O número de estupros no Brasil subiu 18,17% em 2012, na comparação com o ano anterior, de acordo com os dados do 7º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). E o que faz um Estado considerado desenvolvido, como Santa Catarina, estar entre os três com as maiores taxas do crime?

Os catarinenses ficaram atrás apenas de Roraima e Rondônia no levantamento realizado. Com pouco mais de 6 milhões de habitantes e uma taxa de homicídio das mais baixas do País, o número de estupros notificados, segundo o Estado, reflete uma “boa política de atendimento às vítimas”.

O delegado-chefe da Polícia Civil do Estado, Aldo D’Ávila, afirmou que os catarinenses devem ter uma das menores taxas de “subnotificação” de estupro. “Normalmente, esse é um crime que ocorre entre quatro paredes e, muitas vezes, envolve familiares das vítimas”, disse. “A mulher sofre violência por duas vezes: no momento do crime e durante a apuração, por toda uma questão social e de preconceito.”

Santa Catarina é o segundo Estado do Brasil em número de delegacias especializadas ao atendimento à mulher vitima de violência. Com 29 unidades, fica atrás apenas de São Paulo. “Não somos um Estado de estupradores”, diz. “Temos unidades que prestam atendimento e tem como o objetivo fazer com que a mulher denuncie esse crime. É um crime absurdo e que não pode ser deixado de lado.”

Para Aldo, os números do anuário mostram a presença do Estado na intenção de fazer com que as vítimas denunciem casos de estupro. “O crime de estupro não é como um homicídio, onde podemos trabalhar a questão da prevenção”, disse. “No caso do crime sexual, temos que combater a subnotificação e fazer com que as pessoas, como ocorre em Santa Catarina, tenham confiança em procurar o Estado.”

Três anos de estupro

A história da balconista G.B.G.S., hoje com 25 anos, moradora da praia do Campeche, em Florianópolis, vai de encontro à declaração do chefe da Polícia Civil catarinense. Dos 16 aos 19 anos, a jovem – então uma estudante do segundo grau – foi estuprada por um amigo do próprio pai. Ameaçada e com medo de denunciar o homem que frequentava sua casa há mais de três décadas, ela suportou o abuso por diversas vezes.

“Ele me levava em construções, aparecia na minha casa e me batia. Inventei várias histórias para justificar as manchas roxas no corpo e as queimaduras de cigarro nas costas e pernas. Mudei horário de chegar em casa, descia do ônibus dois pontos depois do lugar habitual, mas ele sempre aparecia”, disse. “Só denunciei após ganhar o apoio da minha irmã mais nova, que chegou a ser assediada. Por ela eu fiz a denúncia, mas meus os pais me viraram as costas na época”.

G. conta que o pai não acreditou em sua história e que a reconciliação ocorreu anos após o episódio. A sua mãe não teria enfrentado a situação no início, mas a auxiliou em uma reconciliação anos depois. “Demorei para denunciar, pois achei que ele faria algo à minha família. Mesmo assim meu pai só voltou a falar comigo depois que fiquei noiva e, mesmo assim, porque minha mãe intercedeu”, disse. “Sofri por ter sido violentada e por não ter apoio de meu pai. O homem foi preso e meu pai só acreditou depois que outras pessoas o denunciaram.”

O professor Alceu de Oliveira Pinto Junior, da Universidade do Vale do Itajaí, confessou estar surpreso com os números que apontaram os catarinenses com o terceiro maior índice de crimes sexuais. “É preciso uma análise mais aprofundada, pois o estupro é motivado por questões sociais, associadas à baixa renda, ou patológicas.”