos, além de 600 gramas de maconha, foram encontradas três espingardas calibre 32 e um revólver calibre 38. Eles permanecem presos e serão indiciados por tráfico de drogas, porte de arma e milícia privada.

Um dos menores apreendidos, A.A.S, de 14 anos, com passagem pela Polícia por roubo, estava com um revólver calibre 38. Ele estava em companhia de S.J.C.R, também de 14 anos. A Santa Clara era uma das poucas fazendas que os índios ainda não tinham entrado, aguardando o desfecho do processo de compra de todas as propriedades reivindicadas como terra indígena.

A propriedade pertencente ao espólio de Afrânio Pereira Martins, tem 522 hectares, com mais de 900 bois na pastagem. Há mais de um ano se arrasta a negociação entre Governo e fazendeiros para compra dos 15 mil hectares reivindicados como parte da Reserva Indígena Buriti.