O relatório apresentado à Justiça pelo Ministério Público sobre suspeita de corrupção, vazamento de informações e extorsão a traficantes por parte de policiais do Departamento Estadual de Narcóticos (Denarc) indica ao menos três falsos flagrantes na região de Campinas em uma investida para obter R$ 300 mil de criminosos, entre janeiro e abril. O Grupo Estado teve acesso ao inquérito.

Segundo a promotoria, essas operações estavam sob responsabilidade do delegado Fábio do Amaral Alcântara, da 3.ª Delegacia da Divisão Especial de Apoio (Deap) do Denarc. Ele “aparece em todos os momentos da empreitada criminosa investigada”, registram os promotores, que chamam a atenção para o fato de ter sido Alcântara quem registrou três autos de prisão em flagrante de traficantes ligados ao grupo do de Andinho, que comandaria da cadeia o tráfico na região.

Os bandidos foram alvos de achaque pelos agentes do Denarc, segundo os promotores. O principal alvo dos policiais seria Agnaldo Aparecido da Silva Simão, o Codorna, considerado o braço direito de Andinho no comando do tráfico na Favela São Fernando. Em janeiro, segundo o Ministério Público, os policiais procuraram Codorna e exigiram dele o pagamento de R$ 200 mil para evitar a repressão ao tráfico.

“Eles disseram que queriam R$ 200 mil para reforçar a amizade. Se eu não desse esse dinheiro, eles teriam de voltar, prender todo mundo e mandar para a cadeia”, afirmou o traficante, depois de preso pela Polícia Militar.

Violência

Um mês depois, sem o pagamento, os agentes do Denarc aumentaram o valor para R$ 300 mil, de acordo com os relatos dos traficantes, e perseguem membros do grupo com violência, fazendo buscas ilegais na favela e invadindo casas. Um deles diz em conversa telefônica ter roubado R$ 20 mil da venda de drogas.

No dia 18 de março, um dos falsos flagrantes foi o de Monik Maria de Souza e Janaína de Souza Ribeiro, que pertenceriam à quadrilha de Andinho, segundo promotores. No registro de prisão, feito pelo delegado Alcântara, consta apreensão de drogas. Para os promotores, o material foi trazido pelos próprios policiais. Depois de detidas, já na penitenciária, as duas entraram em contato com Codorna e relatam por telefone terem sido torturadas. Depois, ao Gaeco, confirmaram a falsa prisão e as torturas.

O advogado de Alcântara, Márcio Sayeg, diz que o cliente é inocente e teria entrado no Denarc somente em fevereiro – as investigações começaram em outubro. A defesa está estudando o caso para entrar com um habeas corpus até a próxima terça-feira, 23.