O primeiro presidente do Egito escolhido em eleições livres, Mohamed Mursi, vai a julgamento amanhã (4), após operações das forças de segurança terem devastado o seu grupo, a Irmandade Muçulmana, e levantado o temor de que o atual governo, apoiado pelos militares, estaria reeditando o Estado autoritário.

Com a revolta popular que derrubou Hosni Mubarak em 2011, a esperança era que o egípcios acabariam com a influência dos militares junto ao governo.

No entanto, os percalços da transição no país mais populoso do mundo árabe trouxeram os generais de volta ao poder, para a surpresa dos aliados ocidentais do Egito.

Mursi, derrubado pelo Exército em 3 de julho, após protestos de rua contra o seu governo, deve comparecer ao tribunal com 14 outras lideranças da Irmandade Muçulmana, sob a acusação de incitar a violência.

Eles podem ser condenados à prisão perpétua ou à pena de morte se considerados culpados, o que aumentaria ainda mais a tensão entre os integrantes da Irmandade e o governo, e aprofundaria a instabilidade política que tem prejudicado o turismo e o investimento num país onde um quarto das pessoas está abaixo da linha de pobreza.

Quando os militares derrubaram Mursi, foi prometido um plano para conduzir o país a novas eleições livres.

Contudo, o que se viu foi um dos mais duros esquemas de repressão já montados contra a Irmandade, que agora luta para sobreviver.

Em agosto, a polícia de choque, com apoio de atiradores do Exército, acabou com os protestos de rua que exigiam o retorno de Mursi.

Autoridades acusam a Irmandade de estimular a violência e o terrorismo.

Centenas de integrantes do movimento foram mortos, e muitos dos seus líderes, presos.

A Irmandade nega ligações com atividades violentas.

O local em que Mursi está preso não foi revelado. O julgamento deve acontecer num instituto policial perto de uma prisão no Cairo.

As acusações de incitar a violência estão relacionadas com a morte de dezenas de pessoas em confrontos do lado de fora do palácio presidencial em dezembro, depois que Mursi irritou os adversários com um decreto que aumentava os seus poderes.