O presidente da CPI informou que caso as contradições não sejam explicadas, a comissão vai colocar os dois frente a frente para descobrir quem está falando a verdade.

As contradições entre os depoimentos do presidente da Santa Casa, Wilson Teslenco e a Secretária Estadual, Beatriz Dobashi serão alvo de investigação por parte dos deputados estaduais de Mato Grosso do Sul integrantes da CPI da Saúde. Dobashi foi ouvida nesta segunda-feira (17) e negou afirmações feitas por Teslenco em oitiva anterior. O presidente da Comissão, deputado Amarildo Cruz (PT) prometeu apurar e se necessário fazer uma acareação entre os gestores.

Uma das contradições que mais chamou atenção foi que durante oitiva, Teslenco teria dito que quando a ABCG (Associação Beneficente de ) deixou o comando do maior hospital do Estado em 2005 haviam 15 contratos terceirizados e agora em 2013, com a saída da Junta interventora comandada por Estado e Município, esses contratos já somam mais de 100.

Questionada sobre o salto na privatização dos tratamentos de saúde, Dobashi negou dizendo que a informação não procede. “O que fizemos foi reanalisar contratos que já existiam e que a Santa Casa ficava prejudicada. Refizemos alguns deles buscando equilíbrio com os prestadores de serviço”, declarou a Secretária.

Para Amarildo, as contradições precisam ser apuradas com rigor, assim como o levantamento do número exato de contratos que estão nas mãos de empresas privadas.

“Queremos saber se realmente houve esse salto no número de terceirizados e se havia a necessidade dessas contratações. Se for necessário vamos fazer uma acareação entre a Secretária Estadual de Saúde e o Presidente da Santa Casa”, anunciou.

Outras contradições

Outra contradição, que não passou pela CPI é sobre a dívida da Santa Casa. Segundo a ABCG a dívida girava em torno dos R$ 34 milhões em 2005, quando da intervenção. A Justiça alega que concedeu a intervenção porque estado e município se apresentaram como ‘excelentíssimos administradores'.

Entretanto, oito anos depois, o valor mais que quadruplicou e esbarra nos R$ 160 milhões, com déficit mensal de R$ 2,5 milhões, conforme divulgado pela empresa KPMG Auditores Independentes, de Goiás, no Diário Oficial de Campo Grande, no dia 25 de julho de 2012.

Durante a oitiva, Dobashi ‘lavou as mãos' sobre a Santa Casa dizendo que o único hospital de responsabilidade do Estado é o Hospital Regional. “Nós prestamos serviço no Regional, os demais são de contratos ou de responsabilidade dos municípios”, disse a Secretária.

Em 2005 a situação da Santa Casa era tão crítica que não havia dinheiro para pagar médicos, fornecedores e o Pronto Socorro estava de portas fechadas. Em 2013 a situação é bastante semelhante. O PS não tem cardiologistas, a psiquiatria foi fechada, a neurologia clínica não recebe doentes, pacientes da ortopedia ficam dias nas filas esperando por uma cirurgia, transplantes suspensos, ameaça de interdição pela vigilância sanitária e o fechamento corriqueiro do Pronto Socorro.

A auditoria encomendada pela prefeitura, que assumiu o comando da Capital em 2013 identificou 58 irregularidades na Santa Casa além de 86% da receita comprometida com folha de pagamento, na qual foram encontrados salários que chegam a R$ 70 mil.

O prefeito Alcides Bernal (PP), que assumiu a Capital neste ano e está responsável pela saúde, já que é gestão plena do município chegou a solicitar que a Justiça deixasse a população ciente do que aconteceu com o hospital referencia para MS em alta complexidade, mas até agora ninguém identificou os responsáveis.

Apesar da saúde ser gestão plena desde a gestão passada, o ex-secretário declarava de forma recorrente que apenas a secretária estadual, Beatriz Dobashi, tinha autoridade para tratar de qualquer assunto ligado a Santa Casa.

Denúncias

Os deputados disponibilizaram um e-mail para ajudar nos trabalhos de investigação da CPI. As pessoas que queiram denunciar qualquer situação relacionada a irregularidades da saúde e dos hospitais podem encaminhar para o endereço [email protected] .

“Esse e-mail será exclusivamente para receber denúncias de pessoas que possam nos ajudar. Queremos investigar, sem esquecer que o papel principal da CPI é ajudar a melhorar a saúde em MS. Por isso esse e-mail será fundamental no nosso trabalho”, informou Amarildo Cruz

A comissão definiu que as reuniões ordinárias serão realizadas todas as segundas-feiras, a partir das 15h, sempre de portas abertas à população.

A CPI é composta pelos deputados Amarildo Cruz (PT) – presidente, Lauro Davi (PSB) – vice-presidente, Junior Mochi (PMDB) – relator, Mauricio Picarelli (PMDB) – vice-relator e Onevan de Matos (PSDB) – membro.