Vacina contra dengue pode chegar ao mercado em 2015
Há uma boa e uma má notícia sobre a dengue. Primeiro a má: o número de casos de contaminação no Brasil é preocupante. No ritmo atual, o ano de 2013 deve superar 2010, considerado o pior da história em notificações. Agora a boa notícia: a vacina contra a doença pode chegar ao mercado em 2015. […]
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Há uma boa e uma má notícia sobre a dengue. Primeiro a má: o número de casos de contaminação no Brasil é preocupante. No ritmo atual, o ano de 2013 deve superar 2010, considerado o pior da história em notificações. Agora a boa notícia: a vacina contra a doença pode chegar ao mercado em 2015.
De 1º de janeiro até 20 de abril, a doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti atingiu 799.661 pessoas no Brasil. O pico da transmissão da dengue ocorreu na primeira semana de março, quando foram registrados 84.122 casos da doença. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a dengue afeta entre 50 e 100 milhões de pessoas a cada ano, em mais de 100 países. Por enquanto, não existem medicamentos disponíveis para prevenir ou tratar a doença. O que se faz hoje é reprimir a proliferação do mosquito e, em caso de contaminação, tratar os sintomas.
Mas o aumento considerável no número de casos demonstra que isso não é o suficiente. “Apesar dos esforços atuais de controle da dengue, com base principalmente no controle do vetor e manejo de casos, a carga e os custos da doença continuam a ser consideráveis. O controle do vetor vai continuar a ser uma parte importante do controle da dengue, mas é claro que uma vacina também é necessária”, explica Ciro de Quadros, vice-presidente executivo do Instituto de Vacinas Albert Sabin, em Washington, DC.
Desafio
Embora existam muitas fórmulas candidatas, em vários estágios de desenvolvimento, a complexidade da infecção pelo vírus da dengue tem sido um desafio para as pesquisas da vacina. Um dos entraves é conseguir uma vacina que forneça proteção contra os quatro sorotipos do vírus da dengue (1 a 4).
Além disso, outra dificuldade encontrada é a falta de conhecimento de como a doença se comporta e da maneira que o vírus interage com o organismo humano. “Há também uma falta de modelos animais de laboratório disponíveis para testar as respostas imunitárias às vacinas potenciais, bem como resolver questões sobre os imuno-correlatos de proteção”, acrescenta Quadros.
Promessa de vacina
Dentre todas as soluções em desenvolvimento atualmente, a vacina criada pelo grupo farmacêutico Sanofi Pasteur, divisão de vacinas da Sanofi, da França, parece ser uma das mais promissoras, do ponto de vista clínico e industrial. O grupo trabalha há mais de 20 anos no desenvolvimento de uma vacina tetravalente contra a dengue. Em 2015, o resultado desse trabalho pode chegar ao mercado.
O laboratório publicou, em setembro do ano passado, os resultados do primeiro estudo de eficácia realizado no mundo. Esse estudo clínico envolveu 4.002 crianças entre 4 e 11 anos de idade, na Tailândia, em parceria com a Universidade Mahidol e o Ministério da Saúde da Tailândia, no distrito de Muang, na província de Ratchaburi.
Apesar de bem-sucedido, o estudo indicou que ainda há desafios a serem superados. “Os resultados demonstraram que a vacina candidata da Sanofi Pasteur contra a dengue é capaz de oferecer proteção contra três tipos de vírus da dengue (vírus tipo 1, vírus tipo 3 e vírus tipo 4). Não foi confirmada proteção contra o vírus tipo 2 no contexto epidemiológico específico da Tailândia”, argumenta Pedro Garbes, diretor regional de Desenvolvimento Clínico na América Latina da Sanofi Pasteur.
A vacina candidata da Sanofi Pasteur já foi avaliada em estudos clínicos (Fase I, II) em adultos e crianças nos EUA, na Ásia e na América Latina. No momento, está em andamento na Ásia e na América Latina, com mais de 31 mil voluntários, a terceira e última fase de testes, chamada de Estudos de Fase III, a última etapa do desenvolvimento clínico de uma vacina. “Esses estudos serão importantes para evidenciar a eficácia da vacina candidata contra a dengue em uma população mais ampla e em diferentes ambientes epidemiológicos”, ressalta Garbes.
O Brasil está incluído nessa etapa do estudo. Cinco capitais brasileiras – Campo Grande, Fortaleza, Goiânia, Natal e Vitória – estão participando dos testes, que começaram no país em agosto de 2011 e envolvem cerca de 3,5 mil participantes, entre crianças e adolescentes de 9 a 16 anos. Os resultados da Fase III estão previstos para o final de 2014. “Esperamos ter as condições necessárias para antecipar um primeiro lançamento em 2015, contudo a Sanofi Pasteur não pode prever quais serão os países que irão lançá-la primeiro, pois a decisão será tomada pela autoridade regulatória de cada país”, justifica o diretor regional da Sanofi Pasteur.
A vacina do laboratório Sanofi Pasteur usa o vírus vivo da dengue atenuado, preparando o sistema imunológico, sem causar a doença. “A atenuação é obtida pelo uso da tecnologia do DNA recombinante. As propriedades imunogênicas de cada um dos quatro sorotipos da dengue são combinadas com o perfil atenuado bem caracterizado da cepa da vacina YF-17D (usada para a vacina contra a febre amarela)”, explica Garbes. A vacina é aplicada em 3 doses, com intervalo de seis meses entre elas. “A vacina é bem tolerada, com perfil de segurança semelhante depois de cada uma das doses”, ressalta Garbes.
Outros estudos
Além da Safoni Pasteur, outras instituições estão trabalhando na busca de uma vacina contra a dengue. Os Institutos Nacionais de Saúde (NIH, na sigla em inglês), dos EUA, desenvolveram uma vacina viva atenuada que foi licenciada a quatro fabricantes de países em desenvolvimento. De acordo com Quadros, o mais avançado desses licenciados é o Instituto Butantan, em São Paulo, cuja vacina está entrando em Fase II de ensaios clínicos.
Conforme informações de sua assessoria de imprensa, o Instituto Butantan aguarda atualmente aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para iniciar os ensaios clínicos em humanos. Mesmo que essa fase comece logo, o processo é longo, e não há estimativa de quando a vacina estará disponível à população.
Enquanto isso, a empresa Inviragen conta com uma vacina viva atenuada, que recentemente entrou em Fase II dos ensaios clínicos em Porto Rico, Colômbia, Cingapura e Tailândia. Já a Merck está trabalhando em uma vacina de subunidade, que está em fase I de ensaios, e a GlaxoSmithKline tem a vacina inativada purificada, originalmente desenvolvida pelo Walter Reed Army Institute of Research dos EUA, em estudos pré-clínicos.
Com a formulação de uma vacina eficaz cada vez mais próxima, é hora de preparar os países para sua adoção. Trata-se de uma das funções da Iniciativa para a Vacina contra a Dengue (Dengue Vaccine Initiative – DVI), que inclui a Organização Mundial da Saúde, a Universidade de Johns Hopkins e o Instituto Internacional de Vacinas. “A DVI visa a estabelecer as bases para a introdução da vacina da dengue em áreas endêmicas, de modo que, uma vez licenciada, a vacina será rapidamente adotada”, explica Quadros, do Instituto Sabin, que faz parte da DVI.
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