“O que você vai ser quando crescer?” é uma das perguntas mais frequentes que as crianças escutam dos adultos em geral. Nem sempre a resposta é óbvia. Se há aqueles que sempre souberam que seriam médicos, engenheiros ou advogados, há também os que demoram a se encontrar profissionalmente. Ou que simplesmente não querem fazer faculdade, deixando os pais sem saber como agir.

“Hoje, a felicidade passa pela autonomia pessoal, profissional e financeira. Para que isso ocorra, é preciso ter um conhecimento especializado e cabe à família deixar clara essa importância”, afirma Neide Noffs, diretora da Faculdade de Educação da PUC de São Paulo.

Infância prolongada

Muitas vezes, os pais são os principais responsáveis pela demora dos filhos em decidir o destino profissional. “Ao contrário do que ocorre em muitos países, nossa cultura está prolongando a infância, o que faz com que a criança entre na adolescência de uma forma bem diferente do que ocorre no Japão ou nos Estados Unidos, por exemplo”, afirma Neide. Ela explica que nesses países o jovem tem condições de administrar boa parte de sua vida, o que não tem acontecido aqui.

O que se observa é um efeito cascata em que a adolescência e a vida adulta são empurradas para mais adiante. Resultado: os estudos profissionalizantes e o trabalho ficam para depois.

Incentivo

No processo de amadurecimento dos filhos, os pais têm o importante papel de incentivar. “Os adultos devem defender o valor do aprendizado e mostrar que o estudo pode ser encarado de maneira leve e como parte natural do processo de crescimento de cada um”, diz Cristiane Moraes Pertusi, doutora em psicologia do desenvolvimento humano pela USP. Cristiane ressalta que essa filosofia deve ser adotada pelos pais desde a mais tenra idade das crianças.

Segundo Cristiane, a maneira como os filhos encaram os estudos na adolescência é reflexo de como os pais vêm lidando com a questão desde a infância. “Se a trajetória em relação ao estudo foi de conflitos, brigas, imposições e pressões, será mais difícil mudar esse padrão na adolescência, exigindo um maior esforço e mais dedicação dos pais nessa fase.”

Formas de estudar

Também é preciso deixar claro que a escolha profissional é sempre uma decisão do filho. Muitas vezes, o jovem não quer cursar faculdade, mas se interessa por um curso técnico.

“O importante é adquirir o conhecimento, seja por meio do ensino superior ou não. Há muitos cursos superiores de péssima qualidade, formando profissionais que ou não conseguem emprego ou não são capazes de se manterem nele”, afirma Neide Noff.

Alternativas como cursos de ensino médio profissionalizante e técnicos devem ser consideradas pelos adultos como forma de o jovem buscar um caminho profissional.

“Os jovens precisam vivenciar algum tipo de atividade para perceberem seus gostos e preferências”, diz Cristiane Moraes Pertusi. O curso técnico pode ser um caminho inicial para a confirmação, com mais certeza, de uma profissão. Além disso, pode também trazer um resultado profissional mais rápido e prático –e esse é um fator que pode incentivar o jovem a continuar seus estudos.

Só trabalho

Há também casos em que o adolescente não quer mais estudar e, sim, apenas trabalhar. Nessas situações, o diálogo entre pais e filhos deve prevalecer. “Proibir não é a solução”, diz Cristiane. O que deve ser feito é conversar, negociar e tentar entender a razão de tal decisão.

Ao mesmo tempo, os pais devem mostrar a importância da formação. E se o filho insistir em trabalhar, a família pode sugerir alternativas, como trabalho temporário, de meio período ou durante as férias, que podem ser realizados sem prejudicar a dedicação aos estudos.

Nem trabalho nem estudo

Situações extremas, em que o filho não quer nem estudar nem trabalhar, devem ser tratadas com toda a atenção. “Nesse caso, é possível oferecer possibilidades como cursos ligados a hobbies, música por exemplo. Mas é importante incentivar o filho a ocupar seu tempo e a torná-lo produtivo”, afirma Cristiane.

Mas a demora em escolher uma profissão nem sempre deve ser um fator de preocupação para os pais. “Em alguns casos, ela pode ser positiva, desde que o jovem esteja dando um tempo para saber o que realmente quer fazer”, declara a psicóloga Regiane Machado.

“Pode ser apenas uma fase, talvez o jovem esteja sem saber o que estudar. Se estiver trabalhando, com a própria atividade, ele pode descobrir habilidades e buscar cursos relacionados”, fala Regiane.

A preocupação é inevitável, mas é preciso tomar cuidado com os exageros de cobrança e a imposição de achar que o filho tem de fazer o que os adultos querem.

“Há muitos jovens que se sentem obrigados a decidir rapidamente o que fazer e acabam optando por um curso só para agradar aos pais ou por pressão de amigos. E aí acabam não terminando a faculdade escolhida”, fala a especialista.

Ajuda especializada

A psicoterapeuta familiar Miriam Barros vai além. “Como afirmava Freud, o que define a saúde psíquica de uma pessoa é a sua capacidade de amar e de trabalhar. Portanto, ficar sem produzir não é uma boa opção para a psique se manter saudável. Se o jovem não trabalha e não estuda, como irá ocupar seu tempo? Acho que isso não deve ser aceito pelos pais. Precisa ser negociado e conversado. E, se for o caso, os adultos devem buscar ajuda psicológica para o filho. Esse desinteresse pela vida pode ser sinal de depressão.”

Quando o caso mais parece de acomodação, os pais precisam colocar limites. A saída pode ser suprir as necessidades básicas do jovem, como alimentação e moradia, mas não regalias, como passeios e carro próprio.

Ao mesmo tempo, é imprescindível procurar ajuda de profissionais, principalmente aqueles especializados em orientação vocacional.