Um comentário do leitor Daniel Ferrari chamou a atenção para um fato que passou despercebido na reportagem sobre o contrato da Demop com o Dnit-MS.
A Demop, de Votuporanga, interior paulista, que pertence à família Scamatti, foi a causa da Operação Fratelli, da Policia Federal e do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), que apuram desvios da ordem de R$ 1 bilhão dos cofres públicos da União, com base em emendas parlamentares.
Na matéria anterior, o contrato citado tem o valor de R$ 11 milhões para obras de conservação da BR-158, num trecho de 78 km. O leitor comentou: “Errado, verifique no Dnit. A obra de restauração na BR-158 é mais de R$ 100 milhões”.
Na verdade, nem o leitor, nem a reportagem estavam errados: a Demop, em consórcio com a Transenge, empresa com sede em Campo Grande, tem duas obras seguidas na BR-158, com valores somados de mais R$ 111 milhões.
A primeira, dos R$ 11 milhões, foi obtida em licitação vencida em 27 de setembro de 2012. A segunda licitação que a Demop ganhou, no valor de R$ 102 milhões, ocorreu em 06 de dezembro do mesmo ano, e percorre o trecho do km 0,0 (Três Lagoas) ao km 271, em direção à divisa com Goiás. Uma obra é sequencial à outra.
Não há nada que impeça a concentração de obra num mesmo consórcio, a não ser o fato de que a legislação prega a pluralidade de contratados de obras públicos para evitar manipulações ilegais.
Máfia do Asfalto
A pedido do Ministério Público Federal de São Paulo, a Justiça Federal acatou denúncia contra os proprietários da Demop, e decretou a prisão de 19 pessoas integrantes daquilo que o MPF chama de “Máfia do Asfalto”.
Até o momento, quatro integrantes do esquema bilionário estão presos, e entre eles, Olívio Scamatti, que reponde pela direção da Demop. Os outros 13 são considerados foragidos.
O esquema investigado é tão grande que os dois maiores líderes políticos do país foram citados nas investigações.
Em São Paulo, a Operação Fratelli revelou estreita ligação entre Edson Aparecido, chefe da Casa Civil do governo Geraldo Alckmin (PSDB), e Olívio Scamatti, preso na última terça-feira sob suspeita de chefiar o esquema.
Aparecido foi flagrado em conversas telefônicas com o empreiteiro em 2010,e chegou a receber doação de R$ 91 mil da Demop para sua campanha eleitoral de deputado pelo PSDB.
Além desse fato, o assessor Osvaldo Ferreira Filho, que trabalhou com Aparecido por oito anos na região de São José do Rio Preto (SP), na Assembleia Legislativa e Câmara dos Deputados, em Brasília, figurava entre os principais presos do inicio da ‘Fratelli’.
O deputado Arlindo Chinaglia, líder do governo federal na Câmara dos Deputados, também teve o nome citado por conta da relação dos Scamatti com alguns de seus assessores e cabos eleitorais. Em sua defesa, Chinaglia solicitou investigações diretas da Procuradoria Geral da República e da Polícia Federal sobre o suposto envolvimento de assessores com “Máfia do Asfalto”.
Grupo tem empresas na região de Três Lagoas
Além das licitações milionárias vencidas pelo Demop com a sua consorciada Transenge, o Grupo Scamatti estava instalando no município de Três Lagoas a empresa de concretagem Noromix. Com a Operação Fratelli e a decretação da prisão preventiva dos integrantes da família, não se sabe o rumo do empreendimento.
O mesmo Grupo Scamatti é proprietário da MGL Paranaíba – Mineração Grande Lagos, que possui jazidas de brita com capacidade para abranger toda a extensão da BR-158, de Selvíria a Chapadão do Sul.